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Profecia do Santuário III - Crítica I


Como pudemos observar, assim, genericamente, a Profecia do Santuário (PS) parece uma teoria bem fundamentada e lógica. E é por isso que ela possui tantos adeptos e que estes estão geralmente muito seguros da sua verdade. A crítica que faremos aqui é uma crítica sincera, e o que nos move a fazê-la é o desejo de fazer o bem. Não nos interessa a crítica pela crítica, mas o bem resultante disso. Desse modo, estamos abertos a ressalvas e comentários.

1- Sola Scriptura - Vício fundamental




Para não nos estendermos sobre este ponto, visto que já tratamos dele de outras vezes, remetemos o leitor aos seguintes artigos.

a- A Sola Scriptura não tem sentido;
b- 21 razões para rejeitar a Sola Scriptura;
c- O erro da Sola Scriptura;
d- Resposta à desonestidade de um protestante - Sola Scriptura;
e- Incoerências do protestantismo;
f- O que é a Tradição da Igreja;
g- Dois pastores protestantes debatem sobre a Igreja Católica;
h- A Bíblia era desconhecida pelos católicos?;

E como se trata de um tema adventista, leia também, se estiver com disposição, o seguinte artigo:

i) Adventista nos interroga - respondemos.

Mas, se o leitor não quiser ir de texto a texto, pomos aqui, de modo bem genérico, o argumento principal. Façamos um silogismo, pra ficar mais claro:

Premissa 1 - Só deve ser crido o que está na Bíblia;
Premissa 2 - Não está na Bíblia que só deve ser crido o que está na Bíblia;
Conclusão: Não deve ser crido que só o que está na Bíblia deve ser crido.

Substituamos a expressão "Só deve ser crido o que está na bíblia" pelo seu equivalente latino "Sola Scriptura". Teríamos:

Premissa 1 - Devemos professar a Sola Scriptura;
Premissa 2 - A Sola Scriptura não está na Bíblia;
Conclusão - A Sola Scriptura não deve ser professada ou crida.

Conforme o leitor verá nos textos indicados, a Bíblia não somente não proíbe outras fontes como, antes, as indica. Além do mais, o próprio fato de ela não se ter feito sozinha já pressupõe necessariamente - se o amigo quiser manter as leis da lógica - uma autoridade que lhe seja precedente. 

Esta autoridade agiu: 

a) Antes, escrevendo-a;
b) Depois, escolhendo os textos canônicos.
c) Durante, guardando o modo correto de interpretá-la, já que a interpretação não deve ser particular (2Pe 1,20)

Por fim, a Bíblia relata fatos. Um relato nunca esgota um fato. Logo, o fato transcende o relato. A Bíblia, portanto, necessariamente não pode ser a única autoridade já que há coisas que lhe escapam.

Se o amigo tiver alguma refutação a esses pontos, por favor, não deixe de contatar-nos. Passemos adiante.


2- Datar marcas e tempos para a Segunda Vinda é expressamente proibido por Jesus




A curiosidade sobre o fim dos tempos é muito comum na humanidade. Os Apóstolos também a possuíam, e foi por isso que Jesus lhes disse:

"Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai."
(Mt 24,36)

Marcos é ainda mais enfático ao transmitir-nos a afirmação de Jesus:

"Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai. (Mc 13,32)

E, de outra vez, como Lhe perguntassem, disse novamente:

Não vos compete saber as épocas ou as datas que o Pai estabeleceu por sua exclusiva autoridade." (At 1,7)

Estes três trechos, lidos conjuntamente, nos revelam detalhes importantes. Observem as partes grifadas:

a) Quanto àqueles dias, nem os anjos sabem. Os precursores do adventismo, com especial menção a Guilherme Miller, pressupunham que as revelações feitas pelo Anjo Gabriel a Daniel tratavam do fim do mundo, pois o mesmo é dito, depois: 

"Filho do homem, disse-me ele, compreende bem que essa visão simboliza o tempo final." (Dn 8,17)

Entendeu-se "tempo final" como o "final dos tempos", rs. Mas, na realidade, a expressão "tempo final" parece se harmonizar com a expressão paulina "plenitude dos tempos" (Cf Gl 4,4). Ora, aquilo que chega à sua plenitude chega à sua fase final, obviamente. Contudo, "fase" não indica um "ponto", mas um "processo". Assim, "tempo final" não é o mesmo que "final dos tempos".

