Estamos terminando a Quaresma, e é possível supor que pelo menos uma boa parte dos católicos não a tenha vivo de modo mais esperado. E isto porque é um tanto ingênuo pensar que, depois de meses e meses de caprichos, vaidades e de uma entrega desenfreada aos pedidos da nossa sensibilidade, a ruptura causada por um tempo de penitência será acolhida do modo mais fácil. No íntimo da nossa alma fazemos projetos, planejamos passar este tempo com uma contínua observância de mortificações, orações e santas leituras e, no entanto, é muito frequente que terminemos todo este percurso deprimidos. Se isto não ocorreu com alguém em particular, ótimo! Que Deus lhe dê a graça de uma perseverança cada vez maior. Mas eu também sei que isto que eu descrevo aqui se aplica a uns tantos. Queira Deus que não tenhamos pecado mortalmente, o que, infelizmente, é outra coisa que muito ocorre.
Porém, o importante é entendermos o seguinte: enquanto há vida, há esperança. Se Deus nos mantém existindo, é porque Ele não desistiu de nós e, portanto, não podemos ficar nessa senvergonhice emo de adiar a nossa retomada no caminho da santidade. O grande problema é que, de início, nós olhamos para a Quaresma e a tomamos como um desafio para o nosso orgulho. E aí, soltamos um "Challenge Accepted!" Parece que a tomamos como um tipo de comprovação da nossa suposta santidade. Se adentramos no deserto, que é este tempo, com essas disposições, o muito salutar é que demos com a cara no chão, mesmo. Se saímos da Quaresma ao menos mais humildes, bendito seja Deus, que nos mostra o que nós realmente somos e como vamos distantes de ser os heróis que supúnhamos. Para alguns, o grande benefício da Quaresma será esse.
Porém, a gente deve entender o seguinte: na vida espiritual há dois extremos que devemos ter o cuidado de evitar: a temeridade de nos dizermos salvos e de termos garantida a misericórdia divina - como fazem os protestantes -, e o desespero, isto é, o pensar que Deus se cansou de nós e que os nossos pecados já não têm jeito. Como eu falei: se estamos vivos, isto é um bom sinal; é Deus nos dizendo que ainda há tempo. Pois bem! Levantemos, sacudamos o pó e preparemos o nosso orgulho para a humilhação. Confissão! Ponha os joelhos no chão e peça a Deus a graça do arrependimento. Faça um bom exame de consciência, com a ajuda de algum manual, e não adie a sua ida a um sacerdote. O mais importante aqui é a sinceridade e o desejo de ser humilhado pelo que se fez.
Notemos ainda o seguinte: muita gente não se confessa porque diz que não consegue adquirir estas disposições de que se fala; dentre elas, a dor de ter pecado e a firmeza de não pecar mais. Porém, é preciso entender uma coisa: quando estamos em pecado mortal, a nossa vontade está enfraquecida e enferma. É sem sentido esperarmos que alguém que está de cama tenha vontade de fazer exercícios físicos ou apresente um apetite normal. A firmeza de não pecar e de manter-se fiel não é algo que possamos alcançar por nossa própria empresa. Ao contrário, isso só se adquire pela Graça de Deus e é justamente esta Graça que nós iremos retomar na Confissão.
Portanto, quem não viveu ainda uma boa Quaresma - e lembremos que o essencial é estar em Graça. Não adianta nada fazer mortificações estrambólicas se a nossa alma está obscurecida pelo Pecado Mortal -, confesse-se e retome o caminho. Nada de ficar deprimido.. Vamos deixar de baitolagens e de tolices. A grande festa da Páscoa se aproxima. Não tenhamos medo de abandonar a lavagem do pecado e voltar aos braços do Pai. Digamos - não hipocritamente - que somos os últimos dos seus servos. Se o fizermos, com o coração realmente contrito - esta é a verdadeira penitência -, Nosso Senhor nos achegará a Si e nos fará participar daquela bendita festa. Mãos à obra, então! Ao padre mais próximo!!
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Ah, e a quem já se confessou na Quaresma ou quem não pecou mortalmente, nada impede que se confesse de novo! Bem ao contrário... A confissão é uma necessidade de todos. Já dizia um santo: os pecadores se confessam para se tornarem santos, e os santos se confessam para perseverarem na santidade.
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