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Agosto: Mês das Vocações


Como se sabe, Agosto é o mês das Vocações, e cá estou eu para tratar, novamente, deste assunto... eu que sequer resolvi a minha, rsrs... No problem.. Posso falar disso mesmo assim, pois definitivamente eu não passei ao largo da questão. Além disto, sei que há alguns que apreciam as minhas reflexões sobre alguns temas, pelo que me mantenho a escrever, muito embora este espaço tenha se tornado, já há algum tempo, mais um sítio de transcrições. Pois bem. O que ponho abaixo são somente alguns pensamentos sobre o assunto, já imensamente conhecido de muitos. Mas vamos lá...

É comum, ao tratarmos deste tema, começarmos pela etimologia do termo "vocação". Vem do latim "vocatio" ou "vocare", que significam "chamado" ou "chamar". Quer isto dizer que todos nós que viemos ao mundo temos um chamado em nós. Deus, ao nos criar, nos pôs uma aptidão para algo em específico. Este algo específico coincide com a nossa felicidade e a nossa plena abertura para Deus, de modo que, se não seguimos a vocação ou o chamado que recebemos, a nossa felicidade não será completa nem a nossa abertura a Deus se dará em toda a sua potência. Ora, quem não quer ser feliz? Quando, por exemplo, resistimos ao chamado que Deus nos faz e optamos pela nossa própria vontade, por que o fazemos? O fazemos por desconfiar do projeto divino e por crer, tolamente, que a nossa vontade imediata satisfeita é que nos proporcionará o gozo e alegria que esperamos. Ledo engano... Somente seremos felizes em Deus.. e enquanto não internalizarmos esta verdade, submetendo a ela todos os nossos caprichos, a nossa vida será um contínuo suceder de pontos de prazer egoísta e de rasgos de frustração.

O primeiro chamado, pois, que Deus nos faz é à felicidade, à realização do nosso ser. A vida humana tende a ser um constante cálculo sobre o que nos permitirá levar a termo este intento de alegria. Se viajamos, se optamos por um emprego, se casamos, se escrevemos poesia ou fazemos música, etc., geralmente o fazemos na esperança da felicidade. Claro que há os que trabalham por necessidade, mas estes estão coagidos; não têm a liberdade da opção. Se pudessem, obviamente escolheriam o que, dentro das suas expectativas, os fizesse feliz.

Pois bem. A felicidade plena se identifica com a plena posse de Deus. A felicidade é, pois, o fim. Convém, então, saber quais sejam os meios de a alcançar.

Se a felicidade está vinculada necessariamente a Deus, podemos concluir obviamente que não há felicidade sem Deus. Isso não chega sequer a ser uma conclusão; é a mesma idéia vista sob um aspecto diverso. Devemos entender, também, que a felicidade não se identifica com certas alegrias passageiras e momentâneas. Ela é, antes, um estado contínuo e uma resposta da alma. Não é algo, pois, que se deva agarrar de exterior, mas algo que surge na alma mesma, desde que esta esteja em pleno acordo com a verdade de seu próprio ser. Daí, logo se vê o quanto ela diverge dos pequenos prazeres egoístas que podemos obter no dia a dia, provocados por nós mesmos a partir da apropriação de qualquer coisa de exterior, e evanescentes tão logo surgem. Aliás, quando a alma lança mão de seu egoísmo a fim de obter prazer, não só ela não encontra a felicidade, como dela se afasta. Uma pessoa, então, cuja vida seja pautada por desejos interesseiros segue em contradição consigo mesma. Tanto sua liberdade quanto sua inteligência andam enevoadas e nada percebe além do apertado campo de soberba no qual opera.

A vocação, pois, sendo chamado de um Outro, tende primeiramente a nos libertar de nós mesmos. Tirando-nos da prisão do nosso egoísmo, nos põe em contato com a vastidão dos horizontes divinos. Sendo obediência à vontade deste Outro, mortifica a nossa soberba, nos abre a inteligência e nos cura a vontade. E, por ser este Outro o próprio Deus, a vocação nos é um farol divino que nos aponta a direção da verdadeira vida. Resistir, pois, à vocação é hesitar no caminho da verdadeira alegria.

