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Quaresma - Tempo de união com Deus


O Grupo de Resgate Anjos de Adoração deseja a todos os seus membros, amigos e leitores deste espaço uma santa quaresma. Queremos, neste ensejo, falar um pouco sobre um tempo tão sugestivo em que a Santa Mãe Igreja nos coloca. Em épocas de tanta resistência contra as coisas do espírito, num mundo cada vez mais secularizado que tende a reputar os valores católicos tradicionais ao campo do desnecessário, do ultrapassado, do moralismo estéril, somos chamados a reavivar a chama do amor de Deus em nossa alma e, como católicos, cruzados destes tempos, aproveitarmos desta santa quaresma para estreitar nossos laços com Deus, para a santificação de nossas almas e para a conversão dos pecadores.

Já não é comum ouvirmos termos como “mortificação” e “penitência” senão nas páginas de autores antigos ou em tempos litúrgicos específicos. Pois bem, justamente estes costumes que foram por muitos deixados de lado, devem ser reassumidos por nós, pois são verdadeira fonte de tesouro espiritual e maturidade cristã. Na quaresma, revivemos simbolicamente o jejum de Cristo no deserto. Naquela ocasião, é o próprio Espírito Santo que O dirige até lá (Cf Mt 4,1). Num ambiente rigoroso, Jesus prepara-se para o combate, para o desempenho de Sua missão. É lá, lugar que a Tradição cristã reconhece como o terreno do combate por excelência, que o Espírito Santo leva aqueles que desejam unir-se a Deus. Para tal, é preciso purificar-se ou, como escreveu S. Paulo, “crucificar nossas paixões e concupiscências” (Gal 5,24).

O deserto é ainda o lugar onde a criança, exposta às condições menos favoráveis aos sentidos, torna-se homem maduro e senhor de si. É só pelo deserto que surge um gigante como Sto Antão. E é no deserto que Deus faz o esponsal com a alma, unindo-a a Si mesmo: “levarei a alma ao deserto, e lá a desposarei” (Os 2,16 – Cf Jr 2,2). Quando enfim, se dá a união do Amado com a alma, ambos serão um só. Tal é a condição dos homens do deserto, cuja luta e santidade foram simbolizadas por João Batista, que mortificava os seus sentidos alimentando-se de gafanhoto e mel silvestre (Mt 3,4). São homens experimentados no combate, descritos nos Cânticos dos cânticos como aqueles que caminham na noite da Fé e portam sempre as suas armas, isto é, a Santa Cruz (Cf Ct 3, 6-8).

Nestes dias, toda a Santa Igreja, Corpo Místico de Cristo, do qual fazemos parte, é conduzida pelo Santo Espírito ao deserto da quaresma para, num processo de purificação, poder entrar nos aposentos do Amado (Ct 2,4), poder partilhar da intimidade do Esposo. É um tempo de sobriedade, de gravidade, de seriedade, de prática das virtudes e de mortificação dos sentidos. É ocasião oportuníssima para a morte do homem velho e o surgimento do homem novo (Cl 3,9-10), para a mortificação do homem animal e ascenção do homem espiritual.

Pela ação da Graça em nós, somos chamados a viver como Filhos de Deus, uma vez que estejamos libertos da escravidão dos sentidos. Somente então poderemos participar da Ceia de Nosso Senhor, das núpcias do Cordeiro, só então estaremos trajando as roupas de festa (Mt 22, 11-13). Tal contraste entre o homem animal e o espiritual, entre o apegado aos prazeres dos sentidos e o livre de tal escravidão é figurado no Evangelho quando Nosso Senhor conversa com a cananéia e lhe diz: “não convém dar aos cães o pão dos filhos”(Mt 15,26). Os cães são aqueles que comem as migalhas que caem da mesa do seu dono, enquanto que aos filhos é dado participar do puro banquete do Senhor.

A quaresma é tempo para nos tornarmos Filhos de Deus. Uma vez que já o somos pelo Batismo, sejamos também pela semelhança. Desprezando as migalhas, isto é, os baixos prazeres que nos prendem ao chão, elevemo-nos ao gosto das coisas celestes, do alimento puro, do santo maná oferecido aos filhos que estão no deserto como provisão para que mantenham-se a caminho da terra prometida (Cf Ex 16,35). É o pão desconhecido oferecido a Elias, que lhe deu forças para caminhar justamente por quarenta dias, rumo ao encontro com Deus (Cf Irs 19 5-8). Nosso maná é o próprio Cristo (Panis Angelicus).

