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Purificação: a "noite dos sentidos"


Cabe aos principiantes combaterem as desordens da concupiscência. Quatro são as pedras de tropeço postas no caminho do principiante que busca a continência.

Em primeiro lugar se lhe opõe o próprio corpo, pelos vícios da gula e da luxúria, que devem ser combatidos com o jejum, a vigília, os exercícios físicos, banho frio, etc.

Em segundo lugar, se lhe opõe a própria alma, mediante a imaginação e os pensamentos lascivos, que devem ser combatidos com o próprio pensamento absorto nos mistérios divinos (meditação e contemplação); a oração - pois o louvor divino freia os impulsos intempestivos da imaginação; jaculatórias; o estudo da Sagrada Escritura; a leitura espiritual; o estudo e a pesquisa visando o bem comum; os bons pensamentos, relacionados sempre que possível à família, ao trabalho, aos amigos; o próprio trabalho para evitar a ociosidade e a preguiça, que são portas de entrada de muitas outras tentações e, também, com a aceitação de alguns sofrimentos, não os que procuramos, mas sobretudo, aqueles que ns chegam sem a nossadeliberação.

Em terceiro lugar, se lhe opõem também as coisas que os rodeiam, muitas delas indignas em si mesmas, as quais se devem combater com a guarda da vista e de todos os demais sentidos, evitando prudentemente seu contato.

Em quarto lugar, as pessoas com quem tratamos, as quais, por seus atos ou comportamento, impedem de modo direto ou indireto o progresso na vida de perfeição, por meio de conversas , atitudes, vestimenta, tentações que devem ser combatidas com a solidão, modéstia, boa conversa, desviando um mau assunto para um bom, etc.

São muitas as fontes interiores e exteriores de que o cristão dispõe para alcançar a santidade do espírito mediante a purificação do corpo. São fontes interiores as graças sacramentais, as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo que atuam intimamente na vida do espírito, sobre o intelecto, vontade e liberdade, fazendo a Trindade Santa habitá-lo, convertendo-o para Deus, aflorando e fazendo crescer a caridade. Os méritos de Cristo conquistados na cruz, meiante o amor do Espírito e a "onipotência suplicante" da Santíssima Virgem Maria, bem como a intercessão dos Santos Anjos e a dos Bem-Aventurados, são fontes eficacíssimas de santidade para o homem. Nem mesmo os santos homens com os quais uma pessoa convive deixam de prestar inestimável auxílio para a sua alma convertida que se aproxima cada vez mais do mistério da salvação. As fontes exteriores, que decorrem da influência das interiores, são também muitas, mas especialmente duas importam para os iniciantes: a leitura e a direção espirituais.

A oração é, sem dúvida, o alimento que nutre e fortaliece o espírito no início da vida interior, porque é efetivamente o começo de uma inimidade do espírito humano, em sua ascensão e aplicação, nas coisas de Deus. A oração é a moção da graça no espírito e a primeira e mais importante expressão do início de uma vida de perfeição. Ela é efetivo sinal da eficácia da graça que, como fonte interior, move a alma em direção ao bem perfeito que é a caridade. Munido de graças, o espírito, em oração humilde e atenta, causa sempre de novo e cada vez mais intensamente a livre conversão do espírito para as coisas divinas e a aversão às coisas contrárias a Deus.

A oração do espírito se estende à oração da carne com a mortificação. Este sacrifício de abrir mão livremente da posse ou uso de algns bens lícitos, em razão de um aperfeiçoamento da vontade, constitui uma verdadeira forma de oração dos sentidos. Esta oração da carne é a que mais adequadamente educa e disciplina o corpo contra o pecado, porque se vale dos mesmos instrumentos do corpo. Mas tanto a oração do espírito quanto a mortificação (que é a oração da carne), que coopera na superação daqueles quatro impedimentos para que o principiante progrida na vida de perfeição, só são possíveis ao homem em razão da presença da luz divina na alma. Sem esta luz, a alma age segundo a lei da concupiscência e se orienta, não pela luz da razão ou da graça, mas pelo brilho natural das coisas exteriores.

FAITANIN, Paulo. O único necessário: a perfeição da vida espiritual segundo Santo Tomás de Aquino. Cadernos da Aquinate, n.4, Niterói: Instituto Aquinate, 2008, p.18-19.
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2 comentários:

  1. eu tenho dois cadernos de lá, n lembro o nome.

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  2. São quatro cadernos, mas eu só tenho um que é o "O único necessário". Mas é muito bom...

    Se bem que, estou lendo o "De Malo" pela sétimo selo, cuja introdução é feita pelo Paulo Faitanin... Não sei se vc conhece o livro..
    Mas tem uma parte desta introdução que eu achei esquisita.. É quando ele trata do inferno...

    Fiquei de mandar a questão pra sétimo selo, mas ainda não o fiz. Conheces a obra?

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