Estive agora visitando um blog (não católico) que ostenta este termo: atitude. O mais interessante é a conotação ideológica que dão ele. Impressionante o nível de doutrinação a que certas pessoas são submetidas. É como se, na falta de uma religião, ou mesmo com ela, às vezes, estas pessoas buscassem um substituto para o absoluto que lhes falta. Lá no curso de filosofia, lembro-me de um rapaz, muito bem intencionado, embora muito mal orientado, que trazia tatuado no braço direito, em maiúscula, esta palavra. Vejo-a em comerciais, em discursos, em conversas... como este nome é evocado com facilidade. Mas.. o que será que isto esconde? E que mal tem em ter "atitude"?
A princípio, nenhum. O problema é a forma como o entendem. Vivemos num mundo que inverte tudo. Precede a prática à teoria, precede a ação à oração, precede as atividades à contemplação, valoriza mais a ação em si do que a intenção que a move. Além de todo este ativismo, a miopia ideológica das erquerdas simplesmente assola o mundo. Concebendo a revolução como princípio motor de toda mudança, e estabelecendo como pressuposto imutável a impossibilidade de conciliação das partes, estes moços se dedicam a uma revolta generalizada contra tudo o que não venha com o carimbo fétido do comunismo.
A agitação revoltada passa a ser um "a priori". Ao invés de terem o bom senso de responder de acordo com o estímulo que se apresenta no real, estes "intelectuais" garantem previamente o tipo de interpretação que farão deste real somente lendo tosquices como o índice do "Manifesto Comunista" e pulando, em seguida, pra última linha deste "conjunto impresso de flatulações condensadas" (kk.. os pré-socráticos até tinham sua razão: os gases condensados formam cada coisa... ).
Na verdade, tudo o que façamos pode ser entendido como uma atitude. O mover-se é atitude, assim como o aquietar-se. Porém, da forma como é compreendida, isto é, como sendo necessidade de contínua agitação, a "ideologia da atitude" não tem consistência. Primeiro que, quando se põe a ação anterior à reflexão, ela perde sua base e fada-se a todo tipo de incoerências. O único norte que uma coisa frenética assim pode ter é seguir a maioria do mesmo grupo, fazer do fator quantidade o critério de verdade, o que nunca deu certo... Mas num mundo agnóstico e cético, em que a verdade some dos horizontes, faz-se de tudo. É como o filho pródigo que, abandonando a casa paterna, vê diante de si somente a lavagem dos porcos. E esta é verdade profunda: o que não é pão dos filhos é migalha de cães.
Bem.. Isto escrevo, não porque tenha esperanças de que este povo da foice leia estas linhas. Meus colegas fãs de Marx conservam, também aprioristicamente, um receio e uma raiva do que quer que se enquadre na esfera da religião. Afinal, como dizia o "materialista discípulo do idealista" (aff...o mínimo de coerência, por favor...), a "religião é o ópio do povo". Deixe estar...
O meu foco, porém, são alguns católicos, pois ainda há, aos montes, os desavisados e os que não se dão a uma reflexão maior sobre estas coisas. Aos outros católicos, os muitos que me ultrapassam em profundidade de reflexão, peço paciência...
Vejam só. Um tal ativismo pode ser uma tentação velada, mesmo para os católicos já mais adiantados. É comum que, ao percebermos o nosso próprio crescimento pessoal e intelectual, comecemos a cultivar, disfarçadamente, aquele torpe apreço por nós mesmos, origem de todos os vícios, e a creditar certa eficácia particular a tudo o que fazemos. Há vezes em que colocamos a nossa ótica pessoal no cume da hierarquia das impressões. Sem percebermos, começamos a fazer tudo gravitar em torno de nós, crendo piamente na importância da nossa contribuição pela Igreja e como que vislumbrando os sorrisos de satisfação de Deus ao nos contemplar do Céu. Nós somos a própria vaidade, como dizia Sta Teresa D'Avila. No meio deste fervilhão de misérias, por vezes, arriscamos publicamente dizer coisas do tipo: "ah... mas eu sou um servo inútil". Melhor seria que disséssemos isso pra nós mesmos, crendo nesta afirmação. Vejam bem. Não quero sugerir que seja preciso alhear-nos de nossas qualidades. Ao contrário. A humildade não se identifica, de forma nenhuma, com uma posição pusilânime e insegura. Fechar os olhos para os dons recebidos e para a próprias capacidades representa falta de auto-conhecimento, grande miséria dos homens de hoje e verdadeiro impedimento de santidade, além de tal conduta estar no pólo oposto ao da pobreza evangélica. Sta Teresa dizia que "a humildade é a verdade" e S. Josemaria, por sua vez, que "para seres humilde, não precisas diminuir teus dotes, mas, somente saber de onde vieram".
