Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

A Profecia do Santuário II - Exposição


Depois de alguns meses estudando este assunto, começo hoje uma série de artigos no intuito de expor a doutrina sobre o Santuário defendida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, a partir de agora referida como IASD, bem como de refutá-la. Se me detive tanto tempo nesse tema é porque ele é profundo e merece ser investigado. Depois de fazer uma introdução num outro post, escrito já há algum tempo mas só recentemente publicado, começo enfim a tratar especificamente do assunto.

Este segundo texto tem o interesse de meramente mostrar no que crê o adventismo quanto ao que eles chamam "Profecia do Santuário", de ora em diante referida como "PS". Escreverei este artigo como se fosse um adventista. Então vamos lá.

É famoso o evento que ficou conhecido como "Grande Desapontamento" quando, depois fazer cálculos sobre o fim do mundo, tomando por base o livro de Daniel, o então batista americano Guilherme Miller marcou a data da vinda de Cristo para 1844. A frustração ocorreu duas vezes: primeiro na primavera de 1843, conforme o exprime Ellen White:

"Na companhia de meus amigos, assisti a essas reuniões e ouvi o impressionante anúncio de que Cristo estava voltando em 1843, somente uns poucos anos no futuro. O Sr. Miller expôs as profecias com uma precisão que transmitia convicção aos corações de seus ouvintes. Ele demorava-se sobre os períodos proféticos, e apresentou muitas provas para fortalecer sua posição. (Testimonies, Vol. 1, p. 14.)


Vi que Deus estava na proclamação do tempo em 1843. Era Seu desígnio suscitar o povo, e trazê-los a uma condição em que seriam provados, na qual decidiriam ou pró ou contra a verdade. Ministros se convenceram da exatidão da atitude assumida quanto aos períodos proféticos, e alguns renunciaram seu orgulho e deixaram seus salários e igrejas para sair de um lugar para outro a fim de apregoar a mensagem. (Primeiros Escritos, 232,2)

Depois, com a ajuda de Samuel Snow, através de novos estudos, eles marcaram a data para 22 de outubro de 1844.

Jesus e todo o exército celestial olhavam com simpatia e amor àqueles que, em doce expectativa, haviam anelado ver Aquele a quem sua alma amava. Pairavam anjos em redor deles, para alentá-los na hora de sua prova. Aqueles que negligenciaram receber a mensagem celestial, foram deixados em trevas, e a ira de Deus acendeu-se contra eles, porque não quiseram receber a luz que do Céu Ele lhes enviara. Aqueles fiéis e desapontados, que não puderam compreender porque seu Senhor não viera, não foram deixados em trevas. De novo foram levados às suas Bíblias, a fim de examinar os períodos proféticos. A mão do Senhor removeu-se dos algarismos, e o erro foi explicado. Viram que o período profético chegava a 1844, e que a mesma prova que haviam apresentado para mostrar que o mesmo terminava em 1843, demonstrava terminar em 1844. (Ibidem, 236,1)

Porém, de novo Jesus não veio. Depois desta última decepção, as revisões dos cálculos já não davam conta de mostrar o que estava errado. Por mais que se reiniciasse o processo de contagem, sempre chegavam ao outono de 1844. Isso tudo está bem descrito no nosso primeiro artigo.

O texto que servia de base para o cálculo se encontra em Dn 8,14, onde se lê:

"Até duas mil e trezentas tardes e manhãs, e o santuário será purificado."

O método de contagem se baseia sobretudo em duas passagens bíblicas que sugerem que um dia simboliza mil dias. Estas passagens estão Ez 4,6 e em Nm 14,34, onde se lê, respectivamente:

"Quando esse período estiver terminado, tu te deitarás sobre o lado direito, para de novo levar a iniquidade da casa de Judá durante quarenta dias; cada dia que te concedo corresponde a um ano."
"Explorastes a terra em quarenta dias; tantos anos quantos foram esses dias pagareis a pena de vossas iniquidades, ou seja, durante quarenta anos, e vereis o que significa ser objeto da minha vingança."