Também Pedro escreve que "está próximo o fim de todas as coisas" (1Pe 4,7), e, no entanto, estamos ali no Século I. Poderíamos com razão dizer que o tempo em que "está próximo o fim de todas as coisas" é tanto a "plenitude dos tempos" como o "tempo final". Também Jesus, quando começou a Sua vida pública, iniciou Sua pregação dizendo que "o Reino está próximo". Ora, o que é o "Fim" senão a chegada do Reino? E, no entanto, lá se vão 21 séculos. O próprio Pedro explica essa aparente contradição, num trecho que trata exatamente das profecias que, aos olhos dos zombadores, pareciam não se realizar devido à compreensão literal e cronológica da proximidade: "Um dia diante do Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia." (2Pe 3,8) Isso significa que os critérios humanos são nulos para sondar qual seria o dia exato daquela vinda.

Além disso, se Jesus, lá pelo ano 30 d.C., afirma que "nem os anjos do céu" sabem o dia concernente ao fim, como que o Anjo Gabriel - que eu julgo ser do céu -, mais de 5 séculos séculos antes, poderia revelá-lo a Daniel, se, conforme Jesus, ele não sabia?

Depois, como o Anjo ou Daniel poderiam sabê-lo se mesmo Jesus diz que não sabia?

Por fim, já depois da Ressurreição, imediatamente antes da Ascensão, Jesus fala claramente aos Apóstolos dizendo que não lhes competia saber as épocas ou datas. Amigo, como você interpreta essa frase? É óbvio que Jesus está dizendo: "Não queiram saber disso. Não faz parte da Revelação."

Isso tudo é muito claro. e os Apóstolos, que entenderam o recado, confirmam essa idéia dizendo que Ele virá como um ladrão. (Cf 1Tes 5,2; 2Pe 3,10). Qual é o significado disso? Jesus viria nos roubar? Óbvio que não. O que se quer dizer é que, assim como um ladrão não avisa quando vai assaltar, assim também Nosso Senhor não avisou quando voltará. Isso não faz parte da Revelação

Os adventistas gostam de se fundamentar num versículo do Antigo Testamento, Amós 3,7, que diz:

"Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar seu segredo aos profetas, seus servos."

É óbvio que esta passagem não indica que Deus nos dirá todas as coisas quantas Ele faz, mas apenas aquilo que convém à nossa salvação. É claro que Ele continua sendo um Deus de mistério. É óbvio que nós não temos acesso a tudo o que Ele faz, e mesmo a parte que conhecemos é somente uma ínfima parte. Então, há que se observar o contexto da observação. Essa passagem se assemelha muito, na natureza, com aqueloutra em que Jesus diz aos Apóstolos: "Já não vos chamo servos, mas amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai." (Jo 15,15)  De novo: Jesus não está dizendo que revelou todo o segredo divino, mas apenas aquilo que Lhe fora ordenado fazer. Deus é muito superior ao que d'Ele sabemos.

E se observarmos o versículo que antecede o trecho citado de Amós, e do qual ele é uma explicação, e depois o que o sucede, isto é, Am 3,6-8, lemos o que segue: 

"Tocará o alarme na cidade sem que o povo se assuste? Virá uma calamidade sobre uma cidade sem que o Senhor a tenha disposto? (Porque o Senhor Javé nada faz sem revelar seu segredo). O leão ruge, quem não temará? O Senhor Javé fala: quem não profetizará?" - Bíblia Ave Maria.

