Por Joe Heschmeyer
Tradução de Fábio Silvério
Há duas distintas reivindicações principais do Adventismo do Sétimo Dia que separam-no do resto do Cristianismo:
1. Primeiro, que os cristãos devem manter o Sábado, o Sabbath, santo. Eles se opõem ao culto no Domingo, argumentando que é contra os Dez Mandamentos e anti-escriturístico em geral.
2. Segundo, que a fundadora do Adventismo do Sétimo Dia, Ellen G. White, foi uma profetiza.
O site oficial dos Adventistas do Sétimo Dia declara:
Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma marca identificatória da igreja remanescente e foi manifestado no ministério de Ellen G. White. Como mensageira do Senhor, seus escritos são uma continuante e autorizada fonte de verdade que provê para a igreja conforto, orientação, instrução e correção.
Mas como nós logo veremos, White não era profetiza, e seus trabalhos estão cheios de erros. Vejamos dois de seus maiores argumentos sobre o Sabbath, ambos de seu supostamente-inspirado livro, O Grande Conflito.
I. Quando a Adoração no Domingo começou?
A primeira das idéias que eu quero considerar é a afirmação de White de que todos os cristãos primitivos mantiveram o verdadeiro Sabbath pelos primeiros séculos do Cristianismo:
Nos primeiros séculos o verdadeiro Sabbath foi mantido por todos os Cristãos. Eles eram zelosos pela honra de Deus, e, acreditando que Sua lei é imutável, eles zelosamente guardaram a sacralidade de seus preceitos.
(Ellen G. White, O Grande Conflito, p.52)
Então isso significa que, pelo menos, nós deveríamos ver cada singular cristão cultuando no Sábado por pelo menos dois séculos (já que "primeiros séculos" deve significar pelo menos dois). Agora leia o que São Justino Mártir escreveu em 150 A.D., em sua Primeira Apologia:
E no dia chamado do Sol, todos que vivem nas cidades ou no interior se juntam em um lugar, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas são lidos, tanto quanto o tempo permite; depois, quando o leitor termina, o presidente instrui oralmente, e exorta à imitação destas dos coisas. Então nós todos nos levantamos juntos e rezamos, e, como dissemos antes, quando nossa oração termina, pão e vinho e água são trazidos, e o presidente de modo semelhante oferece orações e agradecimentos [a palavra grega aqui é Eucaristia], de acordo com sua habilidade, e as pessoas assentem, dizendo Amém; e há uma distribuição para cada um, e uma participação daqueles sobre os quais foram feitas ações de graças, e para aqueles que estão ausentes uma porção é enviada pelos diáconos. E aqueles que estão aptos, e querem, dão o que cada um julga cabível; e o que é coletado é depositado com o presidente, que socorre os órfãos e viúvas e aqueles que, por causa da doença ou qualquer outra causa, estão em falta, ou aqueles que estão presos e os estranheiros peregrinos em nosso meio, e em uma palavra cuida de todos os que precisam.
Mas Domingo é o dia em que nós todos temos nossa assembléia em comum, porque é o primeiro dia em que Deus, tendo agido nas trevas e matéria, fez o mundo; e Jesus Cristo nosso Salvador no mesmo dia ressurgiu dos mortos. Pois Ele foi crucificado no dia anterior ao de Saturno [que é o dia antes do Sábado]; e no dia depois do de Saturno, que é o dia do Sol, tendo aparecido aos Seus apóstolos e discípulos, Ele os ensinou estas coisas, que nós temos submetido a vocês também para sua consideração.
Então, bem, dentro dos primeiros séculos do Cristianismo, o culto no Domingo já era praticado. E note que Justino não descreve isto como alguma inovação. Ele está explicando a não cristãos como é a prática do cristão básico, e o culto no Domingo é já a normal para "todos" em 150. Para alguém que alega ser um profeta, White é incapaz de apresentar a verdade mesmo sobre este ponto básico do Sábado.
Surpreendentemente, estudiosos do Adventismo do Sétimo Dia admitem que ela está errada neste ponto. Dr. Samuele Bacchiocchi, talvez o maior estudioso adventista, escreveu:
Os primeiros documentos mencionando o Domingo como dia de culto recuam até Barnabé em 135 e Justino Mártir em 150. Assim, é evidente que o Domingo como dia de culto já estava estabelecido pelo meio do segundo século. Isto significa que para ser historicamente preciso o termo "séculos" deveria ser mudado para o singular "século". Esta simples correção aumentaria a credibilidade d'O Grande Conflito, porque é relativamente fácil defender a observância geral do Sabbath durante o primeiro século, mas é impossível fazer isto a partir do segundo século.
