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O silêncio interior visto por uma irmã Carmelita - importância da interioridade e do recolhimento!


Disponibilizo este post sobre o silêncio, escrito há tempos atrás por uma Irmã Carmelita para o extinto blog "Em Defesa de Lefebvre" da queridíssima Teresa (Magdália). É um dos textos mais claros e profundos sobre o tema e que fiz questão de guardar, na época. É com muito gosto que o ponho aqui. Aproveitem.

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«Silêncio não significa apenas exclusão de palavras e não pode ser considerado somente no seu aspecto negativo. Silêncio não é um estado de esquecimento, de vazio, de “nada”; pelo contrário, o silêncio ao qual nos referimos distingue-se pelo seu carácter positivo; é uma linguagem que transborda de uma presença impregnada de vida, de solicitude, de oblação.

O silêncio a que aludimos, “faz falar pouco para ouvir muito”. A necessidade de se derramar em palavras inúteis vai diminuindo progressivamente, porque existe uma vida interior cada vez mais intensa, que se vai impregnando da pura atenção ao OUTRO que é Deus...É o silêncio do egoísmo, das susceptibilidades, das vontades e dos caprichos.

Este silêncio é o comportamento indispensável para ouvir Deus e para acolher a sua comunicação; é a atmosfera VITAL da Oração, da Salmodia e de todo o Culto Divino.

Este silêncio é progressivo, amassado primeiramente em muito domínio, quer da língua, quer da imaginação e da memória. É deixar-se avassalar por uma Presença que não é outra senão Deus e da qual provém o silêncio do coração.

A necessidade e o valor do silêncio da língua – que é o mais elementar - encontram na Sagrada Escritura um precioso testemunho. Jesus, ao calar-se diante de Pilatos, eleva o silêncio a uma virtude heróica. Recorda com os seus ensinamentos a importância do silêncio. Retira-se para lugares desérticos e silenciosos para passar a “noite em oração” (Lc. 6,12).

O silêncio da palavra e das manifestações exigentes (violentas) do egoísmo dá passo ao silêncio interior.

Para vermos melhor a importância do silêncio interior, citaremos apenas alguns Padres da Igreja, a saber:
1-S. Gregório de Nazianzo recorda o “ deserto como fonte de progresso em direcção a Deus, de Vida Divina e chama ao Louvor a filha do Silêncio”.
2-S. Basílio recorda o valor purificador e a vantagem da “solidão silenciosa” para o encontro com Deus
3-S. João Clímaco insere o silêncio na “escala de perfeição” (10º, 11º e 12º)
4- Sto. Ambrósio fala da “taciturnidade como remédio da alma” e compara a “quem fala muito com uma vasilha furada incapaz de conservar os segredos do Rei”
5-Sto. Agostinho fala da “alegria de ouvir silenciosamente”

Na Tradição Monástica, o costume de retirar-se para o deserto a fim de ouvir Deus, praticado pelos primeiros eremitas e monges, já remonta aos tempos de Moisés, Elias e os demais profetas

Tanto na vida eremítica como na vida cenobítica e vidas mistas, o silêncio é um elemento fundamental para se criar um clima de atenção a Deus. Na vida cenobítica, desde os primeiros séculos, o silêncio aparece como preceito de perfeição, moralmente indispensável. Cassiano prescreve observar o silêncio rigoroso durante a noite, à mesa, no Coro e em todo o tempo que se emprega a cantar o Ofício Divino.

No nosso tempo, temos exemplos luminosos de uma atracção particular pelo silêncio: Santa Teresinha do Menino Jesus, Charles de Foucauld, mas principalmente a Beata Isabel da Trindade, chamada também a “Santa do Silêncio”, que sentiu em si a missão de atrair as almas ao silêncio e ao recolhimento interior.

O Silêncio interior

O silêncio interior, como se depreende da palavra que o classifica, é aquele que diz respeito ao nosso mundo interior, íntimo, que pode ser ajudado, só minimamente, pelo silêncio exterior. Apesar daquele não poder, de modo algum depender deste, acontece muitas vezes que se desencadeia o crescimento do silêncio interior a partir do exterior, porque o exterior criou um certo ambiente que propiciou a atracção da alma para o interior. Mas prestemos atenção ao reino interior, que há que pacificar e silenciar:

a)Silêncio da Imaginação e da memória: Enquanto o ser humano tem poder para “implantar” o silêncio nos seus movimentos exteriores, nos ruídos que a sua actividade pode suscitar, aqui, no ‘reino interior,' tem pouco poder. É todo um mundo em que só à força de muita paciência, perseverança e constantes esforços, poderá conseguir alguma coisa. À partida, temos de saber que o verdadeiro silêncio só pode ser outorgado por Deus, e normalmente isto acontece só depois de muitos esforços da nossa parte. É um dom para a Contemplação.

