"Ser pobre é assenhorar-se", escrevia Sta Teresa D'Avila, revelando, nesta frase, que havia compreendido intimamente a natureza daquele tesouro escondido que Cristo veio trazer aos seus. Tal é o segredo, também, da Virgem Santíssima, aprofundado a um nível que absolutamente nos escapa, e do qual só podemos falar de modo muito distante. É na sua perfeita pobreza, na sua abismal humildade, que ela, encantando o olhar divino, é elevada acima de toda criatura. "Olhou para a pequenez de Sua serva.. De hoje em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada".
Maria ama com perfeição e este amor perfeito lhe conduz a um abandono perfeito. "Que Ele cresça e eu diminua", diz S. João Batista, consumido de zelo, como novo Elias, pelo Adorável Cordeiro. Maria toma esta mesma resolução, própria dos verdadeiros amantes do Cristo. Não cessará de passar despercebida, de ocultar-se, de silenciar e observar uma imaculada discrição. Nosso Senhor, o único que sondava até o fundo a humildade da Santíssima Virgem e a perfeição das suas virtudes, colaborará com ela, a fim de elevá-la mais tarde, a alturas vertiginosas e inimagináveis aos homens. Maria aprenderá o desapego perfeito: "Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas do meu Pai?", "Minha mãe e meus irmãos são os que fazem a vontade do meu Pai" e "Mulher, eis aí o teu filho..." A perfeição do amor entrega e se entrega. Jesus cuidava para que a Virgem mantivesse suas mãos vazias, como pobre. E ela, por toda a sua vida, mantém uma perfeita fidelidade que supera a de Abraão e que se vislumbra no seu contínuo "faça-se".
O que é um pobre? É alguém que só se dá e que nada reclama para si. "Minha alegria é fazer a vondade do meu Pai", dirá Jesus, o pobre perfeito. "Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo o teu querer", dirá a Virgem Pobre. Oh, que espetáculo de perfeição! Que pobreza perfeita! "Bem aventurados os pobres, porque verão a Deus". Se ser pobre possibilita a visão de Deus, o quanto Maria não terá conhecido este tesouro escondido que é a Divindade? Conviveu com Ele doces anos numa casa pobre em Nazaré. Conhecia-O profundamente, mais do que qualquer outro. E, ainda assim, ei-la discreta, silenciosa, distante dos sucessos públicos, presente no silêncio da Cruz.
"O Meu Pai me ama porque dou a minha vida..." dirá Jesus. Maria, por sua vez, foi só abandono em Deus. Faça-se! Faça-se! Mesmo na dor, faça-se! "O reino dos céus é tomado à força e são os violentos que o conquistam!" Faça-se! E a espada violenta transpassou-lhe o coração. Faça-se...
Pela sua perfeita humildade, aprouve a Deus elevá-la acima dos homens e dos anjos. E Maria, a humilde serva, foi constituída Senhora, Rainha e Soberana do Céu e da Terra. Ei-la coroada de majestade e esplendor, com vestes esplendentes de ouro e de ofir. "Ser pobre é assenhorar-se"... Aquela que soube desapegar-se e que nada reclamou para si foi agora elevada às alturas.
Jesus não havia se aproveitado de Sua igualdade com Deus, aniquilando-se a Si mesmo, diz S. Paulo. Maria, também, sendo Mãe de Deus, não se utilizou de tamanha dignidade e, como Seu Filho, aniquilou-se. Foi, portanto, conduzida aos Céus e a ela, a mais perfeita das criaturas, foi dada a dignidade de Rainha e a missão de ser mãe e senhora dos homens. Neste dia 31 de maio, dia da Coroação, tenhamos tudo isto em vista, para que compreendamos que a dignidade de nossa querida Mãe extrapola toda definição, assim como foi além de todo conceito a profundidade do Seu amor.
Ad Iesum Per Mariam
Fábio.
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