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Sobre trevas e luz


É… Hoje em dia, com o pseudo-progresso que a sociedade diz ter alcançado, não são poucos os que, considerando a religião mais como um estorvo à evolução dos espíritos do que como caráter essencial de sua constituição e vocação, desejam fadá-la ao passado, ao tempo “da ignorância”, à época medieval, ao tempo da escravidão. Creem estes tolinhos que com o Renascimento, deu-se início o movimento de libertação da humanidade do julgo das trevas da Idade Média, onde a Igreja era o centro das vidas humanas. Entenderam que o antropocentrismo ao invés do teocentrismo era a solução para a emancipação da humanidade. Alguns, mesmo, ousam dizer que o pecado de Adão foi o primeiro grande passo para a independência.... Mas... que independência?.... E como se acreditassem em Adão...

Vivemos num tempo de ignorância extrema. É risonha esta troca que fazem: A Idade Média, tempo luminoso de Fé e progresso é tida como a “Época das Trevas”, enquanto o tempo atual, marcado pelas sombras de um subjetivismo, de um relativismo nojento, é tido como o “Tempo da Luz”. Ora, não são os morcegos os que vêem na escuridão e se ofuscam na luz do dia? Estes mesmos animais são os que dormem de cabeça para baixo, tendo assim, uma visão invertida das coisas. Destes “morcegos” humanos nos advertiu o profeta: “ai daqueles que à luz chamam trevas, e que às trevas chamam luz” (Is 5, 20). É deplorável, mesmo, a baixeza destes que se proclamam os libertadores do povo, ou daqueles que afirmam ter se desfeito dos “tabus” que aprisionavam os homens. É cômico notar que nunca fazem reflexão profunda das coisas, ficam na mediocridade, presos ao mais superficial fenômeno captado pelos seus cegos olhos. Não vêem a trave na própria retina e, por esta janela da alma, deixaram passar tanta escuridão que, sequer, dão conta dela. São facilmente enganados. Tudo o que surja como revolução e dogma científico oposto à Fé é acatado, pois geralmente são apenas vaidade e orgulho condensados com boa dose de crueldade.

De Deus querem se desfazer. Querem acabar com Aquele que os trouxe à existência. Ora, existiria contradição maior que esta? Um homem tentando destruir o seu próprio princípio fundante, na grande ilusão de favorecer sua própria felicidade? São imitadores, marionetes dos que se mostram como grandes. São cultuadores de falsos deuses, idólatras que, forçosamente, são mordidos pela serpente venenosa do pecado. Enquanto não deixarem de visar as coisas rasteiras, como fazem as galinhas, e não olharem ao alto, para Aquele que foi erguido no madeiro, a serpente os levará à morte, e a uma morte muito mais tenebrosa que a morte corporal, a morte da alma. Querem brincar com o Juíz, diante do qual, o mais justo dos homens tem motivo suficiente para tremer. Querem pisar no Sangue derramado em favor dos homens, querem ignorar a aflição do Cristo no Getsêmani... Querem abolir Deus da história, e instaurar de vez, no terreno da própria existência, o reino do outro, que, uma vez expulso da presença de Deus, não se contentou em ir sozinho.

Como são tolos estes morcegos... como são repugnantes, como se tornaram feios e dignos de repulsa. Mas, estes que agora sorriem, afundados já em tantas trevas, incomodados com a Luz dAquele que é a própria Luz refletida através dos Seus servos e amigos no mundo; estes que jazem na mentira, espetados pelos que proclamam a Verdade, se se mantiverem ainda sob o julgo do inferno, não tarde, gritarão às montanhas para que caiam sobre si, numa tentativa desesperada de se ocultar dos olhos dAquele que a tudo vê.

Meu Deus, não permita que eu seja destes, mas que daqueles que brilharão como o sol, no alvorecer da nova vida. Livra-me, Senhor, desde já de toda verdadeira escravidão, que é a do pecado, livra-me das trevas do inferno, incidi Tua Luz em minha alma e escreve a Tua Verdade na minha mente e no meu coração. Ensina-me, Senhor, a participar nesta vida de tua solidão e das tuas dores. Faz-me amar, vence os meus vícios, arranca-me a raiz imunda do amor próprio, e conforma-me contigo, oh Amor Meu...

Sim, Senhor, Tu és a Luz dos meus olhos. Oh, e se o que entra pelos olhos é a Vossa Luz, quão grande será a Luz desta alma... Dá-me esta honra, Senhor, para Vossa maior Glória, para Vosso maior Amor.

Crux in Corde, Corde in Crux

Fábio Luciano Silvério da Silva
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