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Sobre o desenvolvimento do cânon

De vez em quando, temos visto alguns hereges protestantes insistirem em ofender a Santa Igreja em alguns pontos estratégicos onde, sabendo repeti-los, não resistem, porém, a uma argumentação mais séria. São, por vezes, opiniões gratuitas, descontextualizadas, movidas tão somente de ódio e malícia, sem qualquer objetividade. Uma destas questões trata sobre a lista dos livros canônicos, onde afirmam que a Igreja fez acréscimos, introduzindo no conjunto dos livros inspirados, outros contendo doutrinas contraditórias com a ensinada por Nosso Senhor. Nada disso, porém, corresponde à verdade e importa que tratemos, de forma clara, sobre a origem desta escolha, sobre o critério utilizado para reconhecer a canonicidade dos livros contidos na Bíblia.

Antes, porém, convém refletirmos sobre alguns aspectos da Igreja e da Verdade revelada. Primeiramente, católicos e protestantes estão em consenso sobre o evento da Revelação. Realmente, Deus revelou-se ao mundo por meio de Seu Filho Jesus Cristo. Ora, Deus é absoluto e uno. Consequentemente, a Verdade é também una e absoluta, ela é exterior ao homem, ela é dada ao homem. Não é assim, porém, que entendem os protestantes que, liderados por Lutero na Reforma Protestante, passaram a defender o valor do “Livre Exame”, isto é, retiraram toda a objetividade da religião e passaram a tratar-lhe apenas de forma subjetiva. Segundo Lutero, ao ler a Bíblia, cada fiel teria a inspiração direta do Espírito Santo. Em consequência, sua interpretação seria infalivelmente a certa. A verdade de Lutero é puramente subjetiva. Isto, porém, tem conseqüências desastrosas: primeiro, tira toda a objetividade das coisas. Segundo, mostra que não há verdade, pois, se há duas interpretações diferentes válidas, então haverão mil interpretações diferentes válidas, sem falar que muitas delas serão contraditórias. Ora, o Espírito Santo é um e não se opõe a si mesmo ou, como dizia Jesus, um reino não pode se dividir contra si mesmo. Em terceiro lugar, ao retirar qualquer autoridade exterior ao próprio homem, Lutero faz do homem o próprio verbo, pois, então, o pensamento do homem seria precedente à realidade ou, antes, criaria a realidade. Esta seria a conseqüência da sua interpretação. Mas, em toda a história, a única pessoa que ao pensar cria o mundo é o Verbo de Deus. Quanto ao homem, Sto Tomás de Aquino qualificava como pensamento verdadeiro aquele que corresponde ao objeto do conhecimento, isto é, ao real. Neste sentido, se fala de visão objetiva. Vemos, então, que o “achismo” de Lutero é responsável, enfim, pelo grande número de igrejolas que nascem aqui e acolá por pessoas que, em sua vaidade, acham que são o verbo de Deus. No fim, percebemos como isto tudo é ridículo.

Se Deus revelou-se (o que é fato), logicamente cuidaria para que a Revelação permanecesse íntegra, e assim o fez. Cristo, Verbo de Deus, funda Sua Igreja e confia Sua Verdade, que é Ele mesmo, aos Apóstolos e à Igreja que cuidaria de transmitir esta Verdade a todo o mundoaos apSua Igreja e confia Sua Verdadeçolverdadeiro aquele que corresponde ao objeto do conhecimento, segundo a própria ordem de Jesus: "Ide e anunciai a todos os povos"... "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita". "Batizai a todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", "Eis que esto convosco até o confim dos tempos". Primeiro, será que Deus esperaria 1.500 anos para dar a reta interpretação da Sua Verdade? Se assim fosse, Ele teria encarnado justamente neste tempo. Segundo, devemos reconhecer a autoridade do Cristo dada à Sua única Igreja: "dou-vos o poder de ligarem e desligarem, unirem e desunirem. O que vocês ligarem na terra, será ligado nos Céus. O que desligarem na terra, será desligado nos Céus". Também é oposto à Verdade a suposição de que a Igreja teria se corrompido depois de algum tempo, pois o próprio Cristo prometeu: "as portas do inferno não prevalecerão contra a minha Igreja" e, como já foi expresso, "eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos". Há ainda outra promessa de Jesus com relação ao Espírito Santo, que seguiria formando a Igreja: "Enviarei a vós o Paráclito e Ele vos recordará tudo quanto vos ensinei" e "muitas coisas tenho ainda a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora", donde deduz-se que Cristo permaneceria guiando e conduzindo a Sua Igreja. Dizer que ela se corrompeu é dizer que Jesus mentiu, o que é ilógico. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo e, em virtude dEle, ela é perfeita. É também a Sua amada Esposa, com quem se faz uma só carne, conforme o próprio Cristo diz a S. Paulo que, então, a perseguia: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" Eis a profunda identificação de Cristo com Sua Esposa, a Igreja. É logicamente absurdo supor que Cristo seria infiel à Sua esposa. Por aí, compreende-se o pecado gravíssimo em que estão submersos estes hereges conhecidos como protestantes. Daí, com a autoridade dada pelo próprio Cristo, a Igreja poder proclamar infalivelmente, no IV Concílio de Latrão: "Não há Salvação fora da Igreja". É esta é a única via construída por Cristo para a Salvação do homem. E é nela que estão os Sacramentos, que trazem a nós os efeitos da Paixão de Nosso Senhor. Dito isto, passemos ao caso dos cânones da Bíblia.