"Se uma trombeta soa na cidade, não ficará a população apavorada? Se acontece uma desgraça na cidade, não foi Iahweh quem agiu? Pois o Senhor Iahweh não faz coisa alguma sem antes revelar o seu segredo a seus servos, os profetas. Um leão rugiu: quem não temerá? O Senhor Iahweh falou: quem não profetizará? - Bíblia de Jerusalém

"Tocar-se-á a trombeta na cidade, sem que o povo se estremeça? Sucederá algum mal à cidade, sem que o SENHOR o tenha feito? Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas. Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o SENHOR Deus, quem não profetizará?" - Versão Almeida Corrigida e Revisada

Quando Deus ameaçava uma nação - como quando o fez contra Nínive -, Ele na verdade pretendia a conversão daquele povo. Por isso, sempre revelava sua vontade a um profeta - naquela caso, Jonas - para que este a comunicasse ao povo. Também com Sodoma e Gomorra, diz Deus: "Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer?" (Gn 18,17) E, enfim, com o próprio Amós, que profetiza um terremoto em Israel, com dois anos de antecedência (Cf 1,1). Esse trecho, portanto, não serve para contradizer a ordem de Jesus de que não nos convinha saber quando se dará. É-nos suficiente saber que o que o Apocalipse relata se dará.

Além de tudo, há uma conveniência para que isso não nos seja dito. Alguém poderia converter-se apenas perto da Data. Fora que é fácil constatar o nível de desequilíbrio geral que essas datas podem provocar. Jesus não quer isto. Por isso, a ordem é: "Vigiai, pois não sabeis o dia nem a hora. O Filho do homem, como um ladrão, virá numa hora em que vocês menos esperam." (Mt 24,42-44)

Outro texto usado pelos Adventistas para justificar a contagem se encontra em 1Ts 5,4-5:

"Vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz, e filhos do dia; não somos da noite, nem das trevas".

Novamente, este texto não indica que os "filhos da luz" saberão quando ocorrerão essas coisas, mas que elas, quando sucederem, já os encontrarão vigilantes, de modo que a surpresa do dia não implicará em serem pegos desprevenidos. Isso é confirmado quando, no mesmo capítulo, alguns versículos antes, Paulo escreve: 

"A respeito da época e do momento, não há necessidade, irmãos, de que vos escrevamos. Pois vós mesmos sabeis muito bem que o dia do Senhor virá como um ladrão de noite." (v.1-2)
Então, longe de Paulo estar contradizendo Jesus! E por que não há necessidade de escrever sobre isso? Justamente porque não dá pra saber. Logo, tampouco há necessidade ou utilidade em calcular. É uma empresa fadada ao fracasso. E a prova de que o preparo de que Paulo fala não é especulativo (saber qual é a data precisa), mas existencial, se encontra nos versículos 6 a 8:

"Não durmamos, pois, como os demais. Mas vigiemos e sejamos sóbrios. Porque os que dormem, dormem de noite; e os que se embriagam, embriagam-se de noite. Nós, ao contrário, que somos do dia, sejamos sóbrios. Tomemos por couraça a fé e a caridade, e por capacete a esperança da salvação."

Caros, vigiar é realizar o ato da vigília. O ato da vigília é manter-se acordado O vigilante fica atento, como que esperando o inesperado, para que, se algo ocorrer, ele esteja preparado. Então é intrínseco à vigília o não saber como as coisas se darão. Um vigia que soubesse, por exemplo, que um estabelecimento seria assaltado às três horas da manhã não precisaria vigiar até essa hora. Ele só precisaria ir lá na hora exata. A vigília inclui necessariamente uma insegurança sobre o curso das coisas.

E como é, então, que devemos estar preparados? Professando a Fé, praticando a Caridade e mantendo a Esperança da Salvação. Aqui estão descritas as três virtudes teologais, mas não vamos entrar nisso.

