Todo pecado tem uma dupla consequência: a pena e a culpa. A culpa nos afasta de Deus e é a consequência maior do pecado. Se a culpa é grave, ela nos separa totalmente de Deus e exige uma reconciliação cuja obtenção está absolutamente acima das possibilidades humanas. Se uma pessoa morrer neste estado, se condena. Porém, há uma segunda consequência: a pena. Esta pena exige uma satisfação pessoal, isto é, ela exige que o autor do pecado, mesmo quando este é perdoado, ainda tenha de se responsabilizar e sofrer as consequências dos seus atos. Uma analogia bastante usada: se alguém comete um roubo, isso é um pecado grave. Vamos supor, então, que ele se arrependa de coração; se a vítima perdoá-lo, ele estará perdoado. Mas isto não o isenta de ter de devolver o que roubou e, a depender do caso, talvez seja preciso que ele vá para a cadeia, cumprir justamente a "pena".
Quando Jesus redime a humanidade, Ele apaga a nossa culpa. Esta culpa, como já dito, era bastante superior a qualquer esforço ou méritos possíveis aos homens. Foi preciso que um Deus humanado morresse por nós para que ela fosse apagada. Porém, a Redenção não obriga ninguém a se redimir; ela exige uma cooperação pessoal. Diz Sto Agostinho: "O Deus que te criou sem a tua participação, não te salvará sem a tua colaboração".
Veja que, se adotamos uma visão confusa da Redenção, poderíamos perguntar coisas do tipo: "Mas se Jesus redimiu toda a humanidade, por que se diz que há pessoas que se condenam? Não seria o mesmo que dizer que a Redenção não foi suficiente?" Aqui está clara a necessidade de cooperação humana. "Quem perseverar até o fim, será salvo". Do mesmo modo, mesmo que se tenha operado a Redenção, Jesus mesmo ainda fala de coisas a pagar: "E eu te afirmo que dali não sairás até teres pago o último centavo".
Mesmo que Nosso Senhor nos tenha apagado a culpa e esta graça esteja condicionada ao nosso consentimento, Ele não nos livrou das penas. Estas penas precisam ser, de algum modo, pagas. E isto está ao nosso alcance. Elas, em geral, são pagas pelos sofrimentos que assumem, a partir do Cristo, um caráter purgativo. Quando estamos em Estado de Graça, isto é, sem Pecado Mortal, ainda assim, mantemos imperfeições e pecados leves ou veniais. Também estes possuem consequências que, por sua vez, exigem satisfação, porque são, ainda, manifestações do nosso egoísmo e mostram como o fundo da nossa alma ainda não é totalmente puro.
Acontece que nada do que esteja minimamente impuro pode ver a Deus face a face (Cf. Ap 21,27). O normal seria que pagássemos as penas ainda aqui nesta vida. Porém, sabemos que, na realidade, a grande maioria das pessoas que morrem em Graça, ainda assim possuem imperfeições. Deste modo, elas não irão para o inferno - pois não têm culpa grave -, mas também não podem gozar imediatamente da visão beatífica, isto é, não estão aptas ainda a ver Deus face a face. Nota-se, daí, que é necessário um estágio posterior de purificação. Este estágio ou lugar é o que a Igreja chama de Purgatório e é justamente onde as penas serão purgadas. O Purgatório é uma profunda expressão da misericórdia divina e nos prepara para que possamos, enfim, gozar da eternidade em Deus.
Nada disso contraria a Redenção de Nosso Senhor. Bem ao contrário, todo este contexto, antes, é produto da Redenção. Demos graças a Deus por isso.
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