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Alguns comentários meus à resposta do Pe. Fábio.


Como disse que poderia vir a fazer, rabisquei algumas coisas sobre certas questões que me pareceram estranhas na resposta do Pe. Fábio. Adianto que, dentre as partes escolhidas, há a possibilidade de algum equívoco de minha parte com respeito às implicâncias daquilo que ele afirmou. Mesmo assim, como costuma dizer a Teresa (Magdália), espero dar o meu (humilde) contributo. .. Vamos lá.

Começando, Pe. Fábio diz o seguinte:

"A plenitude da Revelação é Cristo, mas esta plenitude não significa esgotamento da Verdade".

Me corrijam se eu estiver errado, mas... como pode o Cristo ser a plenitude e, ao mesmo tempo, haver algo a mais? Não é o Cristo a própria Verdade? Como que Ele não "esgota" a Verdade? Que verdade haveria além do Cristo? Sabemos que Cristo é Deus e que tudo quanto é dotado de natureza nos veio dEle. "Por ELe tudo foi feito, e sem Ele nada do que foi feito se fez". O próprio Cristo disse: "Revelei-vos tudo quanto ouvi de meu Pai". Bem... talvez Pe. Fábio estivesse se referindo à compreensão que da Verdade Imutável teria a Igreja no decorrer dos séculos. Esta compreensão, claro, sofreria um processo de maturação. Neste sentido, diz Nosso Senhor: "Muitas coisas tenho ainda a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora", e mais tarde, "Vos mandarei o Paráclito; Ele vos ensinará tudo sobre o Pai". O verbo em destaque está no futuro, e nos mostra que o próprio Deus seguiria formando Sua Igreja. No entanto, isto não significa uma complementação na Revelação. S. Paulo escreve o seguinte: "Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas" (Hb 1,1-2). O fato de ter se revelado, antes, de múltiplas formas e em diversas ocasiões, se deve ao caráter imperfeito daquelas "semi-revelações". No entanto, por seu Verbo, revelou-nos tudo. E isto é de tal modo verdadeiro que S. João da Cruz explica ser uma ofensa ao Verbo que o cristão deseje novidades ou revelações particulares paralelas à Revelação do Filho de Deus. Desejar novidades é supor que a Revelação do Cristo foi incompleta. No Cristo encontramos tudo; e este "tudo" transcende infinitamente as nossas maiores expectativas. Portanto, a Revelação se deu completamente em Jesus. O que Cristo fará, no decorrer dos séculos, não consistirá em outras Revelações, visto que a substância toda estava posta, ou, como prefere o doutor místico, estavam assentadas todas as bases da Fé. Cristo, então, conduzirá a sua Esposa a uma compreensão sempre mais profunda e madura a respeito daquilo que Ele ja havia Revelado.

Uma terceira forma de compreensão da afirmação do Pe. Fábio poderia referir-se àquilo que não nos foi revelado e que permanece para nós Mistério até o dia em que estaremos com Ele e não precisaremos perguntar mais nada (Jo 16,23). De certos pormenores, porém, não podemos falar como revelados. Deles temos a notícia suficiente para nos afastar do erro. Sabemos que a Vida Eterna, por exemplo, consiste em conhecer a Deus face a face (Jo 17,3), mas não sabemos, de fato, o que isto signifique substancialmente. Em todo caso, não creio que Pe. Fábio de Melo se referiu a este último aspecto.

"A teologia está a caminho. A grandeza da Revelação não cabe nos documentos que temos, nem tampouco na Teologia que já sistematizamos. O dogma evolui, pois a verdade é santa".

Vamos por parte. Pe. Fábio concebe uma teologia perfectível e, portanto, imperfeita. E isto deve ser bem compreendido. De fato, no decorrer dos séculos, a teologia se sistematizou, de uma forma processual; mas entenda-se aqui a teologia como sistema referente à Verdade Imutável. Este processo não significa uma mudança ao acaso. Se assim fosse, as heresias não seriam chamadas heresias, seriam apenas teologias gozando da sua possibilidade de serem diferentes. Mas não é assim. Como o objeto da Teologia é imutável e absoluto, pois é Deus, a reta teologia sofre o processo de aperfeiçoamento na medida em que se aproxima da divindade. Acredito termos em Sto Tomás de Aquino o auge do esforço teológico.

