A mão que segura e governa as rédeas da atividade é a reflexão. Só quem pensa serenamente nos seus deveres, na maneira de conjugá-los, nas prioridades que entre eles deve estabelecer, nos passos necessários para executá-los, é que possui o governo da ação e do tempo. Esse saberá aproveitar diligentemente cada um dos seus dias, e não será uma marionete puxada aos solavancos pelas cordas do nervosismo e da imprevidência.
Uma atividade madura e eficaz exige - como a planta necessita da terra em que se enraíza - o solo fecundo da serenidade e da meditação. É preciso que aprendamos a parar e a perguntar-nos: Por que estou fazendo as coisas? Como é que as estou fazendo? Atiro-me cegamente numa correnteza de ocupações desordenadas? Estou fazendo realmente o que devo e do melhor modo?
Quando alguém se questiona assim, o impulso instintivo da preguiça será voltar à carga e repetir: "Não tenho tempo, não posso parar, não consigo um mínimo de tranquilidade, o tumulto das ocupações não me 'deixa' meditar..."
Na verdade, quem não nos deixa meditar é a preguiça. É mais fácil escorregar pelo tobogã da rotina, mesmo que seja uma rotina febril, do que ter a coragem de se enfrentar consigo próprio, agarrar com firmeza o leme da vida e controlar energicamente o rumo da navegação.
É por isso que a diligência pressupõe uma "atenção esmerada e cuidadosa" para "apreciar" o valor dos deveres a cumprir, e para os "escolher" conscientemente, "como fruto de uma reflexão atenta e ponderada".
O homem moderno é pobre em interioridade. A ação não lhe nasce de dentro. Medita pouco e quer abranger muito. Então é quase inevitável que num dado momento, talvez quando já chegou longe demais, se lhe tornem claras, como um soco na consciência, as palavras de Santo Agostinho: "Corres bem, mas fora do caminho".
Contaram-me certa vez a história de um homem de idade avançada, que dedicara a vida a uma brilhante atividade empresarial. Chegou a aposentadoria, e um dia - para matar o tempo - pegou no catecismo elementar de um de seus netinhos. Abriu a primeira página e começou a ler: "Quem é Deus?"... E depois: "Para que foi criado o homem? O homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo...". Duas grossas lágrimas rolaram-lhe pela face: "- A minha vida foi vazia. Fiz muitas coisas, mas esqueci-me da única que valia a pena".
Talvez para que essa lição não fosse tardiamente aprendida é que Jesus dirigiu a Marta, em Betânia, aquela afetuosa censura: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada (Lc 10,39 ss).
E, qual era a melhor parte, que Jesus contrapunha ao ativismo inquieto de Marta e aos seus queixumes? Era a atitude de sua irmã Maria, tal como a descreve essa passagem do Evangelho de São Lucas: Maria, sentada aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.
É evidente que Jesus não censura o trabalho de Marta - Ele que amou tanto o trabalho no lar de Nazaré -, nem sugere substituí-lo por uma pura passividade contemplativa. O que faz é marcar claramente a diferença que existe entre "muitas coisas" e "uma só coisa necessária".
A todos, Deus nos pede que façamos muitas coisas. Mas a única verdadeiramente necessária é que nos coloquemos sinceramente junto dEle - muitas vezes - e escutemos o que tem a dizer-nos. Assim, as "muitas coisas" unificam-se em " uma só coisa": trabalhar cumprindo a Vontade de Deus.
Todos deveríamos ter, fossem quais fossem as nossas ocupações, uns minutos diários de calma e recolhimento para parar, pensar, orar e procurar enxergar o melhor modo - o que esteja mais de acordo com Deus - de organizarmos e realizarmos as nossas tarefas.
Francisco Faus, A Preguiça. São Paulo: Quadrante, 1993. pp. 28-30.
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