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Instinto Sexual e Castidade II: Moralidade das poluções noturnas e prazeres sexuais involuntários


Tanto o castelo de fada, como a casa da bruxa exercem misteriosa atração. Não só o desejo, também o medo aprisiona a vida emocional num círculo mágico. A sexualidade não é fada nem bruxa. O conhecimento sóbrio de sua realidade, como tendência psico-biológica de caráter universal e dinamismo considerável, "desencanta" sua atuação sobre fantasia e vida emocional.

Deixar uma criatura na ignorância (na "bela" inocência"), sob pretexto de preservá-la dos perigos da sexualidade, é lamentável desserviço. Justamente tal ignorância afetada de uma realidade dinâmica existente em todos os seres é que produz inquietações e angústias desnecessárias. A tensão nervosa favorece aquilo que se quer evitar. O medo de um perigo desconhecido pode tiranizar o psiquismo a ponto de lhe impor idéias fixas ou atos coercitivos que intimamente se detestam. Devemos aceitar com realismo e humildade a natureza humana como Deus a fez. Então teremos a disposição exata para resolver as dificuldades.

Temos corpo, temos sexo - e não temos mais o dom da integridade. Essas reflexões conservar-nos-ão serenos diante de movimentos e sensações carnais involuntários. O corpo pode ser excitado por fatores independentes da nossa vontade. Nesse ponto, a medicina esclarece a ascese: "Em qualquer idade, homens e mulheres podem experimentar, sob influências diversas, sensações mais ou menos claras, localizadas nos órgãos da geração. É preciso sabê-lo e não se amedrontar. Não se deve prestar a isso atenção maior do que se presta aos demais fenômenos fisiológicos. O sentimento de pureza não deve degenerar em obsessão; e não há motivo para perturbar-se, se uma sensação genital é percebida agradavelmente: nada pode impedir que uma sensação da retina seja luminosa; de igual modo, modificação circulatória da zona sexual é necessariamente acompanhada de prazer. Neste caso, a culpabilidade consistiria na entrega ao prazer, em fazer tudo para melhor experimentar e gozar, e mais ainda na provocação." (1)

Pode ser enfadonho e humilhante constatar e sofrer passivamente tais excitações involuntárias dos órgãos sexuais. É preciso olhar para o movimento da alma e não do corpo. Os fenômenos fisiológicos, considerados em si, são indiferentes. A malícia depende só e sempre da vontade, da parte que essa teve em provocar a sensação ou em comprazer-se nela. Não se confunda complacência da vontade com a sensação fisiológica de prazer. (Sentir na esfera psico-biológica não é o mesmo que consentir na esfera espiritual).

De maneira particular não sejam motivo de perturbações os sonhos e poluções noturnas. Os movimentos semiconscientes que precedem o sono e, mais ainda, os que antecedem e seguem imediatamente o despertar, nunca são plenamente responsáveis. Por isso não há aí pecado mortal. "É preciso não confundir estas manifestações involuntárias da atividade sexual com os atos imorais propriamente ditos, ainda que as poluções noturnas se efetuem tão próximas ao acordar que a sensação que as acompanha se torne plenamente consciente. Mesmo que, ao despertar, o indivíduo tenha consciência de certa participação de gestos, subsiste ainda a diferença entre estes fenômenos e ato voluntário, executado com a intenção de provocar a sensação, que constitui a masturbação." (2)

É preciso não esquecer que a atividade sexual é uma das mais fortes da natureza humana. Ela pode ser refreada, canalizada, mas nunca extirpada. Muitas de suas manifestações fogem ao governo e freio da vontade, sobretudo no sono, cessando a vida espiritual consciente. Os 'sonhos maus' são mesmo a válvula natural para atividade sexual refreada. "É próprio da natureza humana que as poluções noturnas (nós damos à palavra o sentido estrito de ejaculação espermática durante o sono) sejam frequentemente acompanhadas de sonhos voluptuosos, ou que tais sonhos se dêem na mulher enquanto dorme e que tomem como elementos pessoas que se conhecem, se amam, aos quais se está unido espiritualmente. Não há nisso matéria de remorso, mas só de humildade em verificar que se está sujeito à condição humana. Nem há motivo para cessar de ver com toda a simplicidade aqueles ou aquelas que o subconsciente uniu nas suas divagações." (3)

Para quem a autoridade do médico católico, acima citado, que desde longos anos tem sido assistente de seminários e conventos, não é suficiente neste terreno, referimos a palavra de Sto Tomás que dedica um artigo inteiro ao assunto e chega à conclusão: "A polução noturna não é pecado; pode, às vezes, ser consequência de um pecado anterior." (4) Que atitude serena em face de um fato fisiológico que em si nada tem a ver com a moral! Pois sem o uso da razão - suspenso no sono - não se pode falar em atos morais. Pode de alguma maneira ser efeito de uma atitude precedente leviana, como leituras ou conversas excitantes. Mas a culpabilidade desses atos conscientes deve ser julgada por si mesma, não pelo efeito eventual de uma polução noturna, já que é impossível estabelecer o nexo causal exato, podendo influir outras causas inculpáveis.

Fora do sono, admite Sto Tomás ainda duas outras situações em que alguém, sem querer, portanto sem culpa moral, pode experimentar satisfação carnal completa: enfermidade orgânica e "violência em que a alma não consente, embora a carne experimente o prazer".(5)

Provavelmente pensa Sto Tomás em violência física externa, mas nada impede de aplicar a tese também à violência interna de impulsos psíquicos irresistíveis. Indivíduos que procuram libertar-se de vícios contraídos, ou pessoas neuróticas que sofrem de impulsos sexuais coercitivos (não raro contraídos pelo recalque desastroso de toda a esfera sexual), beiram frequentemente o abismo do desespero. Julgam-se, em todos os atos, plenamente culpados. É preciso esclarecê-los que hábitos contraídos e impulsos coercitivos diminuem a liberdade e com isso a culpa; podem mesmo chegar a constituir autêntica violência, e essa, segundo Sto Tomás, exime de culpabilidade.

(1) Blot-Galimard. Guide médical des vocations sacerdotales et religieuses, 19523 p. 269.
(2) Blot - Galimard, op. c. p. 271.
(3) Blot - Galimard, op. c. p. 270.
(4) S. th. II. II. 154, 5.
(5) S. th. II. II. 152, 1 ad 4.

Frei Valfredo Tepe OFM. O sentido da vida. Ascese cristã e psicologia dinâmica. 3ª ed. Bahia: Mensageiro da Fé, 1960. p. 110-112.
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