"Aparta os Vossos olhos, Amado, que eu alço vôo" S. João da Cruz |
Amanhã iniciaremos o nosso retiro, se Deus quiser. E esperamos que isto contribua para a pureza do nosso coração. Somente poderemos contemplar a face do menino Deus na noite de Natal se tivermos uma alma limpa, mãos santas, olhos claros e afeto puro. Se ao contrário, nos enchermos de preocupações outras e de tantas agitações fúteis, aquele evento tão grandioso e tão discreto acontecerá sem que dele demos conta. Seremos como os ocupados que, naquela noite, disseram à Sagrada Família: "não há lugar aqui para vós".
Nós nos admiramos pela insensibilidade daquela gente, mas, muito frequentemente, costumamos fazer o mesmo. Constantemente Ele está a nos pedir para avançar a águas mais profundas, a dilatar o nosso coração no exercício da caridade, a guardar os nossos olhos das coisas impuras, a purificar os nossos afetos e contrariar as nossas vaidades; em suma, Ele está a nos pedir para que nos convertamos de verdade, sem falsidade, sem hipocrisia, e parece que dEle queremos apenas uma proximidade acidental. Com Ele ficamos enquanto podemos disto tirar proveito, seja pelas luzes que dEle recebemos, seja pelo status que isto dá. Mas, quando se propõe que entremos em intimidade com Ele, amá-lo por Ele mesmo, ocultar-nos nEle, quantos de nós também não dizemos: "epa, a partir daqui, não há lugar para Vós"?
Ontem, celebramos o dia da Imaculada Conceição da Sempre Virgem Maria. Para muitos de nós, é só um dia... Alguns até vão à Santa Missa de preceito; outros até tiram o dia para não trabalhar... Mas, e então? Não notamos que a Doce Maria clama pela nossa pureza? Não notamos que, por ela, nos vem um apelo celeste a que busquemos a perfeição? O que acontece é que, para muitos de nós, tudo isto é apenas uma historiazinha bonita que toma algo do nosso tempo, mas que não tem qualquer repercussão profunda.
E vamos caminhando rumo ao termo da nossa vida, sem amar, sem descobrir o tesouro escondido, sem irradiar a luz da nossa caridade. E, vez em quando, quase extasiamos contemplando a nossa bondade e a nossa dedicação a Deus, enquanto nos comparamos com os mais devassos que conhecemos.
E que mediocridade! Quanto rebaixamos o ideal da santidade! E vamos indo na mornidão, encenando um sorriso amarelo e um tapinha nas costas na noite de Natal, sem nem desconfiar da alegria tremenda que aquela noite encerra... "Que a minha alegria esteja em vós e que ela seja completa".
Graças a Deus que tudo isto não se aplica, em absoluto, a muitos dos que me lêem; pelo menos é o que suponho. Mas todos nós temos algo a aperfeiçoar. É preciso amar a Deus com mais profundidade, mais verdade, mais visceralmente. É verdade que, se Ele não nos eleva, nada podemos por nós mesmos. Mas é preciso que nos disponhamos, sejamos generosos e colaboremos com Ele. Nele reside a nossa alegria...
Conceda-nos Nosso Senhor a felicidade de conhecê-lo e amá-lo. Preparemo-nos para a Sua vinda e alegremo-nos com o canto dos anjos, deixando também, aos seus pés, um presente que agrade a Sua Majestade: o nosso coração, todo inteiro, sem reservas. E que ele seja como um nardo puro que, uma vez derramado aos Seus pés, encha toda a casa e aproveite a toda a Igreja.
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