Assim, as duas mil e trezentas tardes e manhãs contabilizariam dois mil e trezentos anos, visto que a expressão "tarde e manhã" simboliza um dia, conforme se vê nos primeiros capítulos do Gênesis e conforme nos diz o senso comum.

Para que a contagem, porém, seja possível, é preciso que haja um ponto inicial. Os adventistas afirmam que este ponto é dado no mesmo livro de Daniel:

"Setenta semanas foram fixadas a teu povo e à tua cidade santa para dar fim à prevaricação, selar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, encerrar a visão e a profecia e ungir o Santo dos Santos. Sabe, pois, e compreende isto: desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até um chefe ungido, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas; ressurgirá, será reconstruída com praças e muralhas, nos tempos de aflição. Depois dessas sessenta e duas semanas, um ungido será suprimido, e ninguém (será) a favor dele." (Dn 9, 24-26)

Aqui há várias informações. O leitor não tenha vertigens, pois iremos explicar ponto a ponto.

A primeira coisa a se considerar é que um adventista entende isso tudo como referente ao final dos tempos, pois é dito no mesmo livro: "Filho do homem, disse-me ele, compreende bem que essa visão simboliza o tempo final." (8,17)

Portanto, o "dar fim à prevaricação, selar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, encerrar a visão e a profecia e ungir o Santo dos Santos" se refere, se não ao fim mesmo, ao menos a eventos que façam parte do fim, já que este não é imediato, mas processual.

O termo "fixadas", no início da citação de Dn 9, 24-26, é uma imprecisão de tradução. O original hebraico נחתך (chathak) significa mais precisamente "cortadas", o que sugere a idéia de que o prazo menor das 70 semanas seja cortado do prazo maior dos 2.300 anos. E o marco para a contagem das 70 semanas é dado: "desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém" (v.25)

Isso faz referência ao fato de Jerusalém ter sido destruída por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586/587 a.C. Confira no jornal abaixo que relatou o fato em tempo real (rsrs):



O decreto para a reconstrução de Jerusalém foi dado por Artaxerxes Longímano, rei da Pérsia, e está referido no livro de Esdras. Este decreto foi feito no sétimo ano do reinado de Artaxerxes (cf. Esd7,7) ano de 457 a.C.. Lemos em Esdras 6,14:

"os anciãos dos judeus puseram-se a construir o templo e fizeram progresso, sustentados pelas profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ado. Prosseguiram a construção, segundo a ordem do Deus de Israel, e segundo a ordem de Ciro, de Dario e de Artaxerxes, rei da Pérsia."

Então, nós temos já o ponto de partida, o critério para o cálculo dos anos e a quantidade de anos. Se fizermos as transmutações, teremos o seguinte:

2300 - 457 = 1843

E essa foi a razão para o estabelecimento da primeira data. No entanto, como há uma certa confusão com relação ao nascimento de Cristo - discute-se se Ele nasceu no ano 1 a.C. ou mesmo 4 a.C. -, outras datas possíveis eram ainda 1844 e 1847. Além disso, a distinção básica entre os anos de 1843 e o de 1844 se dá pelo fato de a morte de Cristo ter ocorrido no meio ou no final da 70ª semana. É o que diz o "Questões sobre doutrina":

"Diversos eruditos da Grã-Bretanha, do continente europeu e até da Índia - desde John A. Brown, em 1810, até Birks, em 1843 - publicaram suas convicções de que os 2.300 anos terminariam em 1843, 1844 ou 1847. Estas três datas representam essencialmente o mesmo cômputo, com a morte de Cristo no meio, ou no fim, da septuagésima semana de anos, e sendo os 2.300 anos contados do mesmo ponto de partida que as setenta semanas. As diferenças são simples questões de cálculo ou de colocar o nascimento de Cristo no ano 1 ou 4 a.C." (2008, p.233)

Além deste fato, o final da contagem deveria coincidir com a "Purificação do Santuário" que, no antigo templo de Jerusalém, se dava no "décimo dia do sétimo mês, o grande Dia da Expiação, tempo da purificação do santuário, [que] em 1844 caía no dia 22 de outubro." (WHITE, 2011, p.187)

Eis a data: 22 de outubro de 1844.

