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Caos Litúrgico, Alguns Pressupostos e Frutos.


Como se sabe - e não há coisa mais fácil de provar irrefutavelmente do que isso - vivemos num caos litúrgico. Depois do último Concílio, o do Vaticano II, é fato que a coisa desandou. Não que antes gozasse de perfeição, mas os desmandos que se seguiram raiam ao absurdo. Haverá quem diga que o problema está no modo como se leu o Concílio; haverá, também, quem afirme ser o próprio Concílio o problema. Se formos algo além de "torcedores" que optam por uma das posições segundo lhe pareça mais simpática, devemos reconhecer que isto é algo realmente delicado e cuja discussão requer, sim, bastante preparo, tanto filosófico e teológico quanto histórico.

Deixemos, pois, a natureza do Concílio um pouco de lado aqui. Observemos, ao invés, os inúmeros problemas litúrgicos a que somos obrigados a assistir diariamente. Por que eles se mantêm? O que pressupõem? Quais os efeitos que geram?

Primeiramente, notemos que um dos grandes fatores que favorecem a perseverança no erro é a ausência de uma reta formação. Este fator, porém, não é o único, pois muitos dos responsáveis diretos desta bagunça litúrgica são sujeitos dos quais se pode presumir conheçam bem as regras e os preceitos litúrgicos. Contudo, a falta de uma formação mais profunda, também por parte dos leigos, favorece imensamente que os erros tomem lugar. Este problema - o de uma formação insuficiente - pode ser visto como produto da carência dos meios para se obter uma compreensão mais exata do assunto. Porém, penso ser mais razoável a hipótese de que isto se faz por puro interesse. Parece haver um desejo positivo de que os desmandos continuem e, para assegurar tal intento, cumpre manter os leigos e, se possível, os seminaristas e sacerdotes, distantes e distraídos de uma formação mais ortodoxa.

Isto provoca em pouco tempo a perda da unidade litúrgica. Com a ausência de preceitos claros e fixos, a Liturgia se torna um constructo arbitrário da comunidade ou do Ordinário. Isto significa que teremos uma Liturgia relativizada aos gostos de cada um. Há como que um protestantismo na Liturgia e que se exerce pela prática do livre exame do Sagrado. Surge, logo, o falso pressuposto de que a Liturgia é, antes de tudo, construída pelos homens. Se tal é assim, ela perde todo o seu caráter sobrenatural, e se torna reduzida ao tamanho humano. Teremos uma naturalização da Mística, isto é, um reducionismo absurdo da religião que se torna mero capricho humano - como uma brincadeira - donde consequentemente se segue a super-valorização da criatividade como garantia de se ter uma liturgia mais real e dinâmica. O realismo aqui identifica-se com a agradabilidade. Se a Liturgia é feita pelos homens e para os homens, cumpre que ela seja, também, agradável. A naturalização da mística se degrada na religião do bem estar. Como se pode perceber, esta via leva à auto-promoção do homem, à adoração de si mesmo, à auto-suficiência e, naturalmente, à perda do senso do sagrado. É um modo muito eficaz de se utilizar da religião para perpetuar, a partir dela, a grande revolta contra a objetividade divina.

A não obediência aos preceitos Litúrgicos em função dos próprios gostos só pode ser promovida por aquele mesmo espírito que moveu os nossos primeiros pais à infidelidade com Deus, donde resultou a entrada de toda a espécie de males no mundo. Uma Liturgia, portanto, que se submeta aos gostos pessoais será, antes, uma proclamação de revolta, e não aquela suave e alegre docilidade a Deus, característica dos Seus amigos, e que se traduz de modo perfeito no singelo "Fiat" de Maria Santíssima.

Por trás, portanto, dos desmandos litúrgicos, há um espírito de revolta, de auto-promoção, de soberba - e lembremos que Deus resiste aos soberbos. Uma "liturgia criativa" veda ou dificulta, pois, o acesso a Deus. Há também o falso pressuposto de que a Liturgia é construída por nós, quando na verdade ela é dada por Deus, isto é, ela nos precede e nos ultrapassa, sendo o modo perfeito de como Deus quer ser cultuado. A obstinação no erro causa, ainda, divisão no seio da Igreja Católica, que deve ser Una, e faz com que cada paróquia tenha uma Liturgia peculiar, segundo os próprios gostos, num ato contínuo de subversão. Tal estado de coisas leva, por fim, à religião do bem estar, a um certo hedonismo pretensamente espiritual que identifica o Bem e a Verdade com o bem-estar e a opinião dos sujeitos. Nada há de bom, portanto, que surja disto. 