Outro ponto que pode ser levantado é dizer que o evento descoberto não foi evidentemente a Vinda de Jesus, mas a Sua entrada no segundo compartimento do Santuário, isto é, no Lugar Santíssimo. No entanto, o espírito subjacente à suposta descoberta é todo ele antievangélico, pois, então, se cria haver descoberto a data exata da vinda de Cristo: 22 de Outubro de 1844. Como se pode esperar que Deus recompense quem tão frontalmente desobedeceu um preceito tão básico do Evangelho? É óbvio que um cristão, ao ouvir falar daquelas profecias, deveria ter já diante de si a proibição explícita de Jesus. No entanto, a própria Sra White trata com termos não muito amigáveis aos que não aderiam ao "clamor da meia noite" justamente por ser contrário ao que Jesus havia dito.  Abaixo faço umas citações, e comento em seguida.

A proclamação de um tempo definido para a volta de Cristo despertou grande oposição de muitos, dentre todas as classes sociais, desde o ministro do púlpito, até ao mais ousado pecador. Muitos declaravam que não se opunham à doutrina do segundo advento; contestavam apenas a fixação de um tempo definido. Mas os olhos de Deus, que tudo veem, liam seu coração. Não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. Suas ações não resistiriam à inspeção do Deus que sonda os corações, e temiam se encontrar com o Senhor. Assim como os judeus nos dias de Cristo, não estavam preparados para recebê-Lo. Não apenas se recusavam a ouvir os claros argumentos da Bíblia, como ainda procuravam ridicularizar os que aguardavam o Senhor. Satanás lançava afronta ao rosto de Cristo, de que Seu pretenso povo sentia tão pouco amor por Ele, que não desejava o Seu aparecimento.
"Daquele dia e hora ninguém sabe", era o argumento mais frequentemente apresentado pelos que rejeitavam a fé do advento. Uma explicação clara dessa passagem era apresentada pelos que aguardavam o Senhor, e o emprego errôneo que seus oponentes faziam dela foi claramente demonstrado. Uma declaração do Salvador não deve destruir outra. Embora ninguém saiba o dia ou a hora de Sua vinda, podemos conhecer sua proximidade. (O grande conflito, 2011, p.175)
Aqui a Sra White admite que a proclamação era "de um tempo definido para a volta de Cristo", e reclama porque isso "despertou grande oposição". Motivo de preocupação seria se algo tão antievangélico não a despertasse. Como ela mesma diz, os que contestavam a data, diziam que não eram contrários à doutrina do advento, como nenhum cristão em são juízo pode ser. Contudo, isto não lhe era suficiente, e, fazendo as vezes de Deus, ela afirma saber até as impressões que Deus tinha diante daquilo tudo. Os olhos divinos, diz ela, liam os corações, enquanto que os olhos de Ellen White liam os olhos divinos e, por eles, tinha acesso aos corações dos demais protestantes e também do coração divino. Sobre os primeiros, ela diz: "não desejavam ouvir acerca da vinda de Cristo para julgar o mundo com justiça. (...) Temiam se encontrar com o Senhor." Em seguida, ela fala dos "claros argumentos da Bíblia". O leitor saberá de quais argumentos ela fala nas próximas partes desse estudo.

Ela diz que "uma explicação clara" da proibição do Senhor sobre especular sobre os dias e a hora da Sua vinda era dada por eles. Eu adoraria saber que explicação era essa, pois ainda não a vi. Por fim, ela escreve que "uma declaração do Salvador não deve destruir outra". Exatamente, Sra White. Há pelo menos três menções diretas e inequívocas no Novo Testamento, pela própria boca de Deus encarnado, de que não podemos saber aquelas datas. E o que a senhora está fazendo senão usando textos descontextualizados para tentar competir com a evidência da proibição?

Satanás e seus anjos triunfaram sobre eles. . . . Não perceberam que estavam rejeitando o conselho de Deus contra si próprios, e atuando em união com Satanás e seus anjos para trazerem perplexidade ao povo de Deus, que estava vivendo segundo a mensagem enviada pelo céu. (Primeiros escritos, A mensagem do primeiro anjo, disponível aqui.)

