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Adventista nos interroga - Respondemos.


A pergunta abaixo foi feita na seguinte postagem do blog: "Desafio Bíblico" dos Adventistas e questões referentes ao Sábado. Pergunta-nos o Rafael Lopes:

***

Irmão Fábio, gostaria que nos explicasse o que representam os textos abaixo:


Deus não muda.



Salmos 

102:27 Mas tu és o mesmo e os teus anos nunca terão fim.


Isaías 

48:12 Dá-me ouvidos, ó Jacob, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu, também, o último.


Malaquias 

3:6 Porque eu, o Senhor, não mudo; ...


Hebreus 

1:12 E como um manto os enrolarás, e como um vestido se mudarão, mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão.
13:8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.


Tiago 

1:17 Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.


E Jesus?



Em Mateus 5:17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”



E o que revela o Espírito de Deus a João?



"Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;

E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro."
Apocalipse 22:18-19


A partir dessas passagens, quem somos nós para:



-> Mudar o dia que Deus institui na criação.

-> Mudar a lei perfeita.
-> Acrescentar, ou modificar, ou retirar qualquer parte da Bíblia?


Jesus nos alertou:



"Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus."

Mateus 22:29


Deixe que a Bíblia responda as questões quanto ao que foi dito nos textos acima. Vigiai e orai!



Abraço caros irmãos. 

Rafael Lopes

***

Olá, Rafael. Agradeço a sua pergunta. Respondo-a com prazer.

As seis primeiras citações da Escritura que fazes referem-se à imutabilidade de Deus. Sim, Deus é imutável. Isso é doutrina católica também. E, antes de tudo, é uma necessidade lógica que Ele assim o seja, pois tudo o que muda ou é perfectível - pode vir a ser mais perfeito e, então, não era perfeito - ou defectível - pode vir a perder alguma perfeição e, portanto, não é nem será perfeito. Mesmo uma mudança de local implica numa certa perfectibilidade - a assunção de uma posição que, antes, não se ocupava - e defectibilidade - o ausentar-se ou perder de uma posição que se ocupava. Deus é perfeito e, portanto, é imutável. Neste ponto, concordamos. Discordaremos no seguinte. 

Transcrevo:

"Em Mateus 5:17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”

O problema reside aqui: você está supondo que a imutabilidade de Deus exige a imutabilidade da conduta no cumprimento da Lei. Porém, este é um equívoco. Sabemos que no Antigo Testamento, a revelação foi dada aos poucos, de modo fragmentário. O próprio Paulo nos diz isto: "Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas. (Hb 1,1-2) Observe o seguinte: não há uma plena identidade entre Deus e a Lei, já que esta última se dá progressivamente, isto é, se dá de modo sucessivo. Ora, isto significa que quando um artigo novo da Lei é acrescentado, ele provocará duas coisas: 1) exigirá que a conduta dos judeus se modifique a fim de incluir este novo preceito nas suas observâncias. Então, haverá algum tipo de mudança na atitude religiosa do povo de Deus. 2) O novo artigo contribuirá para lançar luz aos artigos precedentes, de modo que, pela percepção do conjunto, o povo de Deus vá se dando conta da maravilhosa ordem interna presente na Lei e vá amadurecendo espiritualmente. Porém, há sempre o risco de que a Lei seja distorcida. E de que modo ela o será? Quando houver um apego desmesurado pela superfície da Lei, pela mera prática exterior, erro caracterizado como rigorismo. Incapazes de penetrar no espírito da Lei, os fariseus se contentarão com os arremedos exteriores, motivo pelo que serão fortemente criticados por Jesus. Paulo escreve: "a letra mata, é o espírito que vivifica" (2Cor 3,6) Quando Nosso Senhor pregava aos Apóstolos, lhes dizia: "Se a vossa justiça não for maior que a dos fariseus, não entrareis no Reino". (Mt 5,20)

