Ontem eu tive a graça de conhecer um grupo de uns doze canadenses - dentre eles um padre - que passou por aqui com o propósito de ir à JMJ. Estavam na Santa Missa conosco e depois, num modesto 'comes e bebes', assistiram algumas apresentações culturais e cantaram para nós as músicas "How great thou art" e "Hail Holy Queen". Pessoas muito agradáveis.
A noite passou rápida. Conversar com nativos é fantástico. Quase um brinquedo. Sim, podem me chamar de matuto, rs.. Para mim, foi como se fosse uma prévia muitíssimo longínqua da JMJ. Foi como um sentir ligeiramente o perfume da Jornada. Mas a coisa passou e voltamos às nossas casas. E daí começou um certo drama interior.. Assim como no mito de Parsifal, quando o Rei experimenta o sabor de um peixe e desde então fica ferido pela queimadura, aquele sabor apenas insinuado da JMJ me pôs inquieto. Acompanhem os meus questionamentos:
- A Jornada Mundial da Juventude, esse ano, acontece no Brasil. Quando ocorrerá aqui de novo? Ninguém sabe se ou quando isso se dará.
- Pessoas de outros países vêm para o Brasil, para a Jornada.
- E eu, que sou daqui, não vou. Pelo amor de Deus, isso tem alguma lógica?
E então dei início à minha apelação: será que ninguém ajudaria um pobretão a ir pra JMJ? Olha que quando chegar o fim do mundo, Nosso Senhor vos dirá: "Eu quis ir à JMJ no Brasil e vós não me ajudastes!" (!!) Que terrível..
Enfim.. Só sei que, depois de um tempo de choramingo, uma alma caridosa me apareceu com a possibilidade de me bancar as passagens. Calma que é só possibilidade, rs. Mas, vejam só a diferença: o que antes era apenas o esperneio de um grilo tentando voar mas sabendo que o céu não lhe pertence, agora parecia ser só uma questão de aceitar asas e arriscar-se às dificuldades do primeiro vôo. "Vôo" aqui pode ser entendido literalmente.. rs
Com isto surgem outras dificuldades: eu sou muito sensível ao frio e não tenho colchonetes ou sacos de dormir. Costumava adoecer fácil por aqui, que o clima é ameno. Acabei de saber que no Rio virá uma frente fria das maiores dos últimos dez anos! Sim, eu estou me informando de tudo.. Depois, é uma semana meio que decisiva na faculdade. Ir talvez signifique perder provas, trabalhos, o que pode me custar os seis meses de estudo. Bem.. Continuemos.
Outro ponto é que o meu senso de direção é mais caótico do que o do Zoro, do One Piece. Me perco fácil. E seria a primeira vez em que eu pisaria no Rio. Mas isso se resolve fácil. Se eu achei quem estivesse disposto a me ajudar com as passagens, não creio que seja difícil encontrar quem me busque no aeroporto e caminhe comigo pelas ruas sem soltar a minha mão mesmo que caiam meteoros ou apareçam dinossauros.
"Como diabos alguém pode se perder num caminho reto? Nem você pode ter um senso de direção tão ruim!" |
Enfim.. Pensando nas dificuldades que pus, talvez elas não sejam muito grandes. E a oportunidade é única. Também nunca voei, mas seria baitolagem recuar por causa disso. Na verdade, a idéia nem me assusta. A hesitação se dá mais pelo que já ouvi das sensações da primeira experiência.
Agora, vamos aos benefícios:
Eu vou ver o Papa! Ehhhhh!!!
A experiência de estar com tanta gente católica é uma coisa maravilhosa! Nós, que vivemos exilados, quando nos encontramos em tão grande quantidade, nos sentimos como que numa prévia do céu. Seria imenso fazer parte disso tudo.
É possível também que eu venha a me encontrar com o superior geral do Opus Dei, Don Javier Echevarría, amigo pessoal de São José Maria Escrivá.
Sem falar no tanto de amigos virtuais que poderei conhecer pessoalmente, se eu for! Enfim...
Falemos agora sobre algumas das críticas que se têm levantado contra a JMJ. Tudo o que porei aqui são posições minhas, tão somente.
Primeiramente, sobre a presença de artistas seculares, como o Luan Santana, a Fafá de Belém, etc. Eu sou um dos que discordam do deliberado, mas não caio nos extremos de pensar que somente isto seria suficiente para "estragar" a Jornada. O tanto de artistas legitimamente católicos que haverá lá é imenso! Depois, há duas posições que eu considero ingênuas: a primeira, é a de sacralizar tudo e qualquer coisa que os dirigentes façam. É óbvio que isso é um non sense. Por mais que seja um evento católico, os responsáveis são humanos e muitas vezes movidos por um suposto bom senso humano, isto é, passível de erros. O outro erro que eu vejo, não obstante pareça diferir abismalmente do anterior, é a extrema fé no critério pessoal, como se a Jornada tivesse de ser uma concretização daquilo que nós supomos que ela deva ser. É, de novo, uma sacralização da opinião individual. Divinizamos certos recortes que nós mesmos fazemos e aplicamos aquilo à totalidade como se fosse o próprio juízo divino. É exatamente o que Lutero fez. Por mais que se diga estar, aí, ancorado na Tradição Católica e não sei quê, a verdade é que costuma-se focar apenas em certos aspectos desta tradição como meio de reforçar a crítica à JMJ em si.
Então, saibamos o seguinte: a JMJ, sendo um movimento da Igreja, transcende meras organizações e decisões humanas. Não identifiquemos o evento com o complexo de deliberações. Isto significa que, por mais que uma coisa ou outra não se dêem da melhor forma - como essa idéia de jerico -, existe uma substância espiritual que nem por isso se ausentará do evento.
Mas há, ainda, um terceiro tipo de ingenuidade e que, a meu ver, parece só poder ser adotado por quem já possui qualquer espécie de antipatia a priori pelo evento: é o argumento de que nem todo mundo que vai pra Jornada vai pra rezar e estar em comunhão com a Igreja. Mas isto é óbvio! Pensou-se o quê? Que a Jornada seria um modo de prévia imaculada do céu? É óbvio que haverá imprudências, non senses, intenções torcidas, etc, etc.. Ainda estamos vivendo neste vale de lágrimas e a concupiscência ainda corre nas veias dos homens. Mas acredito que a JMJ será como um oásis. Também é verdade que será uma oportunidade de mostrar a este mundo secularizado a força do catolicismo e propôr, mais uma vez, a conversão das almas.
Enfim.. Tenho até de noite pra decidir. Que o bom Deus me ajude e que a Virgem Maria me conduza nisso tudo. Rezem por mim.
À boa alma que me doou o dinheiro das passagens, não tenho nem o que dizer.. Deus a recompensará.
Fábio Silvério
Fábio, vc deve está brincando?! Rapaz, boa viagem! No início não queria ir, se me fosse possível, mas vejo o quanto o evento é importante para nossas almas. Se eu tivesse ,e organizado, quem sabe eu poderia ter ido... Rezarei por vc, mas lembre-se de mim por lá quando ver o Papa. Forte abraço!
ResponderExcluirMagna.
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