Quem trouxe perplexidade às pessoas foram as profecias desastradas de Guilherme Miller que as expuseram duas vezes a uma constrangedora situação. Seria agir em "união com Satanás" o ter diante de si a proibição evangélica? Seria aceitar o "conselho divino" crer naquilo que não tem qualquer embasamento bíblico?


Como as igrejas se recusassem a receber a mensagem do primeiro anjo, rejeitaram a luz do Céu, e caíram do favor de Deus. Confiaram em sua própria força, e, opondo-se à primeira mensagem, colocaram-se onde não poderiam ver a luz da mensagem do segundo anjo. Mas os amados de Deus, que eram oprimidos, aceitaram a mensagem: "Caiu Babilônia" (Apoc. 14:8), e deixaram as igrejas. (Primeiros escritos, A mensagem do segundo anjo, disponível aqui.)

Os que se ativeram ao Evangelho como critério para discernir as coisas "rejeitaram a luz do Céu", segundo Ellen White. Ou seja: receber a luz do Céu era acreditar que Jesus iria voltar em outubro de 1844. Engraçado que ela afirma que quem não aceitou a novidade "confiou em sua própria força", quando, na verdade, a confiança na própria força vem daqueles que julgam, com base nas próprias contas, chegar ao conhecimento daquilo que nem os anjos nem o Filho sabiam! Neste sentido, Guilherme Miller é um tipo de Bruce Lee profético! E todas as denominações que não aderiram são identificadas por Ellen White com a Babilônia. Que o leitor me perdoe, mas é engraçado, e já é muito difícil para mim escrever um artigo desse de um modo tão sóbrio, porque é como fornecer explicações filosóficas e teológicas da falsidade de uma nota de três reais.

Mesmo alguns pecadores olhavam para aquele tempo com terror; mas a grande maioria manifestou o espírito de Satanás em sua oposição à mensagem. Zombavam e caçoavam, repetindo em toda a parte: "Ninguém sabe o dia nem a hora." Anjos maus com eles insistiam para que endurecessem o coração e rejeitassem todo raio de luz do Céu, a fim de ficar seguros na cilada de Satanás. Muitos que professavam estar à espera de Cristo, não tinham parte na obra da mensagem. A glória de Deus que haviam testemunhado, a humildade e profunda devoção dos expectantes, e o peso esmagador das provas, faziam-nos ter a profissão de receber a verdade; mas não se haviam convertido; não estavam preparados para a vinda de seu Senhor. (ibidem)

Meu comentário ao "peso esmagador das provas": rsrsrs

A "cilada de Satanás" era, de novo, obedecer à advertência de Jesus de não querer calcular aqueles dias. Muitos, com razão, esperavam Jesus voltar mas sem aceitar as datas. A estes, Ellen White, a sondadora dos corações, a onisciência das entranhas, afirmava não se terem convertido de verdade.

Assim, temos que: os que não aceitaram a mensagem milerita "não se haviam convertido", ao mesmo tempo que todos os que aceitaram a mensagem "se haviam convertido". Isso me lembra algo... (Cf Lc 18,9-14)

Satanás e seus anjos estavam ativamente ocupados em procurar desviar da luz as mentes de quantos fosse possível. O grupo que a rejeitou foi deixado em trevas. Vi o anjo de Deus observando com o mais profundo interesse o Seu povo professo, a fim de registrar o caráter que desenvolviam ao ser-lhes apresentada a mensagem de origem celestial. E ao desviarem-se da mensagem celestial com escárnio, zombaria e ódio, muitos que professavam amor a Jesus, um anjo com um pergaminho na mão fazia o vergonhoso registro. Todo o Céu se encheu de indignação porque Jesus fosse assim menosprezado por Seus professos seguidores." (Primeiros escritos, Outra ilustração, disponível aqui.)