Repitamos o texto de Dn 9, 24-27, porque há outras informações neles que são importantes para legitimar este cálculo:

"Setenta semanas foram fixadas a teu povo e à tua cidade santa para dar fim à prevaricação, selar os pecados e expiar a iniquidade, para instaurar uma justiça eterna, encerrar a visão e a profecia e ungir o Santo dos Santos. Sabe, pois, e compreende isto: desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até um chefe ungido, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas; ressurgirá, será reconstruída com praças e muralhas, nos templos de aflição. Depois dessas sessenta e duas semanas, um ungido será suprimido, e ninguém (será) a favor dele." (Dn 9, 24-26)

Sigamos mais alguns versículos: 

"A cidade e o santuário serão destruídos pelo povo de um chefe que virá. Seu fim (chegará) com uma invasão, e até o fim haverá guerra e devastação decretada. Concluirá com muitos uma sólida aliança por uma semana e no meio da semana fará cessar o sacrifício e a oblação." (v. 26-27)

Agora, expliquemos este trecho parte a parte segundo a compreensão da IASD:

"Setenta semanas foram fixadas a teu povo e à tua cidade santa":
Uma vez que 1 dia vale 1 ano, temos:

70 semanas - 70 x 7 dias - 490 dias. Logo, 490 anos.

"desde a declaração do decreto sobre a restauração de Jerusalém até um chefe ungido, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas"

7 Semanas - 7 x 7 = 49 anos. 457 (ano do Decreto) - 49 = 408 a.C.
Há mais 62 semanas - 62 x 7 = 434 anos

434 - 408 = 26. Daquela confusão de 1 ano, teríamos em média o número 27. Esta seria a data do batismo de Jesus, quando o "chefe" é "ungido".

"depois dessas sessenta e duas semanas, um ungido será suprimido"

O início da última semana (a 70ª) é o ano 27 d.C. Esta última semana terá, naturalmente, sete anos. Iniciando-se com o batismo de Jesus, é dito que Ele "concluirá com muitos uma sólida aliança" (v. 27), o que se refere ao anúncio do Evangelho em Jerusalém. No meio da semana, diz o texto, "fará cessar o sacrifício e a oblação". O sacrifício e a oblação aqui se referem aos ritos da Antiga Aliança, que findou com o Sacrifício de Cristo, do qual eram apenas sombra. Metade de 7 dá 3,5. Sendo que a coisa é contada a partir do Outono, chegamos ao ano 31. Neste ano, os adventistas creem que Jesus foi crucificado - o Ungido foi suprimido. Sobram ainda três anos e meio. Em 34, com a morte de Estêvão, teriam cessado as 70 semanas em que Jerusalém teria rejeitado de uma vez por todas a mensagem do Evangelho.

Depois das 70 semanas ou 490 anos sobram ainda 1810 anos, pois 2.300 - 490 = 1810. 

A soma seria, então: 1810 + 34. Como se vê, a data bate com o ano de 1844.

Veja o quadro abaixo:



Pois bem. Conforme se vê, a contagem bate para com os primeiros eventos da vida de Cristo, mas não serviu para prever a data da Vinda de Cristo.

Logo após o desapontamento do dia 22 de Outubro de 1844, já na manhã do dia 23 de Outubro, o americano Hirã Edson afirmou ter tido uma revelação. Nela, Jesus adentrava num recinto no próprio Céu. Escreve ele:


“Parei na metade do campo. O céu pareceu abrir-se diante de mim e eu vi distinta e claramente que em vez de nosso Sumo Sacerdote sair do Santíssimo do santuário celestial para vir à Terra no dia 10 do sétimo mês (Yom Kippur) no fim dos 2300 dias (de Dan.8:14), Ele pela primeira vez entrou no segundo compartimento do santuário; e que Ele tinha uma obra a fazer no Santíssimo antes de vir à Terra... Minha mente foi dirigida ao capítulo 10 de Apocalipse.” – Adventist Review, vol.6, nº37, pág. 6 (Meditações Matinais, 1993, pág. 349)..



