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O Sacramento da Confissão: Sempre existiu? É invenção dos padres?


A Confissão sempre existiu

Em todos os tempos foi preciso, para conseguir o perdão, confessar os pecados. Adão, o primeiro pecador, só foi perdoado depois de ter confessado oralmente, com humildade e arrependimento, aos pés do Filho de Deus - que lhe aparecia revestido de forma humana no paraíso terrestre - a grande falta que acabava de cometer. "Comi do fruto proibido", disse ele; eis a confissão. Eva também se confessa, antes de ser absolvida: "Eu também comi".

Caim não quis se confessar: "Que fizeste de teu irmão?; pergunta-lhe o Senhor, de novo revestido daquela aparência humana, que um dia deveria assumir em realidade. "Meu pecado é grande demais para que Deus me perdoe", responde o miserável. Por isso foi amaldiçoado: escondeu-se da face do Senhor, errante sobre a terra, como um réprobo.

Entre os judeus, na lei antiga, era preciso confessar aos sacerdotes, como nós o fazemos hoje: confessar-se oralmente e com detalhes, antes de oferecer o sacrifício e obter a remissão dos pecados. Há vários registros dessa obrigação nos livros sagrados de Moisés (por exemplo em Nm 5,7 e Lv 4). A confissão foi sempre um sinal distintivo da verdadeira religião.

Nosso Senhor Jesus Cristo deu à confissão a dignidade de um sacramento, e a estabeleceu na Igreja como inesgotável fonte de salvação e consolação, refúgio dos pobres pecadores e auxílio da fraqueza humana. Ele mesmo confessou e absolveu muitos pecadores, entre os quais a mulher adúltera, que esteve a sós com ele no templo: eis aí a doente com o médico, a grande miséria com a grande misericórdia; arrependida, ela declarou sua falta; por isso, disse-lhe Jesus: Vai em paz, teus pecados te são perdoados.

Seus apóstolos, os primeiros padres, foram também os primeiros confessores. Vemos São Paulo e seus companheiros, em uma de suas missões em Éfeso, tocarem tão vivamente o coração dos fiéis, que "muitos vinham confessar e declarar as suas obras." (Cfr. At 19,18)

Nas catacumbas de Roma e nos monumentos dos primeiros séculos cristãos encontram-se vestígios tão numerosos e tão claros da confissão, que até mesmo o historiador protestante Edward Gibbon, malgrado o ódio contra a religião, reconhece que "o homem instruído não pode resistir ao peso da evidência histórica que confirma a confissão como um dos principais pontos da doutrina papista (isto é, católica) em todo o período dos quatro primeiros séculos. Ele só menciona os quatro primeiros séculos porque, a partir do século V, já ninguém tem dúvidas quanto a isso.

Esse reconhecimento tão claro, vindo de um inimigo ferrenho da Igreja, dispensa mais provas. Contudo, trazemos para consolação do leitor quatro ou cinco testemunhos, escolhidos ao acaso entre muitos outros, que demonstram que os primeiros cristãos se confessavam como nós.

No século I, o Papa São Clemente, batizado e sagrado por São Pedro em pessoa, ensinava a seguinte regra: "Quem cuida da própria alma não se envergonha de confessar ao padre os sentimentos de inveja e outras faltas que penetraram secretamente no coração, a fim de que receba do sacerdote a cura pela palavra de Deus (é assim que ele chama a absolvição) e pelos conselhos salutares. (Epístola a São Tiago) Também no século I, enquanto São Paulo ainda era vivo, São Dionísio... discípulo do grande Apóstolo, que o ordenou primeiro Bispo de Atenas -, repreendia com veemência um cristão chamado Demófilo, que havia maltratado um pobre pecador, o qual se jogara aos pés de um padre para confessar os pecados: "O pobre homem, diz ele, implorava e dizia que viera procurar um remédio para seus males; e tu não só o repeliste, mas menosprezaste o bom padre que tivera compaixão daquele penitente." (Epístola VIII a Demófilo)

Entre os autores cristãos dos séculos II e III, o célebre Orígenes, cuja ciência era estimada em todo o mundo, fala com clareza e insistência sobre a confissão: "Se nos arrependermos de nossos pecados e os confessarmos não só a Deus, mas a quem pode remediá-los, os pecados nos serão perdoados." Diz ele também: "Quando o pecador acusa a si mesmo e se confessa, ele vomita o pecado e extirpa a causa do problema. No entanto, quando quereis confessar-vos, fazei de maneira que o médico a quem vós declarais o motivo de vossa enfermidade possa compadecer-se de vossas dores e compreender o estado de vossa alma, para que seja para vós um médico hábil e compassivo, e que vos dê conselhos sábios." (Hom. sobre o Salmo 37)

Tertuliano, que viveu na mesma época, é tão claro quanto Orígenes; diz ele: "Há pessoas que evitam o penoso trabalho da confissão, ou adiam-na dia após dia, porque fazem mais caso da honra que da salvação. Elas se assemelham aos que, tendo contraído uma vergonhosa doença, escondem o mal do médico e morrem vítimas desse trágico pudor. É melhor condenar-se escondendo o pecado do que se purificar declarando-o?" (Da Penitência) Acrescenta ainda: "Devemos nos humilhar e ajoelhar aos pés dos padres." (Ibid.)