Sendo a vocação um chamado, trata-se muito mais de descobrir qual seja do que de meramente escolher, como pensam alguns. Não se deve optar somente movido pela simpatia - embora a simpatia possa sim ser um sinal, mas não suficiente para uma decisão - nem muito menos fazer da vocação um mero meio de escape ou de refúgio dos próprios medos. A vocação é um ato de abandono e, portanto, deve ser assumida com coragem.

Devendo sua razão de ser ao amor de um Deus que "nos amou primeiro", a vocação deve respondida igualmente com um ato de amor. O amor tem algumas propriedades bem específicas: 1- ele submete amante a amado; 2- ele move o amante em direção ao amado; 3- ele transforma o amante no amado. No primeiro ponto, o amor nos pede abrir mão da nossa soberba, da nossa altivez, pelo que nos faz humildes. No segundo ponto, ele nos tira do nosso fechamento, da nossa afetada isenção e do nosso conforto e nos pede sair de nós mesmos, esquecendo-nos dos nossos próprios caprichos, pelo que nos faz maduros e corajosos e nos ensina que é por uma espécie de morte de nós próprios que poderemos encontrar a vida. No terceiro ponto, encontramos o Amado e  nos transformamos n'Ele.. Acontece que nesta transformação, o que se dá é a assunção do nosso verdadeiro eu, aquele que Deus criou e conhece; da nossa verdadeira identidade, o que equivale a dizer que só pelo amor a Deus teremos despertado das ilusões.

Porém, como se sabe, o ato do amor é sempre precedido pelo conhecimento, de modo que se quisermos amar a nossa vocação e corresponder ao projeto divino, precisamos ter uma certa intimidade com Deus, a fim de distinguir-Lhe a voz e compreender-Lhe a vontade. Se pretendemos, então, levar a sério a nossa vocação, não podemos nos distrair da religião. Muitos há que, em face das dificuldades que a vida coloca, resignam-se numa atitude passiva e simplesmente "esquecem". Atordoam-se com mil e um compromissos e com sucessivas paixões,  e o ruído do mundo abafa aquela voz suave. É preciso, ao contrário, estar junto d'Ele. Só então, é possível conhecer a Sua intimidade e algo do mistério que somos nós.

Se prosseguimos neste caminho, Deus irá nos amadurecendo gradativamente e estendendo a nossa visão sobre muitas coisas. Teremos dilatada a nossa capacidade de amar e de nos abandonar. Chegará, pois, um momento em que, mesmo sem esgotar este mistério, poderemos dar uma resposta consciente ao que, até agora, pareceu-nos ser a Sua voz. E damos! Este arriscar é próprio do amor... E é disto que surge a liberdade e o desprendimento de nós mesmos. Sem este desprendimento, não há vida espiritual. Isto equivale a dizer que os que fazem da vida espiritual uma contínua afirmação do próprio ego só vão se enganando e ainda não começaram nada.

Há vários tipos de vocação, e meu intuito não é tratar de cada uma em separado. Quero apenas frisar este aspecto: a multiplicidade de caminhos existe segundo uma unidade: a da abertura a Deus. Esta abertura se dá enquanto conscientização de uma fome visceral que temos de transcendência. Ter um senso agudo desta fome e atiçá-la é o propósito da vocação, pois é a partir disto que nós poderemos ter uma total abertura, docilidade e correspondência a Deus.

Alguns de nós teremos uma capacidade particular para esta abertura, e o conseguiremos a partir de uma consagração total da nossa afetividade a Deus. Seremos realizados nesta via mais verticalizada, e Nosso Senhor assumirá como que um papel de Esposo. Estas pessoas tenderão à vida religiosa ou sacerdotal. Se privarão da companhia de um cônjuge porque deverão viver de uma intimidade toda particular de Deus, abrasadas de amor por Ele. 