Percebeu-se então que o Santuário referido por Daniel não era a terra, mas o Santuário celeste. As atenções se voltaram para o ministério do antigo templo, onde ficava o Santuário da antiga lei, e para o fato de ele ser uma cópia do verdadeiro Santuário, onde Jesus tinha entrado na data prevista.

Santuário Terrestre e Santuário Celeste


Para que pudesse habitar no meio do Seu povo, Deus havia ordenado a construção de um santuário: 

"E Me farão um santuário, para que Eu possa habitar no meio deles" (Ex 25,8)

Para que este pudesse ser feito, foi revelado a Moisés um modelo:

"Segundo tudo o que Eu te mostrar para modelo do tabernáculo e para modelo de todos os seus móveis, assim mesmo o fareis; vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte." (Ex 25,9,40)

Se o santuário terrestre era cópia de um modelo celeste, é óbvio que o santuário celeste, aquele do qual o terrestre é cópia, existe. O mesmo é confirmado por Paulo no livro dos Hebreus:

"Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro." (Hb 9,24)

Segundo o mesmo Paulo, o serviço dos sacerdotes do antigo templo "é apenas a imagem, sombra das realidades celestiais, como foi revelado a Moisés quando estava para construir o tabernáculo."

Eis então confirmada pelo próprio Paulo a relação entre o Santuário celeste com aquilo que ocorria no templo de Jerusalém.

Observemos, então, como era o templo de Jerusalém e quais os ministérios que então se executava lá. Tudo isso pode lançar luz sobre o evento que agora se afirmava: a entronização de Jesus no Santuário.

O tabernáculo está descrito no livro de Levíticos, mas, a título de resumo, cito a Sra Ellen White:

"O tabernáculo era uma estrutura de grande esplendor. Além do pátio exterior, o tabernáculo propriamente dito consistia de dois compartimentos, chamados de Lugar Santo e Lugar Santíssimo, separados por uma bela cortina, ou véu. Um véu idêntico estava na entrada do primeiro compartimento.
No Lugar Santo, estava o castiçal, do lado sul, com sete lâmpadas que iluminavam o santuário, de dia e de noite. Ao lado norte, havia a mesa com os pães da proposição. Diante do véu, separando o Lugar Santo do Lugar Santíssimo, estava o altar do incenso, de ouro. Sua nuvem de fragrância, com as orações de Israel, subia diariamente à presença de Deus.
No Lugar Santíssimo, achava-se a arca, uma caixa coberta de ouro, em que estavam guardados os Dez mandamentos. Acima da arca estava o propiciatório, e, por cima dele, havia dois querubins de ouro maciço. Nesse compartimento, a presença divina se manifestava na nuvem de glória entre os querubins." (WHITE, 2011, p.192)

Abaixo, um vídeo que mostra parte a parte do Santuário:



Vejamos, agora, quais as funções que eram feitas no Santuário. Primeiramente, distingamos os Sacerdotes - que são Arão e seus filhos, sendo um deles o Sumo Sacerdote - e o restante de Israel. O sacerdote é aquele que media as relações entre Deus e as pessoas comuns. Ele sobretudo realiza os sacrifícios, sejam estes os holocaustos, os sacrifícios pacíficos, as libações ou os sacrifícios para o perdão dos pecados ou para reparações.

Além destes, era obrigatório que de manhã e de tarde, fossem oferecidos em holocausto todos os dias. Esses sacrifícios eram chamados de "contínuos", do hebraico Tamid (תמיד).


"E dir-lhes-ás: Esta é a oferta queimada que oferecereis ao SENHOR: dois cordeiros de um ano, sem defeito, cada dia, em contínuo holocausto; Um cordeiro sacrificarás pela manhã, e o outro cordeiro sacrificarás à tarde." (Num 23,3-4)


Os livros de Números e Levítico explicam à exaustão os tipos de sacrifícios que então eram feitos. E a grande razão para que estas mortes de animais fossem necessárias era o pecado dos homens.