São Cipriano, Bispo de Cartago martirizado no século III, escreve sobre os fiéis "que vêm se confessar aos padres de Deus, com arrependimento e humildade, abrindo o segredo de suas consciências, livrando as almas do peso dos pecados e buscando o remédio da salvação." (Tratado sobre os apóstatas) Por meio do relato de dois célebres historiadores da Igreja do Oriente, sabemos que foi também no século III que se instituíram os padres penitenciários em toda a Igreja, "com o intuito de que todos os pecadores se confessem a eles minuciosamente." (Socrate e Sozomène, Histoire ecclésiastique, liv. V e VIII) "Para obter o perdão, diz um deles, é indispensável confessar os pecados."

No século IV, São Basílio Magno, Bispo de Cesaréia, na Ásia Menor, declarava que "é preciso confessar-se a quem pode distribuir os mistérios de Deus, isto é, aos padres." (Abrégé des régles, quest. 288) São Gregório, Bispo de Nissa: "Precisamos revelar sem medo aos confessores, nossos médicos espirituais, os segredos mais ocultos da nossa consciência." (Epístola canônica a Létoius) Santo Ambrósio, Bispo de Milão, na Itália: "A penitência que fazemos pelos pecados, mesmo os secretários, é infrutífera se não vier acompanhada da reconciliação e da absolvição, que dependem do ministério dos padres. (Tratado da Penitência, liv. I) E o diácono Paulino, que escreveu a vida de Ambrósio, relata que "quando um penitente se apresentava a Ambrósio para confessar-se, o santo bispo chorava tanto que levava o pecador a chorar com ele."

Santo Agostinho, discípulo de Santo Ambrósio e Bispo de Hipona, na África, fala amiúde da confissão em seus numerosos escritos. Ele responde, entre outras, a uma vil objeção, revivida mais tarde pelos protestantes e incrédulos: "Que ninguém diga a si mesmo: faço penitência por minha conta, faço penitência diante de Deus; Deus, que sabe disso, me perdoa... O quê! Porventura foi em vão que Ele declarou aos padres: Tudo o que desligares na terra será desligado nos céus? Porventura foi em vão que Ele deu as chaves à Igreja? Não tendes estima pelo Evangelho, desprezais as palavras de Cristo e prometeis a vós mesmos o que Ele vos recusa." (Sermão 392)

Enfim, poderíamos citar indefinidamente frases como essa, mas, para terminar, lembremo-nos do belo testemunho do grande Arcebispo de Constantinopla, São João Crisóstomo: "Os homens receberam de Deus um poder que não se concedeu aos anjos nem aos arcanjos. Jamais afirmou Ele aos espíritos celestes: Tudo o que ligares e desligares na terra será ligado e desligado nos céus... Os príncipes deste mundo só podem ligar e desligar os corpos; o poder dos padres vai muitíssimo além: esse poder alcança a alma, e os padres o exercem não somente ao batizar, mas também ao perdoar os pecados. Não nos envergonhemos portanto de lhes confessar nossas faltas. Quem se envergonha de contar os pecados a um homem e não quer confessar, será coberto de humilhação no dia do Juízo, na presença do universo inteiro." (Tratado do sacerdício, liv. III)

Pergunto aos senhores: não é isso o que os padres pregam e ensinam até os dias de hoje? O ensinamento da Igreja nunca mudou neste ponto, assim como não mudou nos demais. Para o homem de boa fé é evidente que os homens sempre se confessaram, e que a confissão sempre foi considerada uma instituição divina e uma necessidade absoluta.

A confissão é uma invenção dos padres?

É óbvio que não, pois é uma invenção de Deus. Se você é o inventor de uma máquina, fica evidente que quem a inventou não fui eu. Ora, a patente de invenção da confissão está registrada com todas as letras no Evangelho. (cfr. Jo 20,23)

Se a confissão fosse invenção de um padre, em primeiro lugar não encontraríamos traços dela no tempo dos apóstolos e dos mártires, de cuja honestidade ninguém duvida; ademais, encontrar-se-iam os vestígios de uma tal inovação ao longo da história. Uma invenção que afetasse todos os cristãos do mundo não chamaria de maneira notável a atenção pública? Não surgiriam reclamações de todas as partes? Conhecemos a época exata da invenção de todos os progressos industriais, de todas as instituições civis e políticas, entre outras; conhecemos os nomes dos autores e dos inventores do jogo de cartas, do bingo, da polca, do isqueiro e das descobertas mais insignificantes: por que só a origem da confissão escaparia a essa lei universal!? Isso é impossível, é absurdo! Os protestantes tentaram algumas vezes indicar a origem dela, mas se cobriram de ridículo perante a ciência; ainda há pouco ouvimos um correligionário deles, o célebre historiador Edward Gibbon, confessar sem rodeios que a confissão remonta até o berço do cristianismo.

Você acredita que o padre se diverte com a confissão? É realmente uma bela invenção esse ministério, penoso e laborioso, que lhe desgasta a saúde, fatiga o espírito, cria mil desgostos e temores, encarrega-o de imensa responsabilidade e atrai até ele os coléricos, os rancorosos e todos os patifes! Quantas pessoas amariam os padres, se eles não as confessassem!

Além disso, se os padres tivessem inventado a confissão, não é evidente que teriam começado por se excluírem da obrigação de confessar-se? Saiba que a confissão é tão penosa para eles quanto para você, pois eles são homens iguais a você e conservam sob a sublime dignidade sacerdotal não só as falhas humanas, mas também o amor-próprio, que recusa sempre humilhar-se. Quem inventou a confissão inventou os padres, transmite-lhes os poderes divinos e, pelo ministério sacerdotal, salva os homens, ao perdoar os pecados. Olhe o crucifixo: aí está o único inventor da confissão!

Monsenhor de Ségur. A Confissão. Rio de Janeiro: Castela, 2013. p.18-27.
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