Outros, no entanto, alcançarão esta plena abertura a partir da relação afetiva íntima com outras pessoas. Quantos exemplos nós não vemos de sujeitos que aprendem a ser alguém quando assumiram a responsabilidade de ser um pai de família? O que acontece é que o amor pelo cônjuge e os filhos geralmente tende a forçar a pessoa para fora de si mesma, o que a amadurece sobremaneira. Neste caso, não se anula e nem se pretende anular aquela fome de que falamos, a fome de transcendência. O que se dá aí é que a companhia de outra pessoa torna-se necessária também para que, rompendo a camada egoísta, a pessoa se dê conta, enfim, deste seu vazio. A outra pessoa não servirá para satisfazer este desejo, pois ele é infinito. Se tal for a pretensão, o que se terá é somente frustração, pois ninguém pode concorrer com Deus. E a pessoa que tem esta sede imensa tampouco pode disfarçá-la, pois sendo a sede humana 'capaz' de Deus, é uma sede maior que a própria alma.

O modo de saciar esta sede: eis o que é a vocação. Caminho para o abraço divino. Enquanto, porém, não tomamos consciência de que é Deus que nós queremos, sairemos tentando freneticamente satisfazer esta sede com mil e uma distrações. Enquanto isso, Nosso Senhor estará a nos espreitar e esperar, sedento também ele de nós e de nosso amor, e nos dirá suavemente: "se soubesses quem é que te pede de beber, certamente tu Lhe pedirias e Ele te daria uma água viva e tu já não tornarias a ter sede".
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4 comentários:

  1. Caríssimo,

    Eu e minhas pelejas!Até quando isto terá fim? Sei que meu tempo corre a galopes, mas sei também que Nosso SEnhor sabe quem eu sou. SEi também que a última decisão é minha e Ele espera por uma decisão seja ela qual for. Muito embora já tenha enviado a minha carta ao Conselho comtemplativo. Agora só fico a esperar. Lembro que certa vez Pe. Tito me disse no começo do ano: "Quanto mais tempo ficar aqui mais sofrerá." Como já disse a você milhões de pensamentos (muitas vezes ruins que me deixam triste)sobrevoam meu imaginário e vão me deixando confusa. Meu Deus, caríssimo, como minha fé é imatura e como eu sofro com isso. Tantas pistas já foram dadas e minha visão ainda continua turva.
    Tenho sempre você, Breno e Sirlaine em minhas orações. Conto com suas também.
    Em Cristo Bom Pastor,
    Laninha.
    Parabéns pelo artigo.

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  2. SEmpre Tenho a ousadia de dizer que sou uma boa amiga para aqueles que recorrem a mim. Que paradoxo! Sou a mais infiel do melhor e maior Amigo. Como O traio com meu amor-proprio desenfreado que me impede de ser sua amiga.
    Santa Teresa falava: "Por isso tens poucos amigos..."
    Ó meu Jesus, até quando continuarei Te traindo?Mas eu sei que Ele me entende e este ano tudo será resolvido.
    Um abraço
    Laninha

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  3. Sim, Laninha.. em breve, tudo se resolverá.. Tenha fé.
    Lembro de ti, também, nas minhas orações...
    Peço que continue rezando por mim, pois estou a passar por alguns problemas incômodos de saúde...

    Um abraço.

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  4. Estar a esclarecer pessoas com tanto entendimento desse assunto complexo é grande vocação! "O AMOR alimenta-se do que doa ao outro e se enriquece quando abandona as próprias necessidades."
    Sei que a FÉ é mais importante! Só O CRIADOR tem poder de mudar toda situação. O desconforto pode trazer reflexão e suscitar uma reforma na maneira de olhar para os acontecimentos ao passo que a comodidade promove a inércia que trama Laninha.
    "Quanto maior é o anseio por algo, mais próximo ele se torna!" A minh’alma anseia, com todo fervor, por DEUS! Meu SENHOR! Meu TUDO!

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