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Evolucionismo historicista - Spengler

Por Emílio Silva de Castro

Após a Primeira Guerra Mundial esteve na moda a filosofia do relativismo filosófico-cultural e histórico, de Oswaldo Spengler, parcialmente seguida também por Th. Lessing e Toynbee. Sua obra principal, A Decadência do Ocidente (1918-1922), muito discutida ao tempo de sua aparição é hoje quase esquecida; a crítica científica tem demonstrado o alto grau de artificialidade que Spengler pôs a serviço em sua construção.

 Segundo Spengler, a história universal não se desenvolve como um processo unitário contínuo senão a modo de sucessão biologista das culturas que, como expressões específicas do espírito, diferem entre si essencialmente. Assim se sucederam na Europa a cultura grega (apolínea), a arábica (mágica) e a ocidental (fáustica).

As diversas culturas não mantêm entre si relações estreitas. Antes, cada uma (...) pode ser considerada como um organismo autônomo, que segue rigorosamente as leis do crescimento e ocaso. Cada cultura tem sua primavera, eleva-se até a maioridade cultural e entra logo em declínio, até o país ser invadido por outro povo jovem que, por sua vez, começa novo ciclo cultural. Esta cultura nascente não se prende à alta cultura das épocas passadas, senão que se inicia com uma nova primavera de fisionomia própria e percorre logo as mesmas fases das culturas anteriores.

Segundo Spengler, a humanidade não pode esperar nenhum fruto duradouro de todas essas culturas, isoladas e transitórias, porque não há entre elas íntima continuidade. Em tais condições fica excluído da totalidade o sentido unitário; a história universal converte-se numa multiplicidade de culturas descontínuas, cada uma das quais termina, em si, seu ciclo. “Por causa de seu relativismo, diz Sawicki, a concepção histórica de Spengler exclui um sentido unitário da História."

A duração de cada cultura, a modo de um organismo vivente que vai passando pelas três fases, ascensão, apogeu e decadência, é de, aproximadamente, um milênio. Também nos domínios da arte se verificam os mesmos movimentos rítmicos vitais; cada ciclo cultural experimenta a sucessão de períodos arcaico, gótico e barroco. Para Spengler o clímax da história cultural do Ocidente é constituído pela alta Idade Média, na qual desabrocharam as que ele chama flores da humanidade: os dois primitivos estamentos, nobreza e sacerdócio. Com a ascensão do 'terceiro estado', começa a morte do ocidente.

Por último, a “cultura” converte-se em “civilização”. Esta se caracteriza pelo predomínio das grandes urbes. As massas das metrópoles erguem sua cabeça, elas são como uma plebe ignara que só quer panem et ciercenses.

O pensamento de Spengler está todo embebido de relativismo. Para ele cada nova 'verdade' é só um juízo crítico de outra verdade, ultrapassada, pois não há verdades 'eternas'. “As verdades só existem em relação a uma determinada humanidade”. Por isso “resulta vão o intento da alta especulação de descobrir verdades eternas”. E do mesmo modo se pode afirmar que cada filosofia é válida apenas nos limites do círculo cultural onde surgiu.

O pensamento histórico de Spengler, apesar de ser o realismo a sua recomendação permanente, é em alto grau romântico, e pronunciadamente unilateral, em favor dos valores estético-culturais. A crítica tem censurado a Spengler sua tendência a estabelecer analogias superficiais e sua parcialidade na eleição dos grandes materiais em que intenta apoiar suas teorias. Vicente Risco condena sua manifesta hostilidade e por vezes incompreensão e má fé, com respeito ao catolicismo, que o leva em ocasiões a tergiversar a interpretação dos fatos.

A obra toda de Spengler – como a de Burckardt – está sombreada por uma nuvem de pessimismo.

CASTRO, Emílio Silva de. Filosofias da Hora e Filosofia Perene. São Paulo: Edições G R D., 1990. p. 79-80.
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