Entre os séculos V e VII, viveu o autor que se denomina Dionísio Areopagita, que foi confundido com aquele Dionínio que São Paulo converteu com seu discurso no Areópago. Sob o seu nome, chegou-nos um corpus de escritos (Hierarquia Celeste, Hierarquia eclesiástica, Nomes divinos, Teologia Mística e Epístolas) que teve grande repercussão na Idade Média (a própria estrutura hierárquica do Paraíso de Dante foi influenciada pela concepção hierárquica da realidade de Dionísio).
Dionísio repropõe o Neoplatonismo em termos cristãos, sobretudo o neoplatonismo tal como se havia configurado nas formulações elaboradas por Proclo. Mas o que mais se destaca neste corpus, que contém muitas concepções bastante sugestivas, é a formulação da teologia apofática (ou negativa). Deus pode ser designado por muitos nomes extraídos das coisas sensíveis e entendidos em um sentido translato, enquanto e à medida que ele é causa de tudo; de modo menos inadequado, Deus pode ser designado por nomes extraídos da esfera das realidades inteligíveis, como "belo" e "beleza", "amor" e "amado", "bem" e "bondade", e assim por diante; mas, melhor ainda, Deus pode ser designado negando-lhe todo atributo, à medida que ele é superior a todos, é o "supra-essencial" e, portanto, o silêncio e a treva expressam melhor essa realidade supra-essencial do que a palavra e a luz intelectual.
Eis o trecho mais significativo da Teologia Mística: "A Causa de todas as coisas pode ser expressa com muitas e com poucas palavras, mas também com a ausência absoluta de palavras. Com efeito, não há palavra nem inteligência para expressá-la, porque ela está colocada supra-substancialmente além de todas as coisas e só se revela verdadeiramente e sem qualquer véu para aqueles que transcendem todas as coisas impuras e puras, superam toda a subida de todos os cumes sagrados, abandonam todas as luzes divinas e os sons e discursos celestes e penetram na escuridão onde verdadeiramente reside, como diz a Escritura, aquele que está além de tudo". E, transcendendo tudo aquilo que é sensível e também aquilo que é inteligível e inteligente, o homem pode aderir "àquele que é completamente impalpável e invisível" e pertencer completamente "àquele que tudo transcende e a nenhum outro, através da inatividade de todo conhecimento", tornando-se capaz de "conhecer para além da inteligência pelo não conhecer nada".
Giovanni Reale / Dario Antiseri, História da Filosofia, Antiguidade e Idade Média.
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