Embora esta questão inclua os dois Testamentos, ela é mais complexa com relação ao Antigo. De fato, existiram dois cânones: o de Alexandria, também conhecido como "Versão dos Setenta" (Septuaginto) que é o verdadeiro e sempre foi usado pela Igreja, desde o tempo dos Apóstolos. E há também o da Palestina, em hebraico, assumido somente pelos fariseus. Eles foram escolhidos em reuniões onde os participantes julgavam criteriosamente quais os livros que deveriam compor a Sagrada Escritura. No primeiro caso, a tradução era grega, do séc. III a.C., e setenta e dois sábios judeus haviam se reunido em Alexandria, no Egito, por causa da diáspora. Os Apóstolos se utilizavam desta Bíblia e, das referências feitas ao Antigo Testamento pelo Novo, trezentas citações reafirmam o uso da Bíblia dos setenta.

O Cânon da Palestina aconteceu em virtude de uma reunião ocorrida em, mais ou menos, 100 d.C., na cidade de Jâmnia, e os critérios para a escolha dos livros canônicos era os seguintes: o livro que fosse escrito fora de Israel já era excluído da relação. Também não podia conter textos em aramaico ou em grego, somente em hebraico. Enfim, não podia ter sido escrito após a época de Esdras (458-428 a.C.). Vê-se que eram critérios densamente nacionalistas. Os livros existentes no cânon dos setenta e excluídos do de Jâmnia são chamados de deuterocanônicos e são, basicamente, sete: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, I e II Macabeus, e algumas partes gregas de Ester e Daniel.

Vê-se, por isto, que a escolha do primeiro cânon, isto é, o de Alexandria, era o usado por Nosso Senhor e os Apóstolos e é também o mais antigo, enquanto o da Palestina, sendo mais recente, assumia como critérios para a validade dos livros, o simples nacionalismo. Assim sendo, não há lógica dizer que os católicos, que mantêm o primeiro cânon, fizeram algum acréscimo mas, antes, que os reformadores, seguindo então o cânon de Jâmnia, REDUZIRAM a lista de livros canônicos. Aliás, isto já não deve surpreender-nos, pois vimos como os protestantes, crendo estarem auxiliados diretamente pelo Espírito Santo, têm feito coisas ridículas em toda a história de seu triste movimento.

Com relação ao Novo Testamento, a coisa simplifica um pouco. É sabido que houveram muitos escritos e que, diante da novidade cristã, muitos se entusiasmavam em escrever algo. No entanto, muitos destes escritos, provindos de pouca compreensão da Fé, continham heresias, algumas bem absurdas. Além dos livros escritos pelos Apóstolos, estes sim confiáveis, outras pessoas, de diferentes comunidades também dedicavam-se a escrever. E era comum que, para certificar-se de que alguém iria ler aquilo, os escritores usassem nomes de pessoas conhecidas do Cristianismo. Neste sentido há, por exemplo, o Apocalipse de S. Pedro, o Evangelho de Sta Maria Madalena, o Evangelho de Tomé, entre outros. Os Apóstolos, bem instruídos com relação à doutrina de Nosso Senhor, assumiram como critério para a validade de tais livros justamente a integridade da doutrina.

Temos que compreender que, antes do surgimento da bíblia do Novo Testamento, a Igreja já transmitia as verdades da Fé pela Tradição, uma das fontes de Revelação que a Igreja Católica observa. É por isto que o Apóstolo diz que a Fé vem pelo ouvir. Demorou-se muitos anos até que se compusesse os livros do Novo Testamento, e, até lá, a evangelização era feita pela voz. A Bíblia neo-testamentária só foi possível por causa da tradição. Foi ela que manteve a integridade da doutrina ensinada por Nosso Senhor. Interessante que os protestantes negam a Tradição, mas usam do livro dos Atos que é já o início da Tradição da Igreja. Se, como vimos, Nosso Senhor iria continuar a formar Sua Igreja, é óbvio que nem tudo estaria na Bíblia e que, aliás, a Bíblia seria filha da Igreja e não mãe dela. Foi a Igreja que formou os livros canônicos do Novo Testamento. Os demais eram chamados de apócrifos e, até hoje, gravitam por aí, fazendo muito uso deles os movimentos de cunho gnóstico, na tentativa de fundamentar seus disparates. Dentre estes apócrifos, havia alguns que mostravam um Jesus excêntrico que nunca piscava os olhos, ou que não deixava marcas no chão quando andava, ou que não precisava trocar de roupa porque esta crescia com Ele, ou que não precisava se alimentar. É também dos apócrifos esta teoria, mais ou menos disseminada entre nós, de supostos milagres feitos por Jesus em Sua infância. De fato, tais escritores não compreendendo a vocação de vida ordinária de Jesus, não podiam conceber que Deus feito homem pudesse viver de forma comum a Sua infância. Seria um absurdo se tais livros entrassem no conjunto da Bíblia, pois, se Cristo deve ser o nosso modelo, imaginem só pessoas por aí esforçando-se para nunca piscarem os olhos, ou então, nos confessionários, admitindo tristemente que tinham caído na tentação de trocar de roupa... É absurdo.

Enfim, acho que ficou claro essa questão. Os católicos, diante destas investidas protestantes, não devem temer e nem ficar contrariados. Estão na Igreja certa. Revistam-se do escudo da Fé para apagar os dardos inflamados do inimigo e munam-se do estudo da Santa Igreja para estarem prontos para responderem a razão de nossa Fé. Em especial nestes dias, onde as trevas avançam, faz-se necessário que sejamos luzeiros no meio de uma sociedade perversa e maliciosa que tende a se incomodar com aqueles que professam a Verdade única e absoluta, ou seja, nós, cristãos Católicos Apostólicos Romanos.

“Homens de estudo e homens de oração... mas antes, homens de oração”.

Fábio Luciano Silvério da Silva
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