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Comentários meus à postagem acima

Haveria muito o que dizer a respeito do texto de sua santidade. Uma análise mais aprofundada, porém, eu deixo para os mais preparados. Gostaria, tão somente, de focar-me em um aspecto do texto, que foi justamente o que me motivou a postá-lo.

Muito se tem falado de alienação. No discurso ideológico, é um dos termos mais usados, servindo tanto de ataque como de evasiva. A grosso modo, penso que o termo quer significar uma maneira errada de ver as coisas. A própria etimologia do termo sugere um “alien”, um estranho ao contexto atual. Mas esta forma errada de ver só tem sentido quando em relação com a correta forma de interpretação da realidade. Para que se alcance esta última, é necessário aderir a alguma autoridade que afirme que as coisas são como são. A miséria metafísica do movimento esquerdista deveria ser suficiente para convencer qualquer um a não se apoiar numa teoria que, embora se pretenda cosmologia, ignora e proíbe a discussão das causas primeiras.

Bem... Como católicos, cremos que o natural se ordena ao supranatural. As coisas neste mundo são efêmeras e corruptíveis, razão pela qual devemos dedicar o nosso coração a um tesouro de outras terras, onde os ladrões não roubam e a traça não corroe. Estamos a caminho, e a Igreja nos ensina a “passar pelas coisas que passam e abraçar as que não passam”. Esta é a verdadeira doutrina cristã. Seguidor de Cristo é o que ancora sua vida na eternidade e vive, desde já, desta esperança. É isto o que ensinam os santos. Sta Teresa D’Avila compara esta vida a uma má noite numa má pousada. S. João da Cruz escreve que o que move a alma no deserto é somente a sede. S. Francisco de Assis, pelo seu desprezo radical pelos bens passageiros, nos dá prova de que já viva à sombra das colinas celestes. Todos estes santos foram pobres, à semelhança de Nosso Senhor. E é neste contexto de pobreza que devemos entender as condenações às quais se refere Sua Santidade no texto acima. É a pobreza que nos mantém de mãos vazias, e isto nos garante a leveza do caminhar. É ainda parte do significado da tradição do deserto, onde Nosso Senhor conduz a alma e lá, purificando-a, retirando-lhe os excessos, tornando-a pobre, une-se a ela (Os 2,16).

Se este é o fim do homem, a sua perfeita realização, nada mais natural que o Amor encarnado tenha condenado um tipo de felicidade que tem a realidade natural por fim. Esta atitude naturalista é o que deveria ser considerado verdadeira alienação, pois ignora o homem no seu princípio e no seu termo. Uma alegria assim, puramente momentânea, surge como perigo de distração. De fato, nós somos exilados, como o ensina Sto Agostinho. E qual a condição dos exilados? É a alegria acomodada? Não, é a solidão, é a saudade, ou como dizia o escrito Léon Bloy, é a melancolia. Não quero condenar as alegrias naturais que, dependendo da ocasião, são boas, mas quero situá-las dentro de um contexto mais abrangente, que transcenda à imediatez do agora. Quando alguém ama a Deus, busca situar suas alegrias e tristezes dentro deste amor. É algo estranho que um exilado se alegre no exílio. Tal alegria só seria legítima se fosse causada pela esperança de voltar ao lar. Nós, cristãos, temos tal esperança, e é nela que deve se fundamentar a nossa alegria neste desterro.

Deserdar seria uma traição, e muitos dos prazeres desta vida podem ser tentações para que traiamos a nossa Pátria. Seria uma atitude de consequências eternas. Nada mais natural, repito, que Cristo, por amar-nos, advirta-nos, aos gritos, desse perigo. Além do que, seria ridículo apegar-nos a uma pousada ou a quaisquer dos seus objetos, quando nela só passaremos uma noite. Infeliz do homem que desaprendeu a olhar as alturas e que, por contentar-se com as migalhas que caem da mesa, está impossibilitado de experimentar o maná reservado aos filhos (Mt 15,27). Que fidelidade o daqueles exilados de Sião que, ao receberem o convite de cantar, respondem que, no exílio, não convém distraír-se (Sl 136,6) ou ainda a daquela mulher que jura máxima fidelidade a sua ama (Rt 1,17). Quem dera todos os cristãos fossem os que se sabem exilados e guardassem tal fidelidade! Quem dera não se distraíssem nem agissem como pagãos (Mt 6,32), quem dera todos tivessem a coragem de morrer por amor, e de preferir fazer-se em pedaços, como dizia S. João da Cruz, a pecar gravemente.

Como estes alieandos, incapazes de um olhar mais profundo acerca de si mesmos e de toda a realidade, podem compreender um S. Francisco de Assis, um S. Bento José Labré, ou qualquer outro a quem Nosso Senhor elevou à imitação da Sua vida? Simplesmente não podem, senão pela conversão. Ai dos que riem! Ai dos que estão satisfeitos! Ai dos que não têm saudades, nem sofrem por amor.

“Quem nunca provou amarguras
No humano vale da dor
Nada sabe de doçuras
Desconhece o que é o amor
Amarguras são o manto dos que amam com ardor”

Estrofe composta por uma irmã carmelita que levou S. João da Cruz ao êxtase.

Fábio Luciano
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