Pessoal, estou iniciando um pequeno projeto de transcrição de artigos do livro "A Igreja do Deus Vivo", do Frei Battistini, e que tratam do protestantismo e da história de fundação das denominações protestantes mais conhecidas. Neste primeiro artigo, o autor aborda sucintamente a vida de Lutero e dá os traços gerais do movimento protestante. Boa leitura.
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Martinho Lutero é o fundador do protestantismo. Nasceu em 1483, aos 11 de novembro, em Eisleben, Alemanha. O pai era camponês. Sua educação foi marcada pela severidade do pai, com o qual não se dava bem. Lutero, desde criança, via nos acontecimentos desagradáveis a presença do demônio, tudo atribuindo a ele. Este fato marcou Lutero por toda a vida, pois se considerava como objeto da condenação de Deus.
Aos 21 anos, exatamente no dia 2 de julho de 1505, durante uma tempestade, um raio, caindo bem perto dele, quase o fulminou. Na hora, apavorado, fez voto de se tornar religioso. Os familiares e amigos tentaram dissuadi-lo. De nada adiantou. E entrou para a Ordem dos Agostinianos e, aos 23 anos, emitiu os votos de obediência, castidade e pobreza.
Não tendo vocação, e dada a severidade da regra, e também considerando sua tendência a ver em tudo a presença do demônio, não se deu bem no convento. Em vez de encontrar a paz e a realização de sua vida, encontrou motivos para reformar a fé.
Em 1517, afixou 95 teses teológicas à porta da Igreja de Todos os Santos em Wittemberg, atacando muitas verdades da Igreja. (Foi motivado pelo modo errado de pregar as indulgências por parte de alguns pregadores) Este fato provocou muitas polêmicas entre teólogos. A Santa Sé, então, interveio. Acontece que muitos príncipes da Alemanha viram em Lutero um bom motivo para se afastarem do papa e o apoiarem. Dessa forma, a polêmica passou do campo religioso para o campo político, dando origem ao nacionalismo germânico. Lutero, vendo-se apoiado pelos príncipes, continuou atacando a Igreja, os costumes e a doutrina. Depois de muitas tentativas de diálogo, todas fracassadas pela recusa de Lutero a qualquer tipo de entendimento, foi excomungado, no ano de 1521. Mais tarde realizará a separação total da Igreja católica, iniciando assim a primeira igreja protestante.
Origem da Palavra Protestante
Em 1529, o imperador Carlos V quis intervir na luta de Lutero com a Igreja, para restabelecer a unidade e a paz. O imperador convocou a Assembléia dos deputados em Espira. Ficou decidido que era proibido apoiar o movimento o de Lutero e que tudo devia voltar a ser como antes. Mas alguns protestantes não aceitaram esta decisão e declararam: "Protestamos contra tal decisão." Daqui veio a nós o "protestantes".
Doutrina de Lutero e do Protestantismo
Lutero baseou sua doutrina em alguns princípios fundamentais que foram aceitos também por quase todos os reformadores que vieram depois dele. Estes princípios são os seguintes:
A) "Somente a fé salva, sem as obras da Lei".Lutero se baseou nas palavras de S. Paulo em Rm 3,28: "Sustentamos que o homem é justificado (salvo) pela fé, sem as obras da lei". Aqui Lutero comete um erro grosseiro. De fato, aqui, nestas palavras: "sem as obras da Lei", Paulo se refere às obras da Lei de fariseus que davam importância só às coisas inúteis e descuidavam das necessárias, como amar a Deus e ao próximo. De fato, o mesmo S. Paulo, em 1Cor 13,2-3, diz bem claramente: "... ainda que possua a PLENITUDE DA FÉ, ao ponto de transportar montanhas, se não tiver CARIDADE, nada sou". Aqui, caridade significa "obra, ação, amor". O mesmo S. Tiago diz: "A fé sem as obras é morta" (Tg 2,17).
B) "Somente a Bíblia escrita é fonte de fé". Isto é, devemos crer somente aquilo que está escrito na Bíblia, sem aceitar o ensino oral da Igreja, que á a TRADIÇÃO.
C) Livre exame da Bíblia. Cada pessoa deve entender e interpretar a Bíblia como quer. Pensa-se que o Espírito Santo esteja presente em cada leitor da Bíblia. Cada pessoa deve entender e interpretar a Bíblia como quer. Pensa-se que o Espírito Santo esteja presente em cada leitor da Bíblia. Este é um erro radical que está na base de toda divisão da única Igreja de Jesus. Atualmente existem mais de duas mil igrejas protestantes, cada qual interpretando a Bíblia de um modo diferente. Se a verdade que Jesus ensinou, e se o Espírito Santo ilumina a cada pessoa que lê a Bíblia, deveria iluminar a todos da mesma forma. Como explicar, então, estas interpretações tão contraditórias entre si? Aqui não há dúvidas: ou o Espírito Santo ensina errado, ou este princípio está errado. Não, o Espírito Santo é o Espírito da Verdade. O que está errado é o "livre exame da Bíblia". De fato, a Bíblia diz: "Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal" (2Pd 1,20).
A vontade de Jesus é esta: "Um só rebanho e um só pastor" (Jo 10,16). Fundar uma igreja, separando-a da Igreja de Cristo, é colocar-se frontalmente contra a vontade de Jesus. Hoje, porém, estamos vivendo momentos de compreensão e reaproximação. Devemos nos empenhar todos para que, com boa vontade e desprendimento, construamos no mundo o Reino de Deus.
Frei Battistini, A Igreja do Deus Vivo. Petrópolis: Vozes, 1992. p. 121-123.
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