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As filhas da acídia


Hoje em dia, a raça dos Gerasenos [dos que preferem os porcos a Jesus] está proliferando. (Cf. Mt 8,28ss). Grassa, mesmo nos países cristãos, o "materialismo prático" (aliás tradução moderna adequada da palavra acídia) e no séquito dele encontramos crescente desassossego e desajustamento. Não se recalcam impunemente realidades dinâmicas, nem instintivas nem muito meno espirituais e sobrenaturais. A acídia é considerada vício capital, quer dizer, fonte de muitos outros pecados. Sto Tomás apresenta uma lista dos "filhos da acídia" que parece pintar um quadro exato da vida moderna.

O primeiro filho é o desespero. Kierkegaard chamou o desespero a "doença até a morte". Que alguém desesperadamente não queira ser o que é, é realmente "doença mortal." Mas não é essa a atitude do mundo moderno diante das realidades sobrenaturais? A humanidade não pode libertar-se de Jesus. Não pode ignorá-lo. Jesus é a decisão. Depois de Cristo, o homem só se pode realizar como cristão. Querer negar isso é negar a si mesmo, é não querer a própria realidade. Tal luta e rutura interior produz o desespero da vida. A vida depois de Cristo só tem sentido em Cristo, na orientação para o sobrenatural. Fora disso, fica apenas o tédio.

Então toma conta da alma outra filha da acídia: a inquietação dissipada do espírito. Hoje diríamos "sensacionalismo". Não aceitando a própria realidade, o homem procura abafar tudo com sensações sempre novas, atividade febril e divertimentos em sequência. Sempre mais invade o coração a insensibilidade para com tudo o que é necessário para a salvação. Igrejas vazias, frequência diminuta dos sacramentos, aversão à palavra de Deus, perda do "sentido do pecado", torpor espiritual. Daí vem pusilanimidade em face das grandezas oferecidas por Deus, e rancor contra todos aqueles cuja missão é defender e propagar o reino de Deus nas almas. E, afinal, endurece a alma na malícia completa, no ódio contra tudo o que é divino. - Realmente, um quadro impressionante! Ilustrando e explicando, ao menos em parte, o desajustamento e o desespero que reinam no mundo moderno.

Frei Valfredo Tepe, OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da fé, 1960. p.64-65.
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