Parece que, no grande tríduo pascal, entre a crucifixão e a ressurreição, existe um vazio, uma pausa de expectativa e de silêncio. Mas esse vazio é colmatado por uma pessoa que tem o coração cheio de esperança. Com toda a certeza, porque a sua fé - e só a sua fé - não se desmoronou. Quando Deus a preanuncia no Gênesis, ela é o sinal de que o Salvador virá; o seu nascimento é saudado como a aurora que anuncia o sol, Jesus Cristo. O Sábado Santo é o dia típico de Maria e vai-se difundindo cada vez mais o uso de celebrar nesse dia "a hora de Maria". Só nela é que a esperança está viva no mundo, porque só ela espera confiadamente pela hora do triunfo.
Os outros não. Para os outros, aquele sábado ainda é um dia angustiante, repleto apenas de recordações dolorosas, de incógnitas e de trevas. Os pensamentos das principais testemunhas só podiam deter-se em recordações tristes: a morte atroz de Jesus, com os seus contornos humilhantes, tornados ainda mais indignos pelo comportamento dos seus amigos. Tinha-se consumado a traição de Judas, que pusera fim à sua vida, enforcando-se desesperado; na verdade, Satanás havia entrado nele. Pedro, impulsivo e generoso, depois da sua tríplice negação, não tivera como não chorar lágrimas amargas de arrependimento. Os outros apóstolos não conseguiram fazer melhor do que fugir, pois não tinham conseguido engolir o medo de serem procurados, e estavam muito bem escondidos em casa. Também as mulheres, as fidelíssimas de Cristo, só misturam o pranto com uma preocupação prática: como embalsamar o corpo morto de Cristo, porque naquela sexta-feira à tardinha o sepultamento havia sido feito à pressa e o dia seguinte era o "grande sábado".
Era evidente em todos o desabamento de toda a esperança, a impressão de que tudo tinha acabado. Nunca pensaram que tudo estava a começar. Ninguém pensou que aquele sangue derramado pela nova aliança indicava o caminho do novo povo de Deus. A ressurreição chegaria como uma daquelas surpresas em que se tem dificuldade em acreditar, mas que se apoiaria em provas que se sucederiam em cadeia. Primeiro, o sepulcro vazio e os anjos proclamando: "Não está aqui; ressuscitou!" (Lc 24,6); depois, as diversas aparições a indivíduos, a grupos, a uma multidão de cerca de 500 fiéis (cf. 1Cor 15,6-8). A Liturgia pascal caracterizar-se-ia pelo canto jubiloso à Virgem: "Alegra-te, Rainha do Céu, porque o teu Filho ressuscitou como tinha prometido."
No entanto, naquele sábado de silêncio, a chama da fé da humanidade está totalmente e unicamente acesa em Maria. Seria para ela uma grande libertação poder morrer com o Filho; mas devia iniciar a sua nova missão de nossa mãe, recebida precisamente ali, do filho agonizante, a quem também disse o seu fiat. A sua missão começa exatamente nesse sábado, quando oferece a Deus algo precioso, de que ninguém se apercebe: uma fé inquebrantável. Só ela crê e pensa naquilo em que ninguém crê nem pensa; só ela está preparada para o grande acontecimento, que mais ninguém espera. Com certeza, pensa no terceiro dia em que reencontrou Jesus no Templo; ou voltou a pensar noutro terceiro dia, aquele em que o seu Filho se encontrou com ela em Caná e transformou a água em vinho; depois, na Quinta-Feira Santa, Ele tinha transformado vinho em sangue. Ou nas palavras, que provavelmente se lhe referiam, quando Jesus preanunciou a sua paixão, concluindo sempre com uma frase que os apóstolos não compreendiam: "E ressuscitarei ao terceiro dia". É verdade que o seu coração estava cheio de esperança, de certeza.
E, no entanto, aquele sábado decorria de maneira estranha. Os guardas alternavam-se a vigiar um sepulcro fechado e selado, com um cadáver lá dentro, como se o homem pudesse pôr um limite à onipotência de Deus. Todo o povo que acorreu à cidade estava em festa porque celebrava a Páscoa; não se dava conta de que aquela sua Páscoa era o sinal profético de uma grande realidade, que já se tinha realizado na dor e estava quase a realizar-se na alegria. Um sepulcro rigorosamente vigiado, a celebração de um rito que já não fazia sentido - eis dois dos muitos anacronismos daquele dia em que de válido só havia a fé de Maria, a certeza do que ia acontecer e que transformaria definitivamente os modos de encarar a vida humana.
Deste modo, o sábado tornar-sei-a o dia de Maria, o dia de preparação para o Domingo da Ressurreição, que suplantaria o sábado hebraico como dia festivo para os cristãos. Um lento aprofundamento cultual e litúrgico teria lugar até se chegar, no século IX, a uma celebração do sábado dedicado a Maria, com a missa e o ofício próprios da Virgem. Mas o primeiro arranque, o ponto de partida, foi precisamente a importância que a Senhora teve naquele Sábado Santo.
Finalmente, surge a aurora do domingo. Logo de manhãzinha, vemos um pequeno grupo de mulheres dirigir-se para o sepulcro. São as mesmas que vimos ao pé da Cruz; mas falta uma, a mais importante. Por que é que Maria não está com elas? É uma ausência significativa. Talvez o Senhor ressuscitado já lhe tenha aparecido, embora o Evangelho não o diga. Ou talvez esteja tão segura da ressurreição que não comete o erro das outras mulheres de procurar o Vivente entre os mortos. Podemos pensar o que queiramos, mas o que é certo é que ela não vai ao sepulcro porque há um motivo forte que a detém.
As mulheres, admiráveis pela sua fidelidade e pelo seu zelo, encontrarão uma surpresa: o sepulcro vazio. Este acontecimento faz com que as pedras mudas adquiram uma importância especial: por estarem vazias, tornam-se as primeiras testemunhas da ressurreição de Cristo. E é por isso que o Santo Sepulcro se tornará o lugar mais querido, mais amado e mais visitado pelos cristãos.
Depois, sucederam-se as várias aparições do Ressuscitado, pelo que os discípulos comunicaram ente si o grito jubiloso: "Jesus Cristo está vivo!". Ainda hoje, mais de 2000 anos depois, a tarefa dos cristãos é gritar a todos os homens; "Jesus Cristo está vivo!". É este o alegre anúncio que os pode salvar.
Pe. Gabriele Amorth, O evangelho de Maria.
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