Às vezes, acontece de eu ter uma horinha de tempo (mas nem todo dia) e depois também a necessidade de fazer alguma coisa que não esteja ligada com a escola. A esses espaços de tempo, que não entram em consideração para o trabalho pessoal, no ano passado, empreguei para traduzir um livro do Cardeal Newman - The Idea of a University (para a Editora Theatine em Munique, de cuja fundação e direção faz parte também Gogo Hildebrand), e agora me pedem um segundo volume. Traduzir representa para mim uma pura alegria. Além do que, é muito bom entrar em contato direto com Newman, coisa que a tradução proporciona. Toda sua vida foi uma busca da verdade religiosa, conduzindo-o para a Igreja Católica com uma necessidade incontornável. Atualmente encontro-me naquele ponto em que responder às suas cartas parece-me um grande empreendimento.
Quando li as últimas linhas, perguntei-me: como é possível que um homem com formação científica, que reivindica a objetividade rigorosa e que, sem investigação profunda, não ousaria proferir um juízo sobre a mínima questão filosófica - que este desfaça-se de problemas dos mais importantes com uma frase no estilo de um jornaleco local. Refiro-me ao "aparato dogmático pensado para a dominação das massas": por favor, não tome isso como acusação a você. Seu comportamento é o típico de um intelectual, na medida em que não teve educação eclesial, e até poucos anos eu também era assim. No entanto, em nome de nossa antiga amizade, permita-me reformular o problema geral para uma questão de consciência intelectual: (com o ensino de religião nas aulas) quanto tempo você gastou com o estudo do dogma católico, de sua fundamentação teológica? E você já se perguntou alguma vez como explicar que homens como Agostinho, Anselmo de Cantuária, Boaventura, Tomás de Aquino - deixando de lado os muitos milhares, cujos nomes são desconhecidos para os que estão distantes, mas que sem sombras de dúvida não eram ou são menos inteligentes do que nós, pessoinhas ilustradas - que esses homens, no dogma desprezado, viram o que de mais supremo pode ser acessível ao espírito humano, e a única coisa que vale a pena o sacrifício de uma vida por ele? Com que direito você pode identificar os grandes mestres e os grandes santos da Igreja como cabeças-ocas ou como espertalhões impostores?
Seguramente, só pode-se proferir tal suspeita monstruosa, como está contida naquelas palavras, depois de um exame mais acurado de todos os fatos que entram em consideração. Você não gostaria - se não por você, pelo menos por mim - uma vez que seja defrontar-se e responder a essas questões totalmente livre de conceitos prévios? Apenas responder a si mesmo - a mim você não precisa responder se não quiser.
Edith Stein, Carta a Roman Ingarden, de 19/06/24.
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