Thomas Merton
A boa utilização do esforço é determinada pelas indicações da vontade de Deus e sua graça. Quando se está simplesmente obedecendo a Deus, um pequeno esforço basta para fazer muito caminho. Quando, em realidade, se está resistindo a Ele (embora declarando não ter outra intenção senão realizar Sua vontade), esforço algum, por maior que seja, pode produzir bom resultado. Pelo contrário, a teimosa capacidade de continuar a resistir a Deus apesar de indicações sempre mais nítidas de sua vontade, é sinal de que se está em grande perigo espiritual. Com frequência, a pessoa interessada é incapaz de percebê-lo por si mesma. Essa é mais uma razão por que um guia ou pai espiritual pode ser realmente necessário.
Este trabalho do pai espiritual não consiste tanto em ensinar um método secreto e infalível para atingir experiências esotéricas, mas em mostrar-nos como reconhecer a graça de Deus e sua vontade, como ser humildes e pacientes, como desenvolver nossa visão interior em relação a nossas próprias dificuldades e como remover os principais obstáculos que nos impedem de sermos pessoas de oração.
Esses obstáculos podem ter raízes profundas em nosso caráter e, em realidade, podemos afinal ficar sabendo que uma vida inteira mal será suficiente para removê-los. Por exemplo, muitas pessoas que têm alguns dons naturais e um pouco de engenho têm tendência a imaginar que soa capazes de aprender facilmente, por sua própria esperteza, a dominar os métodos – poder-se-ia dizer, os “truques” – da vida espiritual. A dificuldade, porém, está no fato de que, na vida espiritual, não existem “truques” nem atalhos. Os que imaginam poder descobrir “passes” especiais e pô-los em prática por si mesmos, geralmente desconhecem ou não fazem caso da vontade de Deus e de sua graça. São autoconfiantes e até autocomplacentes. Resolvem alcançar isto ou aquilo e tentam escrever seu próprio itinerário na vida contemplativa. Podem mesmo parecer ter algum êxito, até certo ponto. Porém, alguns sistemas de espiritualidade – notavelmente o budismo zen – colocam grande ênfase num estilo de direção muito severa, “nada de tolices”, que resolve em pouco tempo esse tipo de autoconfiança. Não se pode nem mesmo começar a fazer frente às verdadeiras dificuldades da vida de oração e meditação se não se está primeiro perfeitamente satisfeito em ser um principiante e experimentar que se é realmente alguém que sabe pouco ou nada, tendo necessidade premente de aprender mesmo aquilo que é mais rudimentar. Os que pensam “saber” desde o início, jamais chegam, de fato, a saber alguma coisa.
As pessoas que tentam orar e meditar acima do seu próprio nível, que se mostram demasiadamente desejosas de alcançar o que creem ser “um elevado grau de oração”, afastam-se da verdade e da realidade. Ao observarem-se a si próprias e ao tentarem convencer-se de seus progressos, tornam-se prisioneiras de si mesmas. Quando então percebem que a graça delas se afasta, permanecem presas em seu próprio vazio, na inutilidade de seus esforços e ficam desamparadas. A acedia substitui o entusiasmo do orgulho e da vaidade espiritual. Um longo tirocínio no caminho da humildade e da compunção, eis o remédio!
Não queremos ser principiantes. Mas fiquemos convencidos do fato de que jamais seremos outra coisa a não ser principiantes a vida inteira!
Thomas Merton, Poesia e Contemplação
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