Estou, já, atrasado, mas não queria deixar passar essa data. Ontem comemoramos o dia dos namorados e eu gostaria de tecer alguns comentários a respeito.
O que é namorar? O modo como a palavra é escrita parece sugerir que seu significado é estar “em amor” com. Poderíamos ainda brincar e dizer que a pretensão última do namorar está já expressa na terminação do termo: “morar”. O namoro se ordena ao casamento e, portanto, ao ato de morar junto.
Nessa nossa divertida e descuidada análise do nome, já tocamos em pontos fundamentais para compreendermos a ideia do namoro. Aprofundemo-los.
Namorar é estar em amor com, dissemos. Mas o que é amar? Amar é um ato da vontade que deseja, além da proximidade particular de alguém, também o seu bem em todos os aspectos. Porém, tal ato da vontade pede um outro que lhe seja anterior: um ato de conhecimento. É preciso conhecer a pessoa antes de amá-la.
E como podemos conhecer a pessoa? Precisamos, para isso, submeter à nossa inteligência algumas das suas características. Mas isso tudo só se faz depois de algumas impressões, pré-racionais, que obtemos quando entramos em contato com a pessoa e que despertam em nós simpatia ou antipatia. Se for simpatia, aquilo nos abre uma via pela qual poderemos chegar a conhecê-la e, então, teremos como analisar outras características suas e notar se a tal pessoa merece ser amada por nós. Notemos, contudo, que a simpatia ou antipatia inicial se dá de modo pré-racional e às vezes se mantém de modo irracional. Em muitos casos, o que irá determinar a nossa relação com a pessoa, por mais racionais que sejamos, é o modo como nos sentimos ao lado dela. Algumas mulheres terão a experiência de, racionalmente, saber que um dado homem não vale muito a pena e, não obstante, desejá-lo veementemente. Todavia, isso não deve nos dispensar da análise das características mais profundas da pessoa, pois uma relação sólida não se estabelece em cima de impulsos irracionais. Não podemos agir neste terreno de modo inconsequente.
Estes traços dos quais deveremos ter conhecimento a fim de que a nossa vontade possa amar – a vontade deve ser guiada pela inteligência, não pela sensibilidade – não podem se restringir à mera estética, isto é, aos aspectos físicos. Falando de modo mais claro: o determinante para um namoro não deve ser o quanto uma pessoa é “gostosa”. Obviamente, isto tem sua importância, mas está longe de ser o fator mais essencial. Em alguns casos, até, este é um ponto que pode ser dispensado. Há heróis neste quesito...
Mas é preciso se deter principalmente na interioridade da pessoa, no modo particular da sua personalidade, nos seus valores, nos seus projetos e ideais. Se vemos que nela prevalecem certos traços que a fazem digna de ser amada, e se ela, por sua vez, nos corresponde, então já temos o necessário para que se inicie a fase de maior intimidade – mas, ainda, intermediária - que caracteriza o namoro. Aqui se pensa estarem liberadas quase todas as práticas do casamento. Mas isto é falso em absoluto. O namoro deve ser um tempo de carinho e de conhecimento: o carinho se expressa pelo cuidado e respeito, e o conhecimento aí referido não tem por objeto a textura do corpo da outra, principalmente a de certos vértices, nem se a outra pessoa possui uma capacidade respiratória maior que a sua ou se possui uma língua muito flexível. A rigor, o namoro não é tempo de nada disso. Deve ser, antes, uma fase de sondagem da alma do outro. Portanto, é importante ter toda uma atenção com os modos de expressão dos carinhos que, por mais bem intencionados que sejam, podem ter a faculdade de acender certos fogos que darão muito custo para apagar. E ninguém pense ser santo ou ingênuo o suficiente para não cair nestas situações. Este tipo de má ingenuidade será perdida de um jeito ou de outro. É sempre bom relembrar o verdadeiríssimo adágio: “em termos de castidade, não há fortes; há prudentes!”. Use, portanto, este tempo rico para expressar seu carinho de um modo correto e sóbrio e para conhecer interiormente – espiritualmente, não fisicamente – a outra pessoa.
Namorar visa morar junto. Se o amor é uma fase intermediária, como dizíamos, então ele se ordena a um termo ou fim que é o casamento. Qualquer meio que não visa a um fim não é meio coisíssima nenhuma. Todas as vezes que fazemos de um meio um fim, nós distorcemos o meio, que perde, então, a sua legítima dignidade e se torna num certo tipo de fetiche. Alguém que pensa em namorar apenas por namorar age como alguém que pega uma colher sem nenhuma referência ao ato de alimentar-se. Porém, a razão de ser da colher é servir de meio para que o alimento seja posto na boca. Se queremos a colher pela colher, alguma coisa está errada.
O namoro se ordena ao casamento, e se isto não precisa ser intensamente discutido no início do envolvimento, para que a coisa não fique pesada e não perca o frescor agradável que é típico dessa fase, o matrimônio, porém, não deve sair do horizonte das partes. Por isso, namorar é o mesmo que dizer: “passemos este tempo para que eu comprove se você será a pessoa com quem me unirei por toda a vida diante de Deus”. Vê-se, desse modo, como é, mesmo, uma fase de se conhecer o outro. Nesta fase, o casal também será chamado a aprender a conviver com as arestas da pessoa, com certos modos que lhe serão desconfortáveis, ao mesmo tempo em que terá de aprender a rebaixar seu orgulho e ceder em algumas coisas. Os dois deverão aprender a entrar num consenso. Também acontecerá de um ou outro chegarem a ter contato com outras pessoas que despertarão um tipo de simpatia muito similar ao que lhe despertou, no início, esta pessoa com quem ele namora. Se tal acontecer, será a ocasião de começarem a aprender o que significa a fidelidade – conceito fundamental no casamento e que exige uma fortaleza interior que só se dá numa pessoa experimentada – e de como é importante saber negar a si mesmo de modo, inclusive, enérgico. Todas estas dificuldades visam preparar a têmpera do jovem casal para, futuramente, unirem-se diante de Deus e assumirem a responsabilidade de formarem uma família incluindo, é lógico, a disposição de ter os filhos que Deus lhes conceder.
Este é um outro tema no qual eu não entrarei agora. Porém, é importante que o namoro seja visto como algo saudável e cuja natureza é totalmente distinta do que se tem apresentado, hoje, no mundo. Um namoro bem vivido amadurece os namorados, os vai libertando gradativamente de seus egoísmos mais arraigados e preparando-os para uma relação de amor que, idealmente, deverá ser o meio de salvação pelo qual Deus os unirá consigo. Não excluamos Deus de nenhum dos estágios disso tudo. Sem ele, todo o edifício desanda. Que não seja necessário que alguém constate isso empiricamente. Leia esse texto e acredite. Resgatemos a beleza do relacionamento correto e que a Virgem Maria, namorada e esposa de São José, nos conduza.
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