Quando uma pessoa pecava, para se purificar, ela tinha de levar ao Santuário um novilho, touro, bode, cabra ou cordeiro. Então, diante do altar dos holocaustos, impunha a mão sobre a cabeça do animal, transferindo simbolicamente os pecados para este, e, em seguida, o animal era sacrificado, pois, segundo Paulo, não há perdão sem derramamento de sangue. (Hb 9,22).

Depois de sacrificar o animal, o Sacerdote costumava levar o seu sangue para dentro do "Lugar Santo", o primeiro compartimento do Santuário, excluindo-se o pátio externo. Lá, então, ele borrifava o sangue do animal, que simbolizava o pecado, sobre o Véu que ficava à entrada do Lugar Santíssimo, o lugar onde estava a Arca da Aliança, onde Deus se manifestava.

Como isso acontecia diariamente, havia, uma vez ao ano, no décimo dia do sétimo mês, um dia particular, chamado Yom Kippur ou Dia da Expiação. Neste dia, o Sumo Sacerdote adentrava no Lugar Santíssimo - também chamado de Santo dos Santos - e realizava um rito de purificação do próprio Santuário. Isso ocorria porque o borrifar do sangue do animal sobre o qual haviam sido transferidos os pecados da pessoa como que contaminava o próprio Santuário, transferindo os pecados para o Lugar Santíssimo. No dia da Expiação, o próprio Santuário voltaria à sua limpeza original. 



Citemos novamente o "espírito de profecia", Ellen White:

"O ritual do santuário terrestre estava dividido em duas partes: os sacerdotes ministravam diariamente no Lugar Santo, enquanto que uma vez ao ano o sumo sacerdote desempenhava uma obra especial de expiação no Lugar Santíssimo, a fim de purificar o santuário. Dia após dia o pecador arrependido levava sua oferta e, colocando a mão sobre a cabeça da vítima, confessava seus pecados, transferindo-os simbolicamente de si próprio para o sacrifício inocente. Então, o animal era morto. 'Porque a vida da carne está no sangue'. (Lv 17,11) A Lei de Deus, transgredida, exigia a vida do transgressor. O sangue, representando a vida do pecador cuja culpa a vítima assumia, era levado pelo sacerdote ao Lugar Santo e borrifado diante do véu, atrás do qual estava a arca que continha a lei transgredida. Através dessa cerimônia, o pecado era, de maneira simbólica, transferido para o santuário. Em alguns casos o sangue não era levado para o Lugar Santo, mas a carne deveria ser comida pelo sacerdote. Ambas as cerimônias simbolizavam a transferência do pecado do arrependido para o santuário. Essa era a obra que se prolongava por todo o ano. Os pecados de Israel eram assim transferidos ao santuário, e uma obra especial necessitava ser efetuada para a sua remoção." (Ibidem, p.195)

Chegado o dia da Expiação, os Israelitas traziam dois bodes e a sorte era lançada. Um deles pertenceria ao Senhor, e seria sacrificado. O outro era enviado a Azazel, uma entidade maligna que se cria habitar no deserto. Este segundo animal chamava-se "bode emissário". Antes disso, porém, Aarão, depois de ter já purificado o Santuário com o sangue do bode oferecido ao Senhor, impunha as mãos sobre o bode de Azazel, transferindo-lhe assim a culpa de todo Israel. Em seguida, ele era enviado ao deserto, o que simbolizava, segundo os adventistas, a futura transferência da responsabilidade de todos os pecados do mundo para Satanás e a sua exclusão e posterior destruição.



Diz o livro de Levítico:

"Havendo terminado a expiação do santuário, da tenda de reunião e do altar, Aarão trará o bode vivo. Imporá as duas mãos sobre a sua cabeça, e confessará sobre ele todas as iniquidades dos israelitas, todas as suas desobediências, todos os seus pecados. Pô-los-á sobre a cabeça do bode e o enviará ao deserto pelas mãos de um homem encarregado disso. O bode levará, pois, sobre si, todas as iniquidades deles para uma terra selvagem." (Lv 16, 20-22)

Recordemos que o santuário terrestre havia sido construído segundo o santuário celeste. Isso parece sugerir que também os seus ministérios simbolizavam os ministérios celestes. E é isso mesmo o que nos diz São Paulo:

"O culto que estes [os sacerdotes judeus] celebram é, aliás, apenas a imagem, sombra das realidades celestiais." (Hb 8,5). 