O que podemos fazer é rezar bastante, reconhecendo que o auxílio maior nestes tempos de crise é dado pelo próprio Deus. Depois, devemos estudar para ter uma reta compreensão da natureza da Igreja, da Liturgia, da Mística, etc. Em seguida, temos de nos despir dos cuidados e respeitos humanos, a fim de que possamos entrar nesta luta sem receios e fazer, dentro das nossas capacidades, o possível para que mais e mais pessoas se tornem conscientes destas coisas. É fundamental, também, que cuidemos para não cair num certo extremismo que pensa ser virtude todo tipo de balbúrdia e agitação e desaforo, ainda que supostamente favoráveis à Tradição. Já dizia S. Josemaria Escrivá: "Intransigência não é destempero". Não é preciso comprar o desgosto e o desapreço de todo mundo, como se isso fosse um valor em si. É preciso, somente, ter a disposição de uma exposição sincera, clara, sem ambiguidades, e, dentro do que nos convém e do que de nós depende, sem falsos protagonismos, promover a retidão dos costumes litúrgicos. Em suma: ensinar e discutir com argumentos e, além disto, se exercermos alguma função litúrgica, fazer o possível para que seja correta. Busquemos, também, que não estejamos sozinhos nesta empresa. Só não deixemos que o descaso passe a nós por osmose.
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Um comentário:

  1. A SOLENE CELEBRAÇÃO DA SANTA MISSA DE SÃO PIO E MAUS EXEMPLOS DE OUTROS LOCAIS
    O mundanismo e a ditadura do relativismo infiltraram-se na Igreja sob vários disfarces, provenientes de interpretações proposital-fraudulentas do Vaticano II: sincretismos, “auês” religiosos, conotações protestantes, inclusive de músicas, tentando nivelar ou até superiorizar o povo a Deus e muitas adaptações e interpretações pessoais e comunitárias secular-sectarizantes.
    É bom frisar que a Igreja possui sérias infiltrações da Internacional Socialista há décadas e outras sociedades secretas; um dos subfrutos oriundos atuantes e nocivos dessas distorções é a Teologia(Heresia) da Libertação/Marxismo Cultural – TL/MC – que de teologia nada possui por imanentizar, socializar todo seu conteúdo transcendente, sucedendo-o por meio de alguns membros ordenados apostasiados, ex freis Boff, Betto, etc., banalizando a doutrina e a liturgia, ainda implantando o materialismo-ateísmo na sociedade; mais uma da TL/MC é a dessacralização do Mistério Eucarístico na Santa Missa, transformando-o apenas em ceia fraterna comum, deixando de lado o respeito, devoção e recolhimentos, tão necessários à sacralidade, sacrificialidade do Memorial da Paixão e Morte incruento de Jesus na cruz.
    Ao acaso a SS Virgem Maria junto à cruz batia palmas, alegrava-se àquele momento, em tão dolorosíssima situação?
    Há, por sinal, muitos católicos de comportamentos superficiais, desvirtuados e alienados à fé, adeptos das seguintes idéias: gosto de ir a uma Missa animada…Cheia de situações atraentes… Um cantor e orquestra lindos… Que “Missa boa” do padre fulano, choro de emoção, isso é que é Missa! A do outro padre, nem me falem, monótona demais, cansativa…Parece que a fé(?) de alguns para existir e funcionar, tem de haver estímulos exteriores…
    Vejam abaixo o atual e oportuníssimo comentário do S. Padre Bento XVI da Carta Apostólica do S. Padre e Beato João Paulo II – Domenica Coena – datado de 24/02/1980.
    “A liturgia não é um show, um espetáculo que necessite de diretores geniais e de atores de talento. A liturgia não vive de surpresas simpáticas, de invenções cativantes, mas de repetições solenes. Não deve exprimir a atualidade e o seu efêmero, mas o mistério do Sagrado. Muitos pensaram e disseram que a liturgia deve ser feita por toda comunidade para ser realmente sua. É um modo de ver que levou a avaliar o seu sucesso em termos de eficácia espetacular, de entretenimento. Desse modo, porém , terminou por dispersar o propium litúrgico que não deriva daquilo que nós fazemos, mas, do fato que acontece. Algo que nós todos juntos não podemos, de modo algum, fazer. Na liturgia age uma força, um poder que nem mesmo a Igreja inteira pode atribuir-se: o que nela se manifesta é o absolutamente Outro que, através da comunidade chega até nós. Isto é, surgiu a impressão de que só haveria uma participação ativa onde houvesse uma atividade externa verificável: discursos, palavras, cantos, homilias, leituras, apertos de mão… Mas ficou no esquecimento que o Concílio inclui na actuosa participatio também o silêncio, que permite uma participação realmente profunda, pessoal, possibilitando a escuta interior da Palavra do Senhor. Ora desse silêncio, em certos ritos, não sobrou nenhum vestígio.

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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