A "luz" é a falsa profecia, do que me lembra de outro trecho: (Cf, Isa 5,20)

Ellen White considera conhecer "todo o céu" e a reação negativa de todos os que lá habitam justamente porque, repetimos, alguém ousou levar a sério o "não vos compete saber".

(...) os que têm zombado e ridicularizado a idéia do arrebatamento dos santos serão visitados com a ira de Deus, e serão levados a compreender que não é coisa leve zombar do seu Criador. (Ibidem)

Aqui, ela ameaça os que não aderiram à mentira. Disto só pode nascer um clima sensacionalista baseado sobretudo no medo. Deus os puniria. Imagine o leitor - veja se consegue - um Jesus enraivado porque esses cálculos do Miller não foram adotados e vindo, em seguida, descarregar o Seu furor sobre aqueles que ousaram ater-se ao Evangelho. Todas as virtudes, antes agradáveis a Deus, de uma hora pra outra se resumiram agora a apenas uma sofística matemática.

"Os que rejeitaram a luz da mensagem do primeiro anjo e a ela se opuseram, perderam a luz do segundo, e não puderam ser beneficiados pelo poder e glória que acompanhava a mensagem: "Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!" Mat. 25:6. Jesus desviou-Se deles com a fisionomia carregada; pois haviam-no menosprezado e rejeitado. (Ibidem)

"Aí vem o Esposo! Saí-Lhe ao encontro!" - Cadê? Onde? Eis a Luz: sair de casa e ficar o dia todo olhando pro horizonte esperando Jesus voltar e Ele não vir. De fato, os juízos do Senhor são imperscrutáveis..

Porém, aqueles que, no seu bom senso, cultivaram qualquer dúvida, se tornaram objeto da "fisionomia carregada" de Jesus. Não esperá-Lo em vão no dia marcado significava tê-Lo "menosprezado e rejeitado." Avalie o amigo se isso de fato faz algum sentido.

"Vi Jesus voltar Sua face dos que rejeitaram e desprezaram Sua vinda, ordenando, então aos anjos que levassem o Seu povo a afastar-se dos impuros, para que não fossem contaminados."

Os mileritas, ludibriados que foram, acreditam que, depois, foram separados pelos anjos, a mando de Jesus, para que não se contaminassem com aqueles que não acreditavam na falsa profecia.

Salta ainda aos olhos que, segundo a onisciência de Ellen White, não havia um protestante sequer que tivesse recusado a mensagem da data e fosse sincero ao mesmo tempo. Impressionante como este se tornou o grande critério para a divisão entre carneiros e bodes.

Porém, mais curioso ainda é que, não obstante ela tenha defendido claramente, como vimos acima, os cálculos para a data da Parusia, ela mesma escreve o que segue, depois:

Vi que alguns estavam fazendo tudo depender do próximo outono; isto é, fazendo seus cálculos, e dispondo de suas propriedades com referência a esse tempo. Vi que isto era errado por esta razão: em lugar de irem diariamente a Deus, desejando fervorosamente saber seu dever presente, eles olhavam adiante, e faziam seus cálculos como se soubessem que a obra findaria este outono, sem indagar de Deus, diariamente, o seu dever. Milton, a 29 de junho de 1851.
Aqui está outro que foi escrito com relação a um homem que estava marcando tempo em 1884, e espalhando largamente seus argumentos para provar suas teorias. Foi-me trazida em Jackson [Michigan], na reunião campal, a notícia do que ele estava fazendo, e eu disse ao povo que não necessitavam dar atenção à teoria desse homem; pois o acontecimento que ele predizia não havia de ocorrer. Os tempos e estações, Deus estabeleceu por Seu próprio poder. E por que não nos deu Deus esse conhecimento? - Porque não faríamos dele o devido uso, caso Ele assim fizesse. Desse conhecimento viria em resultado um estado de coisas entre nosso povo, que retardaria grandemente a obra de Deus no preparar um povo para subsistir naquele grande dia que há de vir. Não devemos viver em agitação acerca de tempo. Não nos devemos absorver com especulações relativamente aos tempos e às estações que Deus não revelou. Jesus disse a Seus discípulos "vigiai", mas não para um tempo definido. Seus seguidores devem encontrar-se na posição dos que estão à escuta das ordens de seu Comandante; devem vigiar, esperar, orar, e trabalhar à medida que se aproxima o tempo da vinda do Senhor; ninguém, no entanto, será capaz de predizer exatamente quando virá aquele tempo; pois "daquele dia e hora ninguém sabe". Não sereis capazes de dizer que Ele virá dentro de um, dois, ou cinco anos, nem deveis retardar Sua vinda, declarando que não será por dez, ou vinte anos. (Disponível aqui)