Desse modo, a Lei foi-se completando e formando uma unidade. A Lei também tinha um caráter fortemente didático e, em geral, servia de prelúdio para o que aconteceria futuramente, isto é, para a Redenção operada por Nosso Senhor. Quando, por exemplo, foi ordenado aos judeus construírem a serpente de bronze a fim de que não morressem pelas picadas das serpentes, não lhes passava pela cabeça que aquela serpente serviria de símbolo do Crucificado. Somente mais tarde é que isto ficará claro (cf Jo 3,14). Também a idéia que os judeus tinham da terra prometida era a de que Deus lhes daria uma terra aqui mesmo, neste mundo material - o que, por sinal, continua sendo, surpreendentemente, a idéia adventista-. Somente depois do cristianismo é que saberemos que tudo não era mais que uma prefiguração do Céu, a verdadeira Pátria dos Cristãos. Portanto, a Lei tinha um caráter pedagógico e apontava para realidades futuras que, no momento, não poderiam ser devidamente apreciadas. O serão, quando chegar a hora. Isto responde, também, porque a revelação não foi simultânea já que Deus é sumamente perfeito e poderia fazê-lo. É que o Seu povo não estava preparado, motivo pelo qual Deus precisava falar, primeiramente, de coisas rasteiras mui humanas a fim de que o Seu povo, gradativamente educado, chegasse a um estado minimamente conveniente para receber, não mais os símbolos, mas a realidade simbolizada por tantos preceitos. É o que Jesus diz a Nicodemos: "Se tu não entendes as coisas da terra, como queres entender as celestes?" (Jo3,12).

É justamente por isso que S. Paulo nos diz que Jesus nos vem na "plenitude dos tempos". Por que plenitude dos tempos? Porque já havia uma certa maturidade nos homens ao ponto de poderem acolher, ainda que rudemente, a Verdade em si mesma: Jesus Cristo, Nosso Senhor.

É por isso que Jesus diz, na passagem que você nos traz: "não vim revogar, mas cumprir". Ora, aquele que revoga, desfaz. Porém, aquele que cumpre, realiza. Jesus realiza em Si mesmo a Lei, já que esta Lhe era preparação. O cumprimento é superior à preparação, assim como a posse e presença são superiores à espera. Em Cristo fica claro qual era a natureza da Lei. Já que Nosso Senhor é a luz do mundo, sua luz nos permite agora compreender de modo muito mais completo e profundo os desígnios de Deus, desde o início do Seu plano de redenção. Diante do Cristo - a Revelação completa de Deus - o estado anterior torna-se obsoleto. É o mesmo que diz São Paulo: "Se Deus fala de uma aliança nova é que ele declara antiquada a precedente. Ora, o que é antiquado e envelhecido está certamente fadado a desaparecer." (Hb 8,13). Se pararmos para pensar, veremos que isto é extremamente lógico. Porém, aparentemente - e é só aparentemente mesmo -, Paulo está se opondo ao que Cristo diz no outro trecho. Como se resolve isso? Como você resolveria, Rafael? Não tens como chamar Paulo de herege, já que ele é um escritor bíblico. Pode deixar que eu resolvo este problema pra ti.

Se a Lei apontava para um porvir - no caso, para o próprio Cristo - isto significa que a Lei cumpria em grande parte uma função simbólica, pois o símbolo é justamente isto: aquilo que liga a um outro. Ora, o símbolo precisa ter alguma relação com a realidade simbolizada. Porém, o símbolo não se identifica com a realidade simbolizada. Nessa relação, a realidade simbolizada é mais importante que o símbolo. A realidade é como o coração e razão de ser do símbolo. Quando vem a realidade, fica claro o caráter simbólico do símbolo, isto é, o símbolo passa a ser compreendido como tal. Diante da realidade simbolizada, o símbolo não é tão necessário. É esta a posição de S. Paulo naquele trecho. Portanto, o símbolo não vive para si mesmo. Porém, em se estabelecendo a realidade, a razão de ser do símbolo é perpetuada e isto representa como que uma certa sobrevivência do intento simbólico. Este é o motivo pelo qual Jesus diz que não revoga a Lei, mas a cumpre. 

Mas é óbvio que a Lei, uma vez cumprida, deverá ser vista e vivida de um modo diverso, pois Cristo inaugura a dinâmica da Graça, isto é, Ele traz a nós não mais somente símbolos, mas já a realidade. Neste sentido, diz S. Paulo: "Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2,17).