Em outros termos, as palavras da alegada profetiza são verdadeiras, desde que você mude as palavras. Isto soa como um modo educado de dizer que Ellen White é uma falsa profetiza.
Mas e quanto ao argumento de Bacchiocchi de que enquanto adoração no Domingo existia no segundo século, ela não existia no primeiro? Ele está fazendo um argumento de silêncio. É uma tática comum que eu tenho visto ser usada por protestantes na defesa de seus pontos de vista. Se você mostra que Inácio acreditava que a Eucaristia é o Corpo e o Sangue de Cristo em 107 A.D., eles responderão que a Igreja deve ter tomado isto de um modo simbólico até 106. É claro que este tipo de argumento é ridículo. Se você vai fazer um argumento de silêncio, o mais forte argumento é que nenhuma mudança na doutrina ou prática aconteceu - porque se uma mudança de doutrina tivesse acontecido, nós veríamos uma evidência disso. Se cristãos de repente (globalmente) começassem a fazer o culto no Domingo ao invés do Sábado, alguém não teria mencionado isto em algum lugar?
II. Quem mudou o Sábado para o Domingo?
O segundo argumento de White é que foi o imperador Constantino que mudou o dia de culto do Sábado para o Domingo. Isto está na p. 553 do livro que eu acabei de citar, O Grande Conflito:
Na primeira parte do quarto século, o Imperador Constantino assinou um decreto fazendo do Domingo um festival público em todo o Império Romano. O dia do sol foi reverenciado por seus súditos pagãos e foi honrado pelos Cristãos; isto foi uma política do imperador para unir os interesses conflitantes do paganismo e Cristianismo. Ele foi pressionado a isto pelos bispos da Igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede de poder, perceberam que se o mesmo dia fosse observado por ambos cristãos e pagãos, isto promoveria a nominal aceitação do Cristianismo pelos pagãos e assim aumentaria o poder e a glória da Igreja.
Nós já sabemos que isto é falso: que os cristãos sempre fizeram o culto no Domingo muito antes de Constantino. Mas o que é interessante é que White teve uma segunda e contraditória profecia. Você vê, ela também disse que foi o grande, mau papa, não Constantino, que mudou a data do Sábado para o Domingo. Assim, por exemplo, em Primeiros Escritos de Ellen Gould White, nós lemos sua descrição de uma visão que ela afirma ter tido em 1850:
O papa mudou o dia de descanso do sábado para o primeiro dia. Ele pensou em mudar o próprio mandamento que foi dado para causar no homem a lembrança do Criador. Ele pensou em mudar o maior mandamento no decálogo e assim fazer a si mesmo igual a Deus, ou até exaltar-se acima de Deus.
Disto, ela entende que o papa é o Anticristo. Em uma visão anterior de 1847, ela diz:
Eu vi que o Sábado não foi cravado na cruz. Se fosse, os outros nove mandamentos teriam sido; e nós estaríamos em liberdade para ir adiante e quebrá-los todos, bem como quebrar o quarto. Eu vi que Deus não mudou o Sábado, pois Ele nunca muda. Mas o Papa mudou-o do sétimo para o primeiro dia da semana; pois ele estava para mudar os tempos e as leis.
É tentador dizer isto: ela claramente é uma falsa profetiza. Adventistas do Sétimo Dia acreditam que o Sabbath seja no Sábado por causa dos ensinos de White e suas profecias. Ambos são demonstravelmente falsos. Ela não tinha idéia do que a história do Sabbath de fato era, e contou do seu jeito. O que eu achei chocante é que, por outro lado, estudiosos Adventistas estão conscientes de que White estava errada tanto em seu trabalho de ensino quanto em suas profecias, e ainda assim eles fazem vista grossa. Este é Bacchiocchi de novo:
Surpreendentemente até alguns de nossos líderes evangelistas acreditam, na base das afirmações de Ellen White, que o Domingo começou a ser o dia de culto na primeira metade do quarto século quando os líderes da Igreja forçaram Constantino a promulgar em 321 a famosa Lei do Domingo.