Este relato é absolutamente surpreendente. Nem parece a mesma pessoa de antes. Mas que "profetiza" mais contraditória.. 

Primeiro, ela diz que viu que isto era errado. Isto o quê? Fazer os cálculos e dispor os bens para esse tempo. Embora isto tenha ocorrido em 1851 e, portanto, já houvesse passado o decepcionante ano de 1844, parece-nos ouvir um eco daqueles dias quando ela escreve: "faziam seus cálculos como se soubessem que a obra findaria este outono." A Ellen White do futuro teria sido acusada pela do passado de "não amar a vinda de Cristo", de "não se ter convertido", de ser objeto do "sobrecenho carregado de Cristo" e de ter caído na "cilada de satanás".

No segundo texto, escrito em 1884, Ellen White recomenda que não se dê atenção às profecias de um homem que demonstrava, através de cálculos bíblicos, que Jesus viria no próximo outono. De novo, algo muito semelhante ao "Grande Desapontamento".

E a próxima citação, embora de novo absolutamente contraditória com a Ellen de anos atrás, que - frise-se - tirava seus conhecimentos e profecias de uma revelação direta de Deus -, esta nova citação é algo com o que nós concordamos profundamente. Quisera que a Ellen White de 1884 tivesse advertido a de 1843/44 com as seguintes palavras: "Os tempos e estações, Deus estabeleceu por Seu próprio poder. E por que não nos deu Deus esse conhecimento? - Porque não faríamos dele o devido uso, caso Ele assim fizesse." Eis a Ellen falando que não nos convinha saber aqueles dias. No entanto, na época isso seria "rejeitar a luz" e "decair do favor divino". Todo o movimento de 1844 só tem sentido se se pensa que seria justo supor que Deus queria que soubéssemos quais seriam aqueles dias. Contradição pura e simples.


Depois, como que reprovando todo o movimento do "clamor da meia noite", ela diz: Não devemos viver em agitação acerca de tempo. Não nos devemos absorver com especulações relativamente aos tempos e às estações que Deus não revelou. Jesus disse a Seus discípulos "vigiai", mas não para um tempo definido.

Sra White, depois de tanta contradição, o que a senhora teria a dizer?

. . .  Serve . . . "Oioioi"?

Pois é, caro leitor. A coisa toda é muito confusa e discordante, ainda que aparentemente - e só aparentemente - bem fundamentada. Isso tudo ficará cada vez evidente. Apertem os cintos para os próximos artigos. Peço também que a nossa linguagem algo sarcástica aqui e ali não seja tida em mau tom. Nossa intenção não é provocar mal estar, senão o necessário para o conhecimento da verdade. É a verdade que liberta, diz Jesus. O problema é que o mais comum é que nos apeguemos aos nossos grilhões ao ponto de cultivá-los, de modo que a verdade, num primeiro momento, surge como destruidora. Mas essa destruição prévia é a condição sem a qual a verdade não pode ser construída. Já dizia Jesus que aquele sobre quem a Verdade - que é Ele mesmo - cair será feito em pedaços (Mt 21,44). Que nossos erros sejam despedaçados para que, enfim, brilhe a Verdade sem impedimentos. Até a próxima.

Fábio.
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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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