Antes, porém, de prosseguir tratando do símbolo do sétimo dia, faço uma pergunta a você Rafael. Considerando que tu entendes que Jesus manteve estritamente o modo de praticar a Lei, pergunto: tu observas todos os 613 mandamentos da Lei Mosaica? Desculpe-me a pretensão, mas eu suponho que você sequer os conheça. E aí? Como resolves essa tua contradição? Gostaria muito de ouvir a tua posição quanto a isso: afinal, se Jesus não mudou a Lei em nada, surge daí a necessidade de se observar a totalidade da Lei, isto é, os 613 mandamentos. Se tu não os cumpres, tu tampouco serás salvo, pois Jesus diz: "Aquele que me ama, cumpre os meus mandamentos" (Mt 22,38). Por falar nisso, você foi circuncidado? ... Bem, continuemos.

Há outro ponto curioso nesta passagem: Jesus diz que veio cumprir a Lei. Depois, diz que nem um i ou j passarão da lei até que tudo se cumpra. A expressão "até que", neste caso, faz referência a um certo ponto a partir do qual ela cessaria de existir. E qual é esse ponto? O seu cumprimento. Ora, se Jesus veio dar cumprimento à Lei, pode-se entender porque, depois d'Ele, a Lei cede lugar. Bem.. essa é a legítima lógica do Evangelho.

Em seguida, você me traz uns trechos do Apocalipse e que transcrevo abaixo:

"Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro."
Apocalipse 22:18-19

Aqui, basta dizer que por "este livro", João está se referindo ao livro do Apocalipse, e não à Sagrada Escritura como um todo. E, ainda que fosse, vimos que não teria nenhum problema, pois as palavras são símbolos de realidades e que o mais importante é a realidade. A advertência que João faz para que ninguém tire ou acrescente palavras é porque, se o fizesse, estaria prejudicando a compreensão correta da realidade. Não é o caso do catolicismo, que preservou tudo de modo intacto. Mas é o caso do protestantismo e adventismo, como veremos depois.

Em seguida, você faz três perguntas. E passo a responder uma a uma.

A partir dessas passagens, quem somos nós para 

1- Mudar o dia que Deus institui na criação?

O Sábado ou Shabat, o sétimo dia, não era um "dia" propriamente dito, tal qual o entendemos. Os seis dias nos quais Deus criou o mundo não eram períodos de 24 horas. O que permite a nós, humanos, fazer a divisão dos dias é precisamente o movimento de rotação da terra. Neste processo, haverá momento em que a parte em que habitamos será iluminada pelo sol - manhã - e haverá momento em que ela se encontrará no lado oposto ao que está sendo iluminado - noite. Portanto, a idéia de dia está condicionada ao sol. No relato da criação, porém, o sol só vai surgir no 4º dia. E ainda que assim não fosse, não precisaríamos entender os dias ali descritos como dias nossos. É óbvio que se trata de uma analogia, tanto como o fato de que Deus "descansou". Ora, Deus não se cansa.

Mas, considerando a analogia, Deus cria o mundo em seis dias e descansa no sétimo. Justamente em função deste descanso é que este sétimo dia se chamará "Shabat", ou dia do descanso. É por causa deste Seu descanso que Ele abençoa este dia e o consagra, isto é, o separa dos demais. Seria, obviamente, um dia especial em que o homem deveria descansar e, neste descanso do homem, estavam duas coisas importantes: por causa do pecado original, o homem teve o alcance de sua inteligência reduzido e tendia a se distrair com as criaturas tomando-as como fim. A observância do sábado mantinha, pois, no homem a absoluta centralidade e primazia de Deus, pois, neste dia, os homens deveriam esquecer qualquer outra ocupação e voltar-se para Ele. Ao fazer tal sacrifício, o homem agia como sacerdote, pois a função do sacerdote é justamente a de sacrificar. Deste modo preparava-se o que futuramente se dirá: "fizestes para vós uma nação de sacerdotes" (Ap 1,9). Além disto, o fato de descansar num dia justamente porque, antes do homem, Deus havia descansado, indica um modo de imitação de Deus. E a imitação é a expressão do amor. O amante quer imitar o amado e é por isto que a sua vida se configura à dele. É a razão pela qual João nos diz que quem ama a Cristo deve viver como Ele viveu. (cf. 1Jo 2,6) Deus quer educar o homem a imitá-Lo a fim de que o homem não se perca na devassidão da concupiscência e sempre preserve sua dignidade. Esta dignidade só é mantida quando Deus é a prioridade da vida humana. É também por isto que o grande mandamento é "amar a Deus sobre todas as coisas". É um modo de se manter no homem a clareza e a objetividade sobre a realidade.

