Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

A abertura criadora do amor humano e o egoísmo do nosso século


Thomas Merton

A Igreja compreende o amor humano com uma inteligência melhor e mais profunda do que o homem hoje, que pensa conhecer-lhe todos os segredos. A Igreja bem sabe que frustrar a finalidade criadora da geração humana é confessar um amor que é insincero. E insincero porque é menos que humano, menos até que animal. Amor que só procura gozar, sem nada criar, não é sequer uma sombra de amor. Não tem poder nenhum. A impotência psicológica da nossa exagerada geração deve ser imputada à irresistível acusação de insinceridade que todo homem e toda mulher que amam unicamente pelo prazer sentem no fundo da alma. Um amor que tem medo de filhos por qualquer motivo que seja, é um amor que tem medo do amor. É dividido contra si próprio. É uma mentira e contradição. A própria natureza do amor exige o aproveitamento da sua força criadora, a despeito de qualquer obstáculo. O amor, mesmo humano, é mais forte do que a morte. Por conseguinte, o verdadeiro amor é mais forte do que a pobreza, a fome ou a angústia. E, no entanto, os homens do nosso tempo não põem, em amar, essa coragem de arriscar mesmo o incômodo.

Não é surpreendente que a Igreja despreze completamente os argumentos econômicos dos que pensam ser o dinheiro e o conforto mais importantes do que o amor? A vida da Igreja é em si mesma a forma mais alta do amor, e nesse amor mais elevado todos os amores menores recebem a proteção e a guarda de uma sanção divina. É inevitável que no dia em que os homens esvaziem de toda a sua força e conteúdo o amor humano, continue a Igreja o seu último defensor. Mas, o que é certamente irônico, é que a sábia doutrina da Igreja proteja mais o prazer físico do amor humano, do que os sofismas daqueles cujo fim aparente é só o prazer. Aqui, ainda, sabe a Igreja de que é que está falando, ao lembrar-nos que o homem é feito de corpo e alma, e que o corpo só preenche bem as suas funções quando inteiramente sujeito à alma, e esta à graça, isto é, ao amor divino. Segundo a doutrina da Igreja, a virtude da temperança não é destinada a esmagar ou desviar o instinto humano de prazer, mas a levá-lo a servir a seu fim: conduzir o homem à perfeição e à felicidade em união com Deus.

E, assim, é a Igreja obrigada pela sua inflexível lógica a deixar ao homem toda a ordenada plenitude de prazeres necessários ao bem-estar da pessoa e da comunidade. Ela jamais considera o prazer como um "mal necessário" a tolerar. É um bem, que pode contribuir à santificação do homem, embora seja extremamente difícil ao homem decaído fazer dele um bom emprego. Daí o rigor das suas leis. Mas não devemos esquecer a finalidade das leis, que é a de assegurar tanto os direitos de Deus, como os do homem. Inclusive, os direitos do corpo do homem.

Uma vez ainda, não me acusem de exagero ao buscar o problema da sinceridade em suas raízes no amor humano. O egoísmo de uma época devotada ao mero prazer manchou toda a raça humana com um erro que converte todos os nossos atos mais ou menos em mentiras contra Deus. Um século como o nosso não pode ser sincero.

MERTON, Thomas. Homem Algum é Uma Ilha. Rio de Janeiro: Agir, 1968. p. 167-168.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...