No cultivo, porém, deste orgulho transmutado, é comum que nos lancemos a todo tipo de trabalho exterior e nos descuidemos da alma. E isto, comumente se faz até com boa intenção. É então que podemos cair neste tipo de ativismo, numa série de agitações e supostos compromissos que cremos agradar o céu. Aos nossos próprios olhos, passamos a nos ver como pessoas sérias, católicos como poucos, e achar que um mundo com meia dúzia de nós seria suficiente para a conversão dos pecadores... Queira Deus que isto nem sequer apareça nos horizontes da nossa alma... Mas desde já, perscrutemos o nosso interior esmagando as sementes destes vícios sobre a rocha de um conhecimento pessoal fundado em Deus. S. João Clímaco diz que "o verdadeiro sentinela do coração é aquele que está disposto a derrubar e matar qualquer um que se aproxime". Isto está ainda presente na ordem de Nosso Senhor: "vigiai!"
Algum tempo atrás, mais ou menos na época em que conheci S. João da Cruz, e quando tinha também certas intenções de grandeza de forma mais acentuada (não que eu não as tenha hoje, infelizmente), comecei a ler coisas que, para mim, foram como verdadeiros luzeiros e me ajudaram a compreender, um pouco melhor, certas verdades. S. João da Cruz começava cortando impiedosamente vários gigantes, dizendo mais ou menos o seguinte: "farás muito mais para Deus submetendo-te e renunciando tuas vontades, do que todos estes serviços que pensas prestar-Lhe". Isto, particularmente pra mim, foi um míssil de Deus...kk.. Depois o Monge Louis (Thomas Merton), trapista, seguia retirando-me as escamas dos olhos: "agitação e barulho podem ser manifestação de qualquer espírito, menos do Espírito Santo", além de discorrer sobre a covardia própria de quem sempre procura algo pra fazer. E é muito interessante isto: muito se fala em oração, e pouco se sabe o que é, como dizia o peregrino russo, porque a soberba, como ensinava S. Francisco de Assis, se importa meramente com a teoria das coisas, desmerecendo-lhe a substância. E assim se arruma todo tipo de distrações: mil músicas, mil livros, mil cadernos, mil programas e, por vezes, se crê que isto é vida devota. Por fim, S. Josemaria me dizia o seguinte: "aproveitarás melhor teus dons guardando-os do que desperdiçando-os de forma errada". Estes e outros escritos preciosos, para mim, foram essenciais.
O ativismo desenfreado somente consegue parar quando cai no precipício: é o cego chamado soberba guiando o cego chamado homem: cairão no mesmo buraco.
Por isto chamo a atenção para esta verdade: muitas vezes se faz mais, ficando quieto, ou, como dizia o Beato Rafael, fala-se mais quando se fica em silêncio. Mas, também aqui, é importante ter um reto discernimento. Por vezes, sem dúvida, há situações que exigem a nossa ação, e, então, usar de toda maestria que nos foi concedida, torna-se não só uma conveniência, mas um dever. Que Cristo, nosso Amado Senhor, nos ensine estas coisas, porque sozinhos somos puras trevas. Compreendamos, por fim, que a humildade também nada tem a ver com o medo. Ao contrário, é humilde quem tem a ousadia de dizer: "tudo posso nAquele que me conforta".
Escrevi um bocado hoje.. rs...
Fábio Luciano.
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