Porém, o mandamento estrito da observância do sábado - cuja transgressão deverá ser punida com a morte (cf. Ex 31,15b) - somente vai ser dado após o evento do Êxodo, isto é, da libertação do povo de Israel das mãos do Egito. Portanto, o sétimo dia terá uma relação íntima com esta libertação. "Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o dia do Sábado". (Dt 5,15) Mais uma vez, é possível ver o significado do descanso aí... Descanso da escravidão. Descanso e Libertação assumem, agora, uma relação estreita.

Ora, sabemos que a libertação de Israel da escravidão, embora tenha sido um evento literal, era, também, prelúdio de uma libertação muito mais verdadeira e profunda: a libertação de todo o povo de Deus das garras do pecado. O Êxodo prefigura a Cruz. A passagem pelo mar vermelho prefigura a passagem pelo mar de sangue da Cruz. Jesus é o verdadeiro libertador. Assim como o sábado estava associado à primeira libertação, figura da segunda, a nova e definitiva libertação deverá, também, ter um dia particular a ser celebrado pelos cristãos. Como veremos, tal dia será o domingo.

Neste sentido, se o sábado foi instituído por Deus, ninguém menos que Deus poderia estabelecer um segundo dia. E o novo dia foi feito justamente pelo Deus feito homem, Jesus Cristo. A observância sabática não é apenas cumprida se for no sábado. Muito mais importante do que o dia era o seu significado pois, mais importante que o símbolo, é a realidade. Esta realidade simbolizada pelo sábado da Antiga Lei o será de modo muito mais perfeito na Nova Lei. Observemos o seguinte:

Jesus se diz senhor também do Sábado, motivo pelo qual os judeus se indispunham com Ele. Ele diz também que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado, criticando o rigorismo com que os judeus viviam este dia. Até hoje, uma das críticas que os judeus fazem a Jesus é a de que Ele não respeitou o preceito sabático. Basta entrar num site judeu e constatar. Jesus se afirma não apenas como um cumpridor da Lei, mas como o centro e Senhor dela. "Foi-vos dito.. Eu, porém, vos digo"... Portanto, estava em seu alcance manter o sábado ou instituir um novo dia, desde que cumprisse todos os requisitos sabáticos. O judeu Jacob Neusner faz uma grande crítica a Jesus justamente afirmando que Ele agora se coloca como sendo o próprio Shabat. Se o Sábado era um dia de descanso, Jesus agora é nosso próprio descanso: "Vinde a mim todos vós que estais cansados..." Se o Sábado era um modo de imitação de Deus, com Jesus, que veio a nós e nos falou e se permitiu ver e ouvir, nós podemos imitá-Lo de um modo infinitamente mais perfeito, pois Jesus é o próprio Deus"O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se manifestou e nós a temos visto" (1Jo 1,2).

Se o Sábado era ainda um modo de sacrifício e total dedicação a Deus pelo espaço de um dia, com Cristo isto se radicaliza e, agora, o homem é chamado a "perder a vida" por Ele como condição de encontrar a própria vida. Eis como Nosso Senhor aperfeiçoa a Lei! Antes, os judeus poderiam cair numa mera observância externa e o pecado, como o adultério, só se efetivava com a ação prática, isto é, com a exteriorização. Com Cristo, a coisa toda fica bem séria: "se alguém olhar com desejo para uma mulher, eu vos digo que ele já é réu de adultério." 