Na quaresma a Igreja nos propõe particularmente três práticas: o jejum, a esmola e a oração. Se observarmos bem, ambas formam uma harmonia perfeita e representam um movimento da alma totalmente oposto àquele que nos leva ao pecado. Geralmente, uma atitude pecaminosa consiste na satisfação de uma vontade viciada ao prazer. Neste sentido, Sta Catarina de Sena afirma ser a vontade humana “a fonte e a origem de todo o mal”. Bem neste contexto, surge o “ódio à própria vida” ensinado por Jesus como condição para a Salvação. Este “ódio” consiste naquilo que os Padres do Deserto chamam de “perseguição de si mesmo”, isto é, renúncia constante dos próprios desejos.

Tal doutrina está presente na grande maioria dos santos da Igreja e a sua prática rigorosa, não apenas incluindo as vontades pecaminosas, mas também a negação das demais, é o meio para se entrar, seguindo a espiritualidade sanjoanista (de São João da Cruz) na “Noite dos Sentidos”. Mas não nos atenhamos, a princípio, a tamanho rigor. A “noite dos sentidos” não pode ser regra de quaresma para todos os fiéis. Kkk... Poderíamos, ao invés, talvez falar de “tarde dos sentidos”... kk...

Dissemos que a satisfação da vontade viciada é o que caracteriza, geralmente, o pecado. Se assim é, o oposto, ou seja, a negação de tais vontades deveria nos levar à virtude. E isto realmente acontece. Quando a Igreja nos propõe os três exercícios citados, ela pretende justamente educar a nossa vontade, dando-nos práticas acessíveis de virtude. Se fazemos jejum, estamos negando-nos a vontade natural de comer mais. Esta mortificação, talvez a princípio despercebida em suas relações, interfere na disciplina do fiel em vários aspectos, inclusive no que concerne à própria sensualidade. Aquele que se nega o alimento se educa para se negar outras coisas que não convenham.

Quando damos esmola, praticamos a virtude teologal da caridade, que nos mobiliza o desapego e a pobreza. É, de fato, uma estratégia de mestre, e a Igreja é justamente isso: mestra, pois o divino Senhor, chamando-nos amigos, e tendo a Igreja por sua esposa, revelou-lhe tudo. Em sentido estrito, a caridade exige-nos centrar o nosso afeto em Deus, retirando-o das demais criaturas. Esta atitude é favorecida pelo exercício do desapego de algo que oferecemos a outrem. Quando damos esmolas, estamos afirmando que o nosso amor a Deus e aos irmãos é maior do que o nosso amor a nós mesmos, pois nos despojamos de um objeto que nos pertence, praticando assim, simultaneamente, um ato de amor, de pobreza e de liberdade. Fazer isto é golpear fortemente a ilusão e o egoísmo, sendo que este último é o principal impedimento para a alegria espiritual.

A oração, enfim, é o movimento de todo aquele que deseja elevar-se a Deus seriamente. Não existe santidade sem oração. Dizia Sta Teresa D’Ávila que “o caminho verdadeiro para Deus é a oração. Se vos ensinarem outro, enganam-vos”. Estas palavras não são de qualquer um, mas de uma doutora da Igreja, Mestra deste sumo exercício. Acontece que, às vezes, pela correria da vida e pela inércia do costume, estamos afastados desta prática. Se isso acontece, encontramos justamente neste tempo que a Santa Igreja nos chama à intimidade com Deus, a ocasião propícia para o cultivo deste santo exercício. Devemos passar tempo com Deus e com aquilo que Lhe diz respeito. Além da oração pessoal e de todas as práticas devocionais (que são, não só importantes, mas necessárias), devemos, antes de tudo, participar do Santíssimo Sacrifício da Missa, onde entramos em máxima intimidade com o Amado. É então que a nossa oração se torna mais eficaz e é onde glorificamos com mais perfeição a Deus Nosso Senhor.

Bem. Creio já ter escrito muito. Fica aqui a nossa recomendação e intenção para esta quaresma. Que a Graça de Deus, incidindo sobre nós, nos conceda o dom da Santidade. Nestes tempos tenebrosos, sejamos os luzeiros que o Apóstolo falou, levando a Luz de Cristo no meio de uma sociedade perversa e maliciosa (Fl 2,15).

A todos os que necessitarem, recorram ao Sacramento da Reconciliação.
“Em nome de Cristo, vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!” (2Cor 5,20b)

Que a Virgem Santíssima, Auxílio dos Cristãos, Estrela da Manhã, nos auxilie e nos conduza, qual a estrela de Belém, à presença do seu benditíssimo Filho.

Crux In Corde, Corde in Crux

Fábio Luciano
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