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O paradoxo do arrependimento – C. S. Lewis


“Em que tipo de “buraco” caíra o homem? Ele procurara ser auto-suficiente e se comportara como se pertencesse a si mesmo. Em outras palavras o homem decaído não é simplesmente uma criatura imperfeita que precisa ser melhorada; é um rebelde que precisa depor as armas. Depor as armas, render-se, pedir perdão, dar-se conta de que tomou o caminho errado, estar disposto a começar uma vida nova do zero – só isso pode nos ‘tirar do buraco’. Esse processo de rendição, movimento de marcha a ré a toda velocidade, é o que o cristianismo chama de arrependimento. Mas, veja só, o arrependimento não é nada agradável. É bem mais difícil que simplesmente engolir um sapo. Significa desaprender toda a presunção e a obediência à vontade própria que nos foram incutidas por milhares de anos; significa matar uma parte de si mesmo e submeter-se a uma espécie de morte. Na verdade, só um homem bom pode arrepender-se. E isso nos leva a um paradoxo. Só uma pessoa má precisa do arrependimento, mas só uma pessoa boa consegue arrepender-se perfeitamente. Quanto pior você é, mais precisa do arrependimento e menos é capaz de arrepender-se. A única pessoa capaz de arrepender-se perfeitamente seria uma pessoa perfeita – e não precisaria fazê-lo em absoluto.”

C. S. Lewis. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2013. p.75-76.
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