Se o Sábado possuía, ainda, uma forte função social, pois a família reunia-se durante o dia inteiro e isto contribuía para a coesão familiar, em Cristo o homem toma consciência de uma relação familiar muito mais sólida e perfeita, a comunhão dos santos, em que eles estavam encabeçados todos por um mesmo Pai, o "Pai nosso" e eram participantes da Sua filiação pelo Espírito Santo, dado aos cristãos a partir do batismo. Se o sábado, enfim, estava relacionado à criação do mundo, indicando como que o seu término, em Cristo haverá uma recapitulação, isto é, um reinício de toda a criação, pois toda ela será redimida pela morte de Cristo. É por isto que Ele é chamado de o Novo Adão, pois será o primeiro homem na ordem da Graça. Um novo dia marcará, então, o início desta nova criação. Será o primeiro dia da Semana, o Dies Domini, aquele dia que S. João define no apocalipse como "Domingo" que significa "dia do Senhor" (cf. Ap 1,10). Será também o dia em que os Apóstolos passarão a se reunir para celebrar a Páscoa do Senhor. (cf. At 20,7)

Isso tudo é ainda comprovado pelos escritos cristãos dos primeiros séculos. A Didaqué, escrita pelos Apóstolos e datando, portanto, do século I, afirma o seguinte: "Reúnam-se no dia do Senhor (dominica dies = domingo) para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro" (14,1 - primeiro catecismo cristão, escrito no séc. I).

Já Sto Inácio, bispo de Antioquia, discípulo de S. Pedro e ordenado por S. João, no ano 101 d.C. e, portanto, iniciozinho do século II, diz o que segue:

"Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte. (...) É absurdo falar de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo judaizar. Não foi o cristianismo que acreditou no judaísmo, e sim o judaísmo no cristianismo, pois nele se reuniu toda língua que acredita em Deus." (Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios)

O próprio Paulo, ainda antes, já tinha dito: "Ninguém, pois, vos critique por causa de comida ou bebida, ou espécies de festas ou de luas novas ou de sábados. Tudo isto não é mais que sombra do que devia vir. A realidade é Cristo." (Cl 2,16)

Fica, então, respondida a primeira das três perguntas. Buscarei ser breve nas restantes.

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2- Quem somos nós para mudar a Lei perfeita?

Isto eu respondo, de novo, com S. Paulo: "Se Deus fala de uma aliança nova é que ele declara antiquada a precedente." (Hb 8,13) Como vimos, a Lei possui uma continuidade, porém se torna mais perfeita em Cristo. Ora, o que se aperfeiçoa, víamos no início, é porque não era perfeito. E no processo de aperfeiçoamento de qualquer coisa é forçoso haver alguma mudança. Isto é uma questão lógica. Porém, reiteramos: no aperfeiçoamento, não obstante a mudança, o essencial mantém uma continuidade.

E não fomos nós que mudamos. O próprio Cristo assim o quis.

3- Quem somos nós para acrescentar, ou modificar, ou retirar qualquer parte da Bíblia?

Esta é uma pergunta que eu também gostaria de fazer aos protestantes, porque é bem sabido que Lutero foi quem retirou da Bíblia os sete livros deuterocanônicos.. E nessa atitude disparatada dele, quase que saíam também os livros do Apocalipse e a carta de S Tiago. Ao primeiro, Lutero chamava de inútil. Ao segundo, chamava de "carta de palha". Até hoje são conhecidas inclusive as alterações deliberadas que Lutero aproveitou para fazer nas suas traduções. Os católicos não retiraram nada. Os protestantes é que, sob a aparência de um zelo particular pela Escritura, sequer a conhecem direito, como já tive a ocasião de constatar inúmeras vezes.

Agora, deixe-me falar mais alguma coisa sobre isso. Os protestantes pensam ser a Bíblia totalmente auto-explicativa, o que é um equívoco. A própria Escritura nos diz que isto não é verdade. Veja o caso do Eunuco que, lendo o Profeta Isaías, admitiu que não sabia interpretá-lo se não houvesse quem lhe ensinasse. Veja as advertências que S. Pedro faz aos que lêem as difíceis cartas paulinas e as distorcem "para a própria ruína". Veja as advertências do próprio Paulo contra os falsos profetas e o grave conselho que ele dá: "se alguém vos pregar um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, ainda que seja um anjo, que seja anátema". Veja, agora, o produto da loucura de Lutero: a quantidade inumerável de seitas, cada uma mais doida que a outra e todas se auto-proclamando, por mais contraditórias que sejam, como diretamente inspiradas pelo Espírito Santo. Veja a total decadência em que caiu o cristianismo por causa desses auto-intitulados pastores de esquinas que, só porque acreditam saberem ler, se consideram os digiescolhidos da salvação, e inventam de ensinar o que nunca aprenderam. Veja essas ridicularias de teologia da prosperidade e não sei quê mais.. E isso tudo é fruto do livre exame. A bíblia, para ser bem compreendida, tem de ser lida com o mesmo espírito com que foi escrita. Este é o espírito católico, pois a Escritura foi compendiada no século IV pela Igreja que, além de escolher os livros canônicos, ainda os distribuiu em capítulos e versículos, para facilitar a leitura. Você tem uma bíblia? Agradeça à Igreja. E até o século IV, como que essas coisas eram ensinadas? Por via oral, pela pregação, razão pela qual o apóstolo diz: "a Fé vem pelo ouvir". E Nosso Senhor ordena aos Apóstolos: "Ide e ensinai" e não "ide e escrevei". A Bíblia será filha da Igreja porque, quando ela surge, a Igreja já está aí há quatro séculos pregando e fazendo santos.

