Mais uma vez, como sempre, a mídia instrumentaliza a fala do Papa para sugerir "inovações", "mudanças morais", uma igreja "mais inclusiva", e várias outras idéias que unem a falsidade com o potencial sensacionalista. Vamos ver o que o Papa falou de verdade? Comentamos depois:
"Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto semelhante comporta. Muitos outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento genuíno com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença."
Fonte: Vaticano
Voltamos. Como vê quem sabe ler, não há aí nenhuma espécie de relativização do pecado nefando do aborto. Ele costuma sendo o que é: assassinato de infantes. E continua gerando o que gera: excomunhão automática. Quando uma mulher comete aborto - e com ela todos quantos a apoiaram, induziram, ajudaram, etc. - ela é imediatamente excluída da Igreja, isto é, deixa de ser católica, ainda que ninguém o saiba! A pertença à Igreja não se resume a ter um lugar num dos bancos do templo, ou a poder assistir missas. É antes de tudo uma comunhão espiritual que dá acesso aos sacramentos através dos quais a pessoa participa da vida divina.
Pois bem. Antes, quando uma dessas excomungadas, tendo tomado consciência da burrada que fez, e, cheia de arrependimento, decidia voltar à Igreja, o que ela precisava fazer? Ela tinha de recorrer ao bispo ou a algum padre especialmente delegado por ele. Então ela se confessava e, desde que tivesse as devidas disposições, recebia a absolvição e voltava a fazer parte da Igreja, mas não sem portar ainda as grandes penas decorrentes do ato.
O que mudou agora com o pronunciamento do Papa Francisco para o ano da misericórdia? Somente que não será mais necessário recorrer diretamente ao bispo, sendo suficiente que a pessoa se confesse com qualquer sacerdote legitimamente ordenado. Mas continuam valendo as precondições anteriores: as retas disposições que incluem o arrependimento sincero - efeito da compreensão do pecado -, a detestação do ato cometido e o firme propósito de não mais praticá-lo. Além disso, esta possibilidade existe apenas durante o ano da Misericórdia.
É verdade de Fé que qualquer pecado, por mais grave que seja, tem perdão se a pessoa verdadeiramente se arrepende. Isto não é exceção sequer para o aborto, e nem mesmo para o sacrilégio. Portanto, não há tanta novidade assim no pronunciamento do Papa. Ele apenas facilitou um pouco o acesso às pessoas arrependidas. Mas aqueloutras que queiram gozar do perdão da Igreja sem um verdadeiro arrependimento, ou, ainda, qualquer uma que se aproveite deste ato de misericórdia da Igreja para cometer este crime que clama aos céus, pretendendo facilmente confessar-se depois, estará cavando sob si mesma o próprio buraco para o inferno, pois une um crime abominável com o pesadíssimo ato do sacrilégio. Portanto, que a misericórdia de Deus não seja pretexto para mais infanticídios. E, de outro lado, que as pessoas que chegaram um dia a cometer este ato absurdo sejam de fato tocados pelas graças atuais de Deus e, verdadeiramente arrependidas, voltem ao seio da Santa Igreja.
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