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Sta Teresa D'Avila sobre a oração mental - "Não se prive de tanto bem"


Muitos santos e bons escritores já têm falado no grande bem que se encontra no exercício da oração, digo da oração mental. Glória a Deus por esse benefício! Se não o tivessem feito, jamais me atreveria sobre tal assunto. Embora eu seja pouco humilde, contudo, minha soberba não chega a tanto. Posso dizer apenas o que sei por experiência, isto é: quem começou a se entregar à oração, não a deixe, por mais pecados que faça. Com ela terá meios de se recuperar, ao passo que sem ela será muito mais difícil.

A ninguém tente o demônio como a mim, fazendo abandonar a oração sob pretexto de humildade. É certo que as palavras do Senhor não podem faltar, se nos arrependemos sinceramente com propósito de não o ofender mais. Ele nos acolhe com a mesma amizade, e faz as graças que antes concedia, e às vezes muito mais, se o arrependimento tal merece. A quem ainda não começou, rogo, por amor do Senhor, que não se prive de tanto bem.

Não há que temer aqui, senão que esperar. Suponhamos que não progrida nem se esforce por adquirir a perfeição necessária para merecer as delícias e consolações que o Senhor dá aos perfeitos, pelo menos irá aprendendo o caminho para o céu. Se perseverar neste santo exercício, espero tudo da misericórdia de Deus, sabendo que ninguém o tomou por amigo sem ser amplamente recompensado. A meu ver, a oração não é outra coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com ele.

Talvez ainda não o ameis, porque para ser verdadeiro o amor e duradoura a amizade, os gênios devem combinar. Sendo a sua condição tão diferente da vossa, não podeis resolver-vos a amá-lo tanto. A do Senhor - já se sabe - é de não incorrer em falta, ser perfeito, enquanto nós, por natureza, somos viciosos, sensuais e ingratos. Contudo, considerando o muito que ele vos ama, e o quanto importa sua amizade, suportai o constrangimento de permanecer muito tempo com quem é tão diferente de vós.

Oh! bondade infinita de meu Deus! Desta sorte parece-me estar vendo a vós e a mim! Oh! delícia dos anjos! Quando isto vejo, quisera desfazer-me toda em vosso amor! Como é certo que tolerais a quem não vos quer tolerar junto de si! Que bom amigo sois, Senhor meu! Como tendes paciência acariciando a alma, à espera de que se amolde à vossa condição. Até que o consigais, vós suportais a sua! Levais em conta, meu Senhor, o breve instante em que ela procura amar-vos, e por um vislumbre de arrependimento de sua parte olvidais quanto vos tem ofendido.

Isso claramente vi por mim. Não entendo, Criador meu, o motivo pelo qual o mundo todo não procura chegar-se a vós para travar particular amizade. Até os que são maus e não têm vossa condição, deviam aproximar-se de vós para que os façais bons.

Assim acontecerá se consentirem que, ao menos duas horas cada dia, vós estejais em sua companhia, muito embora não fiquem em vossa companhia, mas agitados com mil preocupações, cuidados e pensamentos do mundo, como eu fazia. Na verdade, devem fazer esforço para estar em tão boa convivência. Nos princípios, e mesmo depois, algumas vezes, é só o que conseguem. Em recompensa, vós impedis os demônios de atacá-los, ao passo que aumentais a força da alma de modo a vencer o inimigo. Sim, vida de todas as vidas! Dos que se fiam de vós e vos querem por amigo, a nenhum matais, antes lhes sustentais o corpo com melhor saúde e dais vida à alma

Sta Teresa D'Avila, Livro da Vida
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