Outra coisa... Sabemos, conforme nos ensina a Teologia Apofática, que a Teologia não pretende encerrar o conhecimento de Deus. Concebendo-O como "Supra-conceitual", qualquer imagem ou fórmula que a Ele se refira de forma estrita é reconhecida como "inadequada". Nossos conceitos relacionam-se a Deus apenas de forma análoga. Assim, quando dizemos que Deus é bom, tal conceito não é falso, mas o termo "bom" e a idéia que dele fazemos ainda não "tocam" a bondade de Deus, que transcende o significado exprimível por este conceito. Enquanto estas fórmulas nos apresentam algo sobre Deus, ao mesmo tempo, limitam-nos ao limite do seu significado, sendo que a substância a que o termo se refere o transcende infinitamente. Thomas Merton refere-se a isso como "crise da teologia", e marca o ponto onde, abandonando os conceitos (mas levados a este ponto por esses mesmos conceitos) mergulhamos na obscuridade, nas "trevas", onde nos encontramos com Deus de forma mais direta, como o fazia Moisés ao entrar "na nuvem". Isto está na tradição da teologia negativa, com um S. João da Cruz, um Pseudo-Dionísio Areopagita, um S. Gregório de Nissa. Neste contexto, pode-se falar de uma "imperfeição" da Teologia. Mas é a observância de uma correta Teologia Positiva que nos permite chegar ao ponto onde, adentrando naquela obscuridade da Fé, é possível transcender o nível das relações por analogia e encontrar-se com Deus de forma mais direta, passando, como bem o expressa S. João da Cruz, da noticia à substância, isto é, ao objeto referido pelo conceito. Porém, dentro destes limites conceituais, a teologia positiva é perfeita, e haure sua perfeição da sua correspondência ao objeto a que se refere, Deus.

Pe. Fábio não parece seguir esta linha. Ao contrário, ele parece compreender a teologia como criação meramente humana, sujeita a inexatidões. Levada ao extremo, esta proposta de leitura pode chegar à destruição da própria teologia, fazendo crer que se pode prescindir da total observância do que ela prescreve. A teologia seria muito mais um retrato da limitação humana do que correspondência à verdade divina.

Não sei se é realmente assim que entende o pe. Fábio de Melo, mas convém dizer que, a uma teologia compreendida dessa forma, não convém chamar Revelação, atitude que parte do Ser que se revela, mas deve chamar-se "invenção", "verdade" criada pelo sujeito cognoscente na sua tentativa "humana demais" de sistematizar a Fé.

A grande "bola-fora", porém, chegando a ser heresia desvelada, é a afirmação de que o dogma evolui. Ora, isto é frontalmente contrário ao ensino da Igreja. Dessa forma, o Pe. nega a imutabilidade e, por isso, o caráter absoluto do dogma. Isto também seria criação humana? Interessante que o Pe. Fábio, logo adiante, falará da autoridade da Igreja como critério de uma interpretação da Verdade.

Convém, aqui, separar duas coisas: uma é dizer que a compreensão da Verdade pode se tornar mais perfeita, o que é verdade; outra, porém, é dizer que a própria Verdade evolui, o que é falso.

"Mas nós também reconhecemos a Sua (do Cristo) presença, indícios do sagrado, em outras religiões. Como reconhecemos? Através dos frutos que produzem."

Este é um critério bastante frágil se mal compreendido. Quando se fala disto, geralmente se assume uma perspectiva fenomenológica, isto é, do fenômeno, aquilo que aparece. Quando se põe a atenção num aspecto do efeito, é muito fácil se enganar. É por este motivo que a maioria dos desavisados a respeito da Fé consideram, por exemplo, que Chico Xavier só fez o bem, ou que os espíritas são cheios de caridade, etc... Mas está claro que esses "fenômenos" não dão prova da bondade de suas ações. Se assim fosse, qualquer ator poderia ser santo, e os fariseus não teriam sido criticados por Jesus. Falei acima de "aspecto" do efeito, porque o próprio efeito, considerado na sua totalidade, não se reduz ao que se vê imediatamente, mas completa-se por uma série de outros fatores. Por isso, Nosso Senhor nos disse: "Pelos seus frutos os conhecereis" (Mt 17,20).