Sem falar que esta doidice de Sola Scriptura é tão absurda que quem a defende sequer considera que não há qualquer fundamento pra ela na própria escritura. Ela é uma contradição em si mesma. A Bíblia, como livro que é, pode ser mal interpretada e, além disto, possui um limite. Pelo fato de ela poder ser mal interpretada, surge a necessidade de alguém que ensine o modo correto de lê-la. Considere o livro do Apocalipse, por exemplo. Foi intenção de João escrever usando tantos símbolos, a fim de que, se o livro caísse em mãos erradas, não pudesse ser compreendido. Ali estavam símbolos que a Igreja entenderia. Imagine o estrago que uma pessoa qualquer faria se, lendo e dando uma interpretação sua a tudo aquilo, quisesse então ensinar isto como sendo palavra de Deus. Ops.. foi justamente o que os adventistas fizeram, né? Por causa de umas continhas de tabuada, subiam em cima das casas e esperavam o dia inteiro pela volta de Jesus.. Que decepção vocês devem ter passado.. E isso aconteceu quantas vezes, já? ... Este erro do livre exame é precisamente o que o protestantismo como um todo faz. Cegos que guiam cegos. 

É óbvio que deve haver alguém para ensinar corretamente a ler a escritura com o mesmo espírito e doutrina dos apóstolos. E quem é que deve fazê-lo? É necessário que seja alguém que possua uma relação direta com os Apóstolos. É claro, portanto, que este alguém é a Igreja, pelo seu magistério, da qual os Apóstolos fizeram e fazem parte como seus primeiros bispos. Além disto, nem tudo está na Escritura e a própria Escritura é quem o afirma. João diz que se todas as coisas que Jesus fez e disse fossem escritas, nem todos os livros dariam conta disso. E você acha que essas coisas que não foram escritas não eram importantes? Claro que eram. E como foram passadas? Por tradição, logicamente. É por isso que Paulo manda guardar as tradições (cf 2Ts 2,15). Jesus, quando ressuscita, passa ainda quarenta dias com os apóstolos, "falando das coisas do Reino de Deus" (At 1,3). Tu achas que essas coisas, que não foram escritas, não foram ensinadas e passadas pelos apóstolos? Claro que foram. Jesus, além disto, quando se despede dos Apóstolos, pouco antes de morrer, diz que ainda tinha várias coisas a dizer, mas que eles não as podiam suportar no momento. É claro, então, que Ele as diria depois. Essas coisas, porém, também não foram escritas, embora Jesus tenha sugerido comunicá-las mais tarde. As provas são muitas, meu caro.

A Escritura sozinha, isolada, perde sentido. E, se alguma coisa pode-se aprender dela sozinha, é que é preciso fazer parte da Igreja dos Apóstolos, coluna e sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15). É nesta Igreja que é possível ter comunhão efetiva com o Cristo, comer da Sua Carne, beber do Seu Sangue e receber do Seu Espírito. Aproveite, então, já que a vida é só uma... Seja rápido! Depois daqui, já virá o julgamento.

Esperando ter respondido às suas perguntas, e rogando à Virgem Maria, Mãe do meu Senhor (Lc 1,43), que interceda para que compreendas a verdade, me despeço.

Fábio

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Confiando na tua sinceridade, recomendamos a leitura do livro "A Igreja de Vidro" e do site "Ellen White Exposta". Abraço.
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Envie-nos também a sua pergunta: http://www.formspring.me/anjosdeadoracao
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