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Jesus nos cura de nossa cegueira...


S. Josemaria Escrivá

O pecado dos fariseus não consistia em não verem Deus em Cristo, mas em se encerrarem voluntariamente em si mesmos; em não tolerarem que Jesus, que é a luz, lhes abrisse os olhos. Esse nevoeiro tem resultados imediatos na vida de relação com os nossos semelhantes. O fariseu que, julgando-se luz, não deixa que Deus lhe abra os olhos é o mesmo que tratará soberba e injustamente o próximo, rezando assim: "Dou-te graças porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos e adúlteros, nem como esse publicano". E quanto ao cego de nascença, que persiste em contar em verdade da cura milagrosa, ofendem-no: "Saíste do ventre de tua mãe coberto de pecados, e queres ensinar-nos? E expulsaram-no.”

Entre os que não conhecem Cristo, há muitos homens honrados que, por elementar circunspeção, sabem comportar-se delicadamente: são sinceros, cordiais, educados. Se eles e nós não nos opusermos a ser curados por Cristo da cegueira que ainda resta nos nossos olhos, se permitirmos que o Senhor nos aplique esse lodo que, nas suas mãos, se converte no colírio mais eficaz, compreenderemos as realidades terrenas e vislumbraremos as eternas sob uma luz nova, a luz da fé; teremos adquirido um olhar limpo.

Esta é a vocação do cristão: a plenitude dessa caridade que é paciente, benigna, não tem inveja, não é temerária, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não é interesseira, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a injustiça, compraz-se na verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

A caridade de Cristo não é apenas um bom sentimento para com o próximo: não se detém no gosto pela filantropia. A caridade, infundida por Deus na alma, transforma por dentro a inteligência e a vontade; dá base sobrenatural à amizade e à alegria de fazer o bem.

São Josemaria Escrivá, É Cristo que Passa, Homilias.
***

Este pequeno e leve texto de S. Josemaria é muito esclarecedor e gostaria de frisar nele alguns pontos, acrescentando umas breves reflexões.

“O pecado dos fariseus não consistia em não verem Deus em Cristo, mas em se encerrarem volutariamente em si mesmos”. Aqui está uma premissa básica: só é digno de culpa aquilo que é voluntário. Um cego não tem culpa de não ver. A responsabilização, assim como o mérito, implica a liberdade. A culpa dos fariseus, portanto, consiste na obstinação em resistir a Jesus.

“Entre os que não conhecem Cristo, há muitos homens honrados que, por elementar circunspeção, sabem comportar-se delicadamente” - Que lição para muitos de nós, católicos. Quantos há que, sob pretexto de defesa da fé, excluíram de seus tratos a mínima sombra da delicadeza e da cordialidade, e se orgulham de sua brutalidade generalizada.

“se permitirmos que o Senhor nos aplique esse lodo que, nas suas mãos, se converte no colírio mais eficaz, compreenderemos as realidades terrenas e vislumbraremos as eternas sob uma luz nova, a luz da fé; teremos adquirido um olhar limpo.” Lembro o episódio da cura de um cego, descrita no Evangelho de Lucas. Lá se diz: “e ele viu e ficou curado”. Porém, a correta ordem cronológica seria: “Ele ficou curado e, então, viu”. Muitas vezes, Nosso Senhor nos cura transformando a nossa forma de ver. Mas isto supõe o desapego do próprio jeito. E não nos enganemos: a vontade de mudar supõe também o ódio a si mesmo. Aquele que se ama acha que já está bom e se fecha à conversão. Tal é o problema dos fariseus. Para ascender a um outro degrau da escada, que permite uma visão mais alta, forçoso é desapegar-se do degrau em que se está, dos limites da própria comodidade.

“Esta é a vocação do cristão: a plenitude dessa caridade que é paciente, benigna, não tem inveja, não é temerária, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não é interesseira, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a injustiça, compraz-se na verdade, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.” Mais uma grande lição para as feras devotas que, à mínima oposição a si, só faltam cuspir fogo.

“A caridade de Cristo não é apenas um bom sentimento para com o próximo: não se detém no gosto pela filantropia.” Cito somente o que disse Sto André quando convidado a abandonar a sua fé: “Ah, se conhecesses o mistério da Cruz!” Ele vai muito além do que mera filantropia ou bom mocismo... e não há limites para o amor. É próprio da Santidade estender-se ao infinito.

“A caridade, infundida por Deus na alma, transforma por dentro a inteligência e a vontade; dá base sobrenatural à amizade e à alegria de fazer o bem.” Eis, pois, que o homem não se ilumina a si mesmo. “Sem mim nada podeis fazer”, diz Jesus aos seus amigos. O reto cristianismo, portanto, não aceita coexistência com a auto-suficiência, com a soberba, com o orgulho, embora muitos há que queiram usar a cruz para massagear o ego. É preciso, pois, abrir-se ao Outro, que é Deus, numa atitude de pobreza e humildade, sabendo que a Luz não é nossa, mas dEle que, amorosamente, nos ilumina com sua cálida presença. Permitamos que Nosso Senhor nos cure de nossa cegueira...

Pax et Bonum.

Fábio
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