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O que é secularismo


A expressão "o mundo" é talvez muito vaga Não se refere simplesmente a "tudo que está em torno de nós" ou ao universo criado. O universo não é mau, é bom. O "mundo" no mau sentido, certamente não é o cosmos, embora escritos de alguns autores cristãos neoplatônicos sugiram este significado para a expressão. Para eles, o saeculum é o que é temporal, o que muda, dá a volta e retorna ao ponto de partida. Isso se deve a influências gnósticas e platônicas que se infiltraram no cristianismo, persuadindo os homens de que o universo é regido por anjos mais ou menos caídos ("as potências dos ares"). Nosso adjetivo "secular" é proveniente do latim saeculum, que significa tanto "mundo" quanto "século". A etimologia da palavra é incerta. Talvez esteja relacionada ao Grego kuklon, "roda", do qual tiramos "ciclo". Portanto, originariamente, o "secular" era o que percorre, interminavelmente, ciclos sempre recorrentes. Isso é o que faz "a sociedade mundana", cujos horizontes são de uma sempre repetida mesmidade:

Uma geração vai, uma geração vem, e a terra sempre permanece. O sol se levanta, o sol se deita, apressando-se a voltar ao seu lugar e é de lá que ele se levanta. O vento sopra em direção ao sul, gira para o norte, e girando e girando vai o vento em suas voltas. (...) O que foi, será, o que se fez, se tornará a fazer: nada há de novo debaixo do sol! (...) Vaidade das vaidades, tudo é vaidade." (Ecle 1)

Ora, toda a nossa existência nesta vida está submetida à mudança cíclica. Só isso por si não a faz secular. A vida se torna secularizada quando se compromete inteiramente com os "ciclos" do que parece ser novo, mas de fato é a mesma coisa de sempre. A vida secular é uma vida de vãs esperanças, aprisionada à ilusão de novidade e mudança, uma ilusão que nos faz voltar sempre ao mesmo ponto, a contemplação de nossa própria nulidade. A vida secular é uma vida desesperadamente dedicada à fuga, pela novidade e variedade, de nosso temor da morte. Quanto mais nos decepcionam as novidades, mais desesperadamente voltamos ao ataque, forjando novas esperanças, ainda mais extravagantes que as anteriores; e também estas nos decepcionam. Voltamos então à mesma condição de que tentávamos em vão escapar. Nas palavras de Pascal:

Nada é mais insuportável para o homem do que estar em pleno repouso, sem paixões, sem afazeres, sem divertimento, sem aplicação. Ele sente então todo o seu nada, seu abandono, sua insuficiência, sua dependência, sua impotência, seu vazio." (Pensamentos, 131)

A sociedade "secular" está, por sua própria natureza, comprometida com o que Pascal chama "divertimento", isto é, com o movimento que tem antes de tudo a função anestésica de aquietar nossa angústia. Toda sociedade, sem exceções, tende a ser, em alguma medida, "secular". Uma sociedade genuinamente secular, no entanto, é a que não pode se contentar com inocentes fugas de si mesma. tende, cada vez mais, a necessitar e exigir, com insaciável dependência, satisfação em ações injustas, malignas e mesmo criminosas. Daí o crescimento de negócios economicamente inúteis, que existem para o lucro e não para a produção real, que criam necessidades artificiais às quais satisfazem prontamente com produtos sem valor e de rápido consumo. Daí também as guerras que surgem quando produtores competem por mercados ou por fontes de matéria-prima. Daí o niilismo, o desespero e a anarquia destrutiva que se seguem à guerra; e, por fim, a cega corrida para o totalitarismo como fuga do desespero. Nosso mundo já alcançou o ponto em que, para conseguir algum divertimento, está pronto a se explodir. A era atômica é o ponto mais alto já alcançado pelo secularismo. Isso nos indica, é claro, que a raiz do secularismo é a privação de Deus.

O secular e o sagrado refletem duas espécies de dependência. O mundo secular depende das coisas de que precisa para se divertir e fugir de sua própria nulidade; depende da criação e multiplicação de necessidades artificiais, que ele então "satisfaz". Portanto, o mundo secular é um mundo que pretensamente exalta a liberdade humana, mas no qual cada homem é de fato escravizado pelas coisas de que depende. Na sociedade secular, o próprio homem é alienado; é mais uma "coisa" que uma pessoa, porque está submetido ao governo do que lhe é inferior e exterior. Está sujeito a suas sempre crescentes necessidades, sua intranquilidade, insatisfação, ansiedade e seus temores, mas, acima de tudo, à culpa que o reprova por ser infiel à verdade que leva dentro de si. Para escapar a essa culpa, ele então mergulha ainda mais fundo na falsidade.

MERTON, Thomas. A Experiência Interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.72-74
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