No entanto, esta perspectiva mais completa não parece ser observada pelo Pe. Fábio, que se limita ao fenômeno, visto que concebe como bons os frutos de outras religiões. Importante esclarecer: não nego a existência de gente boa e sincera em outras religiões, mas tal bondade e sinceridade não são frutos provindos das heresias, mas sim da possibilidade da bondade moral intrínseca ao ser humano. Outra coisa, porém, é a bondade espiritual, possível somente pela infusão da Graça e vivência das virtudes teologais.

"(...) Nos abrimos com humildade para compreender que outras religiões também vivem e perseguem os rastros do sagrado, e que mesmo oculto, lá o Cristo já está sendo vivido."


O que é viver o Cristo para Pe. Fábio? Seria somente um conjunto de comportamentos meramente exteriores? Mas não é Pe. Fábio que critica a atitude de "ver somente a margem"? E a questão espiritual? As virtudes teologais? Os sacramentos? E a submissão à verdade? Tudo isto é renunciável? Seriam apenas caprichos dispensáveis da Igreja? Pe. Fábio parece se assemelhar ao herege Pelágio que defendia a possibilidade da total configuração ao Cristo pelo mero esforço humano. Neste entendimento, a infusão da Graça não seria necessária..
Como viver o Cristo na mentira, Ele que disse "Eu sou a Verdade"? A menos que se aceite que os protestantes também também vivem a Verdade... Mas a Verdade não é una? E é próprio da verdade não aceitar coexistência com o erro. Como, pois, pode a verdade opor-se a si mesma, visto que os protestantes opõem-se à Igreja Católica?
Se, porém, se aceita que os protestantes seguem uma falsa doutrina, como se supor que se vive o Cristo seguindo uma mentira? Por acaso chega-se a um determinado lugar, trilhando caminho que não leve a este lugar? As únicas exceções que poderiamos supor aqui, seriam os que se encontram no estado de "ignorância invencível". Mas, nem podemos incluir neste estado toda uma seita, nem supor que os que vivem neste estado estejam "vivendo o Cristo".

"O primeiro homem criado não pode ter tido a experiência que a sagrada escritura relata. Ou você pode desconsiderar todos os conhecimentos a respeito da origem do ser humano?"

Bem.. uma coisa é dizer que a experiência de Adão "pode não" ter sido da forma descrita, o que muita gente sustenta. Outra, muito diferente, é dizer que "não pode" ter sido conforme o relatado. Parece que, quando Pe. Fábio fala da possível independência entre um significado simbólico e um evento literal, na verdade pretende defender a sua completa dissociação e, mesmo, impossibilidade de coexistência. Pode ser que eu esteja forçando um pouco as coisas, mas tal afirmação do Pe. Fábio é muito estranha. Com que autoridade Pe. Fábio de Melo diz que a experiência do primeiro homem "não pode" ter sido como descrita? Tento responder: com a autoridade que ele julgar haver na teoria (que alguns chamam de pseudo-científica) da evolução. Eu, particularmente, não acredito na tal teoria, e minha descrença não é a priori, pois conheço alguns textos bem convincentes a respeito da posição que sustento. Sei, porém, que a questão é bem complexa, de modo que há vários católicos que sustentam a tese do evolucionismo. Mas a teoria é apenas isso: uma tese, que muitos dizem ser, antes, uma posição da qual se parte, e não uma conclusão a que se chega. Pe. Fábio, no entanto, parece querer adaptar a Escritura à sua certeza infundada no "conto do macaco". Ademais, o livro do Gêneses também não oferece o conhecimento a respeito das origens do ser humano? É só a "ciência" que tem o conhecimento?

"A Fé não é um conjunto de certezas (...) Não temos prova concretas para muitos aspectos da fé que professamos. Se as tivéssemos não precisaríamos ter fé. Acreditamos no que não vemos."

Na primeira frase, Pe. Fábio viajou na maionese... Quem quiser achar que ele se expressou mal, ache. Mas a frase não diz isso. O Apóstolo Paulo diz o seguinte a respeito da Fé: "A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê". Portanto, a Fé é sim uma certeza. Se alguém me perguntar se eu tenho certeza do Céu, que direi? Que não tenho pq não há provas materiais da sua existência? Este positivismo é herético. Nem tudo pode se submeter a um tubo de ensaio. Aliás, a maior parte... Não ter provas "concretas" não significa não ter certeza...

Bem... Depois eu continuo...

Pax.

Fábio Luciano



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Um comentário:

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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