Faz alguns dias que eu não posto nada por aqui, I know. Mas retomarei. É que no momento passo por aqueles períodos de transição que demandam uma readaptação. Estou com pouco tempo, mas seria o suficiente se eu fosse mais organizado. Em todo caso, por mais atarefados que estejamos, nada nunca é uma desculpa legítima para nos afastarmos das atividades espirituais. Isto, obviamente, não inclui necessariamente as postagens num blog, mas o cultivo da oração, sobretudo. As pessoas que dizem não ter tempo para rezar dão a entender que sua vida está pressionada pelo peso da realidade e que por isso não lhes sobra espaço para essas ocupações assim, digamos, mais etéreas e menos substanciais. Esta é uma ilusão comum. Na verdade, se esquecemos das realidades sobrenaturais é então que nos tornamos cativos de um mundo de aparências, de falsidade, de ilusão. O ativismo não é nada mais que a tola ilusão de que nos bastamos e de que os nossos assuntos são os mais importantes. O demônio costuma ser representado pelo número 666; este pode ser entendido como a obstinação da autossuficiência, pois se trata de alguém que está sempre ocupado consigo mesmo e nunca aceita chegar ao sétimo dia, o dia do descanso e da consagração a Deus; para ele, isso seria perda de tempo. Tenhamos, pois, cuidado. É a oração que nos dá o devido senso da realidade. E para nós, que vamos nesta trilha do Evangelho, distrair-nos é um pecado. "Ai de vós que rides".
Hoje é o dia das mães e é muito óbvio que nos venha à mente a figura da Virgem Santíssima, já que foi dada a nós, por Deus, como Mãe. Maria foi aquela que nada tinha de seu. Nela nunca houve algum movimento de auto-referência, a não ser para afirmar-se a escrava, a serva, a que se esvazia de si mesma para abraçar o projeto de seu Deus. Tudo o mais era secundário e dispensável. Ela mesma não se ocupava de si a não ser para manter-se fiel. Se havia algo que não se coadunava com a vontade de Deus, este algo sequer era cogitado por Maria. Esta contínua disposição interior não faz dela uma alienada, alheia à realidade. Muito pelo contrário: a fidelidade à verdade lhe dá um olhar agudo capaz de entender a exata natureza do mundo e dos eventos que nele se passam.
Maria é, pois, a maior das contemplativas porque sabia ver, por baixo do curso corrente das coisas, a presença absoluta e irremovível de Deus. Deus é. N'Ele existimos, nos movemos e somos. E era por isso que mesmo em face dos sofrimentos e daquilo que, num primeiro olhar, pareceria sem esperanças de resolução, Maria mantinha-se firme e recitava o seu poderoso "Fiat". Ela nunca foi obstáculo para a presença divina. Bem ao contrário, ela se tornou veículo da Sua vinda a nós e canal da Sua graça. Por isso tudo, ela nunca se distraiu; nunca perdeu de vista a mão do seu Senhor, e estava sempre disposta a, num primeiro movimento daquela mão, interpretar-lhe a vontade e realizá-la de modo puramente desinteressado e despojado. Por causa disso tudo, Maria caiu nas graças de Deus ao ponto de Este lhe confiar o Seu próprio filho que, encarnando-Se, foi fazer morada no seu ventre sem mácula.
Jesus, unindo em Si a natureza humana com a divina, reconcilia, pela Sua redenção, aquela primeira com o Pai, pois não havia como o Deus rejeitar algo que estava em Seu próprio filho. Por Ele, fomos todos associados à Sua vida e disto decorreu que nos tornássemos, também, filhos de Maria, assim como o próprio Cristo o foi, de modo que ela viria a ser verdadeiramente nossa mãe. Esta maternidade não é simbólica; é real. É verdadeira. É concreta. E dali em diante, o discípulo a acolheu em sua casa.
Neste dia das mães, lembremos de Maria e peçamos a ela que nos dê a graça de aceitá-la como tal, e nos permita entender que este mistério não é uma simples fórmula católica, mas expressa uma profunda realidade; é a verdade dos fatos. E se temos tal mãe, aproveitemos pedindo-lhe as graças necessárias, cobrando os seus afagos e demonstrando igualmente o nosso amor. Que o nosso coração se encha de gratidão a Deus por este bem tão precioso e que nós não caiamos na tolice de renegá-la, pois Deus no-la deu porque absolutamente necessitamos dos seus cuidados. Neste dia, que tipo de presente lhe poderíamos dar? Um presente será bom quando corresponder ao gosto e vontade do presenteado. Perguntemos, então, qual seria o desejo desta boa mãe. Se a pudéssemos ouvir, escutaríamos prontamente: "a vossa salvação". Eis o presente ideal: a correção da nossa vida, o retorno a uma vida devota começando por uma boa confissão; a assiduidade nos sacramentos, a meditação e imitação das disposições interiores dela. Deixemos de ser filhos maus e lhe presenteemos com a nossa vida. Eis, mãe: é vosso presente. Faça-se em nós como tu queres! Feliz dia das mães!
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