Marx aplicando seu conceito de liberdade |
Joseph Ratzinger
Que é a liberdade? O que queremos realmente dizer quando enaltecemos a liberdade e a pomos no degrau mais alto de nossa escala de valores? Creio que o conteúdo geralmente associado ao desejo de liberdade se encontra bem formulado nas palavras com as quais Karl Marx expressou seu sonho de liberdade. A futura sociedade comunista tornará possível fazer "hoje isso, amanhã aquilo, caçar de manhã, pescar após o almoço, cuidar do gado à tardinha, tecer críticas após o jantar, conforme me der vontade".
Exatamente nesse sentido é que a mentalidade comum entende, sem refletir, a liberdade - como o direito e a possibilidade de fazer tudo o que quisermos e não ter de fazer nada que não quisermos. Dito de outra forma: liberdade significaria ter a vontade própria como a única norma de nossas ações. Que nossa vontade pudesse desejar tudo e ter a possibilidade de realizar tudo o que quisesse. Nesse ponto certamente se levantam novas questões: até que ponto nossa vontade é realmente livre? Até que ponto é razoável? E será uma vontade não razoável uma vontade realmente livre? É ralmente liberdade uma liberdade irracional? É realmente um bem? A definição de liberdade, entendida como o poder-querer e o poder-fazer o que se quer não deverá ser completada pela sua referência à razão, à totalidade do homem, para que não se converta em tirania do irracional? Não pertence à mútua implicação entre razão e vontade procurar a razão comum a todos os homens, e desse modo a compatibilidade mútua das liberdades? É evidente que na questão da racionalidade e de sua vinculação com a razão está latente também a questão da verdade.
Joseph Ratzinger, Fé, Verdade e Tolerância, 2ª Parte, Cap. 3, Liberdade e Verdade.
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