Esta visão popular expôs nossa Igreja às mais indesejáveis críticas. Estudiosos não adventistas e líderes da Igreja como Dr. James Kennedy acusam nossa Igreja de ignorância crassa, por ensinar que o Domingo começou a ser observado no quarto século, quando há evidências históricas irrefutáveis que colocam sua origem dois séculos antes.
Eu gastei horas sem conta explicando ao Dr. James Kennedy e a professores que viram os recentes programas da NET satélite que esta visão popular adventista não reflete o ensino adventista. Nenhum estudioso adventista tem ensinado jamais ou escrito que a observância dominical começou no quarto século com Constantino. Uma compilação de provas é o simpósio O Sábado na Escritura e na História produzido por 22 estudiosos adventistas e publicado pela Review and Herald em 1982. Nenhum dos estudiosos adventistas que contribuíram para o simpósio sequer sugeriu que a observância dominical começou no quarto século.
Então, uma vez que eles examinaram as evidências, mesmo os especialistas adventistas percebem que os escritos de Ellen White são cheios de erros. Questão óbvia: se este é o caso, porque continuam adventistas?
A Igreja Adventista do Sétimo Dia inteira está desacreditada porque:
(a) declara Ellen White uma profetiza, quando ela claramente não o é;
(b) declara seus escritos uma fonte autorizada da verdade, quando eles claramente não o são; e
(c) continua, com sua missão distintiva, a celebrar o Sabbath no Sétimo Dia, Sábado. Mesmo o nome da igreja é baseado nessa missão, ainda que a missão esteja fundada numa história falsa, falsa profetiza, e em má exegese bíblica.
Não é como se White estivesse errada em apenas alguns detalhes menores. Ela erra nos fatos básicos do coração da doutrina dos Adventistas, e isto é óbvio. Já passou da hora dos Adventistas se desfazerem de Ellen White e voltaram para casa na ortodoxia do Cristianismo.
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Atualização: Checando o post de Brent Stubb em Constantine and the Catholic Church, ele cita Sto Inácio de Antioquia, escrevendo em cerca de 107-110, e que diz:
Se, todavia, aqueles que se converteram da antiga ordem de coisas e tomaram posse de uma nova esperança não mais observam o Sábado, mas, vivendo na observância do Dia do Senhor, no qual também a nossa vida se levantou novamente por Ele e por Sua morte - ao qual alguns negam, pelo mistério pelo qual nós obtivemos a Fé, e assim persistimos, para que nós possamos ser achados os discípulos de Jesus Cristo, nosso único Mestre - como nós poderemos ser capazes de viver separados d'Ele, cujos discípulos os profetas eles mesmos no Espírito esperaram por Ele como Seu Mestre?
Então na primeira década do segundo século, o Domingo já era o dia de assinalar que os Cristãos acreditavam em Jesus como o Messias, e em Sua Ressurreição. Então até o argumento de Bacchiocchi de que o culto cristão no sábado existiu pelos primeiros anos do Cristianismo é falso. E é incrivelmente improvável que esta prática fosse nova no tempo de Inácio. Desde que o Apóstolo João morreu cerca do ano 100 A.D., se poderia pensar que ele teria se pronunciado contra o culto no Domingo, se isto fosse verdadeiramente uma violação do Evangelho. Ao menos, é claro, que ele tivesse tomado uma parte massiva na conspiração de Constantino/Papa. É claro, nós também vemos a observância dominical em lugares como Atos 20,7, então não há razão para ver nisto qualquer outra origem que não a apostólica.
Atualização 2: Brock, nos comentários, cita a Didache, que foi provavelmente escrita do meio para o fim do primeiro século... isto é, ao mesmo tempo que o Novo Testamento. Isto fecha a questão na idéia de que os primeiros cristãos eram adoradores dominicais.
"Mas em todo Dia do Senhor reúnam-se juntos, e partam o pão, e dêem graças [Eucaristia] depois de terem confessado suas transgressões, para que o seu sacrifício seja puro. Mas não deixe ninguém que esteja em desacordo com o seu amigo vir junto com vocês até que eles estejam reconciliados, para que o seu sacrifício não seja profanado. Pois isto é o que falou o Senhor: em todo lugar e tempo ofereçam-me um sacrifício puro; pois eu sou um grande Rei, diz o Senhor, e meu nome é maravilhoso entre as nações."
Boa pegada, Brock! Eu poderia acrescentar que o trecho inteiro trata da necessidade da confissão, da Liturgia Eucarística sendo um Sacrifício, etc. - tudo incrivelmente Católico.
Fonte: Shameless Popery
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