“E como poderei viver, caro padre, sem me aproximar para receber Jesus, mesmo uma única manhã?”
“Mas o que mais me fere, padre, é pensar em Jesus Sacramentado. O coração se sente como que atraído por uma força superior, antes de unir-se a ele de manhã, no sacramento. Sinto tal fome e sede antes de recebê-lo, que pouco me falta para morrer de ansiedade. E precisamente porque não posso deixar de unir-me a ele, às vezes com febre sou obrigado a ir-me alimentar da sua carne.
E essa fome e essa sedev em vez de se satisfazerem, depois de eu o ter recebido no sacramento, aumentam ainda mais. Depois, quando já possuo esse sumo Bem, então sim o auge da doçura é realmente grande, e pouco falta para dizer a Jesus: basta! Quase não aguento mesmo mais! Quase esqueço que estou no mundo. A mente e o coração não desejam mais nada e às vezes, por muito tempo, mesmo voluntariamente, acontece-me de não desejar outras coisas.”
“Tenho perguntado às vezes se existem almas que não sentem queimar o peito com o fogo divino, especialmente quando se encontram diante dele no sacramento. A mim isso parece impossível, sobretudo no caso de um sacerdote, de um religioso. Talvez estas almas, que dizem não sentir esse fogo, não o notem por causa do seu coração maior. Só com esta benigna interpretação me associo a eles, para não tachá-los com a nota vergonhosa de mentirosos.”
“Teria muitas coisas para lhe dizer, mas a palavra me falta. Digo apenas que as batidas do coração, quando me encontro com Jesus sacramentado, são muito fortes. Às vezes parece que quer mesmo lançar-se do peito”.
“Fico profundamente comovido ao considerar as grandes coisas que o Senhor tem operado naquela alma grandemente privilegiada. Os perigos que rodeiam aquele tesouro de graças e de pureza evangélica são muitos, infelizmente! Portanto, o meio melhor e único para se conserver fiel a Deus, para ela, que está quase sempre em contato com gente sem fé e sem lei, sempre com blasfêmias nos lábios, e no coração o ódio para com Deus, é aproximar-se diariamente da mesa dos anjos, para receber Jesus.”
“O que seria dos homens se não tivessem Jesus entre eles?, mas, especialmente, o que seria de mim?!”
“Ouça, caro padre, os justos lamentos de nosso dulcíssimo Jesus: deixam-me sozinho de noite, sozinho de dia nas Igrejas. Não cuidam mais do sacramento do altar. Nunca se fala desse sacramento de amor, e mesmo os que falam, infelizmente, com que indiferença, com que frieza!”
“O meu coração, diz Jesus, está esquecido. Já ninguém se preocupa com o meu amor. Estou sempre triste. Minha casa tornou-se, para muitos, um teatro de divertimentos. Mesmo os meus ministros, que sempre considerei com predileção, que amei como a pupila dos meus olhos, deveriam consolar o meu Coração cheio de amargura, deveriam ajudar-me na redenção das almas. Em vez disso, quem o acreditaria?, devo receber deles ingratidão e falta de reconhecimento. Vejo, meu filho, muitos desses que… (aí se calou, os soluços lhe apertaram a garganta, chorou em segredo), sob aparências hipócritas, me traem com comunhões sacrílegas, esmagando as luzes e as forças que continuamente lhes dou...”. Jesus continuou ainda a lamentar-se. Padre, como me faz mal ver Jesus chorar! Também o senhor passou por isso?”
Sexta-feira de manhã (28-03-1913) eu ainda estava na cama quando me apareceu Jesus, totalmente maltratado e desfigurado. Mostrou-me um grande número de sacerdotes regulares e seculares, entre os quais diversos dignitários eclesiásticos. Destes, alguns estavam celebrando, outros se paramentando e outros ainda retirando as sagradas vestes.
Ver Jesus angustiado causava-me grande sofrimento, por isso quis perguntar-lhe por que sofria tanto. Não obtive nenhuma resposta. Porém, o seu olhar voltou-se para aqueles sacerdotes. Mas pouco depois, quase horrorizado e como se estivesse cansado de observar, desviou o olhar e, quando o ergueu para mim, com grande temor verifiquei que duas lágrimas lhe sulcabam as faces. Afastou-se daquela turba de sacerdotes, tendo no rosto uma expressão de profundo pesar, gritando: Carniceiros!
E voltado para mim disse: “Meu filho, não creias que a minha agonia tenha sido de três horas, não. Por causa das almas por mim mais beneficiadas, estarei em agonia até o fim do mundo. Durante o tempo da minha agonia, meu filho, não convém dormir. Minha alma vai à procura de algumas gotas de piedade humana. Mas ai de mim! Deixam-me sozinho sob o peso da indiferença. A ingratidão e os meus ministros tornam opressiva minha agonia.
Ai de mim! Como correspondem mal ao meu amor! O que mais me aflige é que, à sua indiferença, esses homens acrescentam o desprezo, a incredulidade. Quantas vezes eu estive a ponto de fulminá-los, se não tivesse sido detido pelos anjos e pelas almas enamoradas de mim... Escreve ao teu padre narrando o que viste e ouviste de mim esta manhã. Diz a ele que mostra a tua carta ao padre provincial...”
Jesus ainda continuou, mas o que disse não poderei revelar a criatura alguma deste mundo. Essa aparição me causou tal dor no corpo, porém ainda mais na alma, que durante o dia todo fiquei prostrado e acreditaria estar morrendo, se o dulcíssimo Jesus já não me tivesse revelado...”
S. Pe. Pio, Palavras de Luz
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.