O encontro com Deus exige a exclusão das dissipações da actividade interior, exercendo sobre a mesma um controle efectivo. O homem, em primeiro lugar, tem de criar o ‘vazio’ nas suas ‘potências’ interiores - desocupar a alma de uma forma muito activa, esforçar-se constantemente por dominar – quanto dele possa depender - pensamentos, desejos, que normalmente se vão fixar naquilo que ama ou teme. É o “desocupar o Palácio da alma” de Santa Teresa, de recordações interiores que perturbam a paz, empregando todas as suas forças para entrar no recolhimento activo. Todo este trabalho de ‘silenciamento’ das nossas faculdades ‘sensíveis’ é muito necessário e até imprescindível para que o homem se encontre nas condições mínimas da verdadeira escuta.

b)Silêncio com as criaturas e Silêncio do coração: Este silêncio é um dos mais necessários àquele que procura “ver” Deus, possuir o coração puro requerido para a pura contemplação. É também chamado o silêncio do amor vigilante, que consiste em reagir, vigorosa e energicamente, contra todo o afecto puramente natural que se manifesta em pensamentos, conversas “interiores”, desejos demasiado ardentes, porque demasiado sensíveis, ‘à flor da pele’, como se costuma dizer, para se dirigir, com um movimento de fé e amor, a Deus. O homem deve vigiar o desejo de satisfações contrárias à Vontade de Deus : prazeres, gostos, preferências, simpatias absorventes, etc.; tudo aquilo que dificulta a adesão total ao Senhor É necessário fazer calar; calar estes desejos que dividem o coração humano através do exercício do ‘amor virginal’, desinteressado e disposto a renunciar a esses ‘objectos amados’, desejados, sacrificando as próprias exigências egoístas pelo bem alheio, através do dom generoso de si mesmo.

Ao nível sobrenatural, há que mortificar a devoção demasiado ardente, sensível; simplificar a sua relação com Deus (não multiplicar as orações, as penitências) e aceitar em paz as purificações que se manifestam de mil e uma maneiras no dia-a-dia, e tudo aquilo que, na Providência de Deus, Ele permite para nos livrar cada vez mais dos nossos apegos e maus hábitos a fim de estarmos livres para o Amor.

c) Silêncio do espírito e do juízo: A vida contemplativa do homem, quando chega a um certo nível de perfeição, pode resumir-se num só acto: abrir-se e escutar Deus, para receber a irradiação da Sua Luz, que só será possível se a inteligência permanecer livre e vazia de raciocínios, “razões” e juízos naturais, de investigações intelectuais e de intenções alheias a Deus . Este silêncio de que nos fala S. João da Cruz na Noite do Espírito significa o despojamento total do intelecto, é o "nescivi" (nada sei) de S. Paulo e o “apagar qualquer outra luz” de Isabel da Trindade.

Antes que Deus intervenha poderosamente com as suas purificações, o homem tem que fazer todo o possível por se purificar activamente; só assim é que ELE poderá agir, numa alma que se dispôs com o seu próprio trabalho.

O Silêncio Divino

Este silêncio é o silêncio mais precioso que o homem pode alcançar. Brota de uma vontade já totalmente decidida de se estar sempre unido a Deus, na mais completa abnegação pessoal. É um dom oferecido pelo próprio Deus a todo aquele que se deixou trabalhar pelo seu FOGO (grandes ou pequenas purificações; aquelas descritas por João da Cruz ou aquelas de que o Santo não fala; tudo o que faz parte da nossa vida pode transformar-se em momento privilegiado de purificação = santificação).

O grande teólogo P. Lacordaire Lagrange, deixou escrito que este silêncio representa o supremo esforço da alma que sai de si mesma, sem saber nem poder já expressar-se. A pessoa, para atingir este nível que lhe é oferecido por Deus, deverá antes ter-se abeirado do último e supremo esforço humano na colaboração com o trabalho de Deus; só depois é que as ‘núpcias espirituais’ acontecem.

Este silêncio não deve ser um silêncio qualquer, mas um silêncio amoroso, porque relacionado directamente com a Pessoa Divina.

Quando a intimidade divina é profunda, o silêncio distingue-se pela sua “pureza”, onde os ídolos e os desejos alheios a Deus começam a estar ausentes. O silêncio do coração torna-se em ‘puro desejo de Deus’, ' saudades de Deus ', reflexo de um coração não dividido. O silêncio que se vai alastrando a todo o ser da pessoa, é o próprio Deus que avança na posse da alma.

Assim, o silêncio interior é como o nosso ‘oxigénio’, é imprescindível à nossa vocação esponsal, vocação de pura união com Deus.

Fonte: Em Defesa de Lefebvre - Tradição Católica
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