Talvez me respondais: Eu sou rico, e ele pobre. Ides marchar juntos, sim ou não? Dizer eu sou rico, e ele pobre, não é afirmar que eu estou carregado, e ele sem fardo algum? Eu sou rico, e ele pobre. Lembrai-vos de vosso fardo, e transmiti o peso que vos esmaga.
O que mais me impressiona é o estar vós encadeado a vosso fardo, não podendo por isso estender a mão. Estais sobrecarregados, ligados, de que pois vos orgulhais? Por que vos derramais em elogios? Parti as correntes, aliviai o fardo. Passando-o ao companheiro de viagem, vós o ajudais e vos aliviais. Enquanto derramais elogios pomposos a vosso fardo, Jesus Cristo pede-vos a esmola, e nada recebe, e para melhor disfarçar a crueza da recusa, invocais a ternura paternal e dizeis: Não o devo entesourar para meus filhos? Apresento-vos Jesus Cristo, opondes-me vossos filhos. A vossos olhos, é justo que possais contemplar vossos filhos em abundância luxuriante, e vosso Senhor na miséria? “O que fazeis ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis.” Nunca pesastes nem lestes essas palavras? Eis aqui o homem derrotado, e vós me enumerais vossos filhos? Que seja, enumerai-mos, mas a esse número acrescentai mais um, vosso Senhor. Se tendes um, acrescente o segundo; se tendes dois, o terceiro; se tendes três, o quarto. Sei que nada disso vos apraz. É desse modo que amais vosso próximo, até torná-lo partícipe de vossa perdição.
Como vos dizer ainda de que modo amais o próximo? Homem avarento, que palavra comove vossa orelha? Vós não afirmaríeis a vosso filho, irmão ou pai, que aqui a felicidade é ser rico? Mais ricos sejais, maiores serão aos olhos dos homens. Fazei de um tudo e amontoai tesouros. Eis o que murmurais à orelha do próximo; não fora isso, todavia, o escutado, nem o aprendido na morada da disciplina.
Sto Agostinho, Sobre a disciplina cristã.
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