Então, não apenas o Santuário terrestre, mas também o culto feito nele tinham um caráter simbólico. Se assim é, devemos saber o que simbolizava cada parte. A fim de que esta exposição não fique demasiado extensa - o que já está, visto que nem começamos a fazer ainda a crítica -, resumamos:

O Sacrifício Contínuo, oferecido todas as manhãs e tardes, simbolizava o Sacrifício de Cristo na Cruz. Já o grande Dia da Expiação, no qual o Sumo Sacerdote entra no Lugar Santíssimo, simbolizava exatamente aquilo que havia ocorrido em 1844: Jesus, o Sumo Sacerdote, em virtude do Seu próprio Sangue, entrava agora no Santuário Celestial a fim de purificá-lo. Ainda que à primeira vista pareça absurda a idéia de uma purificação do próprio Céu, é isto o que se depreende das próprias palavras de São Paulo:

"Se os meros símbolos das realidades celestes exigiam uma tal purificação, necessário se tornava que as realidades mesmo fossem purificadas por sacrifícios ainda superiores." (Hb 9,23)

Traduzamos: "os meros símbolos das realidades celestes" são o Santuário e as suas partes. "As realidades mesmo" significam, então, o Céu. Paulo diz ainda que era preciso que o Céu fosse purificado por sacrifícios superiores. Obviamente, ele está falando do Sacrifício de Cristo na Cruz, conforme se conclui facilmente do contexto e dos versículos procedentes.

É este o pensamento dos eruditos adventistas, como o deão Henry Alford:

"Temos, portanto de concordar com o sentido claro e literal: que o próprio Céu precisava e obeteve a purificação pelo sangue expiatório de Cristo." (The Greek Testament Apud Questões sobre doutrina, 2008, p.310)

E A. S. Peake:

"O sentido da purificação do santuário celestial tem de ser determinado pelo seu significado quando se aplica ao santuário terrestre. O ritual do Dia da Expiação designava-se não simplesmente a expiar os pecados do povo, mas a fazer expiação do próprio santuário. O significado disso parece ser que os constantes pecados de Israel comunicavam certa impureza ao santuário. Semelhantemente, o pecado da humanidade, pode-se compreender, projetou sua sombra mesmo no Céu." (New-Century Bible Apud Ibidem, p.310)

E, por fim, o Dr. Brooke Foss Westcott:

"O sangue de Cristo, pelo qual foi estabelecido o novo concerto, era também válido para a purificação do arquétipo celestial do santuário terrestre. [...] Pode-se dizer que mesmo as 'coisas celestiais', ao ponto em que incorporam as condições da vida futura do homem, contraíram pela queda algo que necessitava de purificação." (The Epistle to the Hebrews Apud Ibidem, p. 310-311)

O Dia da Expiação é o último oficio do Sumo Sacerdote. Por isso, ele está relacionado com a segunda vinda de Cristo. Depois que terminar essa Sua obra de purificação, Ele de fato voltará. 

Durante este último ofício, porém, Jesus estaria julgando a humanidade. O Seu juízo, portanto, não seria quando da Sua vinda, como pensa a maioria dos cristãos, mas ocorre desde já. Avaliando os registros de todos os homens, Ele manterá ou apagará os seus nomes do Livro da Vida.

Escreve a Sra White:

"Deve haver um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação. A purificação do santuário, portanto, envolve uma investigação - um julgamento. Isto deve efetuar-se antes da vinda de Cristo para resgatar Seu povo, pois que, quando vier, Sua recompensa estará com Ele para dar a cada um segundo as suas obras." (Apud Ibidem, p. 303)

Esta fase é chamada de "Juízo Investigativo".

Eis, pois, delineada de modo geral, a Profecia do Santuário adventista. Nos próximo artigo, iniciamos a nossa crítica.

Fábio.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...