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Se queres ser perfeito...

Um jovem aproxima-se do divino Salvador e pergunta-lhe sobre o que deve fazer para alcançar a vida eterna. Jesus pede-lhe observar os mandamentos. Como o jovem afirmasse já fazê-lo desde a infância, Nosso Senhor lhe faz um grande convite: "Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21). No entanto, o jovem, ouvindo aquele convite e as implicâncias que ele trazia, "foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico" (Mt 19,22).

Eu gosto muito deste Evangelho. Nele fica clara a contradição em que vive os que se apegam às criaturas. Na ordem correta das coisas, os seres devem ser amados em função do Criador, dAquele sem o qual eles não existiriam, e de Quem todos dão testemunho. Aquele, porém, que ama algo fora de Deus, gera uma desordem, retira o objeto amado do contexto em que devia estar, amando-o com particularidade. Desta forma, já não se tem as mãos livres para o serviço, nem os pés descalços para a adoração (Cf Ex 3,5), nem a alma nua para a entrega (Is 20,2); abandona-se a leveza do caminho da pobreza pela aflição das posses. A alma que vive assim já não enxerga direito, é como cego. Submete-se, não ao Senhor, mas às paixões e passa a alimentar-se, não do Maná, mas das migalhas, como os cães (Mc 7,27). Nesta situação lamentável, aquele que se faz escravo de seus apegos, terminará por ser expulso e perderá o convívio dos Filhos de Deus (Cf. Gn 21,10).

Poderíamos objetar que o rapaz de que fala o Evangelho não se encontrava em semelhante estado, visto que afirmou praticar os mandamentos. Isto prova que ele amava o Senhor, pois o Cristo disse: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra" (Jo 14,23). No entanto, observemos melhor. Primeiramente, há a hipótese de que o rapaz estivesse animado de presunção, querendo antes causar admiração pela sua vida devota. Seria mais um clássico caso do fariseu que reza no templo agradecendo por não ser como os outros. Podemos ainda entender que, naqueles tempos, a observância da lei era, por vezes, compreendida de forma puramente exterior. Por este motivo, Cristo afirmou ter vindo aperfeiçoar a Lei. Se antes era proibido matar, agora aquele que cultivasse ódio pelo irmão, era réu de assassinato. Se era pecado adulterar, agora o homem que alimentasse desejos impuros no seu coração era culpado por este delito. Quando Cristo convidou o jovem para o Seu seguimento, foi apenas uma forma de constatar a veracidade da sua religiosidade. Aquele que vive os mandamentos é aquele que luta contra si mesmo e acostuma-se a renunciar os próprios desejos. Ora, se o jovem fazia isto desde a infância, haveria de saber fazê-lo agora também. O convite de Jesus toca o cerne da verdadeira devoção, e o que Ele propõe é a mesmo que o fará em outro momento: "Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo". Cristo mostrou o caminho da cruz àquele rapaz, mas as escamas que trazia nos olhos não lhe permitiram ver a beleza daquele chamado. Será que isto acontece conosco?

O jovem dizia e acreditava cumprir todos os mandamentos. Mas, o primeiro, aquele que fundamenta todos os outros, ele não vivia: o mandamento de "amar a Deus sobre todas as coisas". Isto esconde um perigo. Por vezes, na nossa sede de aventura, em nossos orgulhos secretos e pretensões de heroísmo, nos propomos ao seguimento de Nosso Senhor, não por amor a Ele, mas por apreço a nós, por acreditar na nossa própria capacidade, por saber que é difícil e encarar como um desafio. Há o perigo de que tudo não passe de um desejo de auto-satisfação. A alegria que sentimos quando fazemos algo virtuoso consiste em que? Será mesmo amor a Deus, ou reconhecimento por nós mesmos? E a dor quando pecamos? Será por termos ofendido a Deus ou por termos nos descoberto imperfeitos? Amar a Deus sobre todas as coisas! Sem isto, tudo é barulho inútil e agitação estéril.

Sim... Talvez aquele jovem sejamos nós. Engolfado na satisfação de sua própria vaidade, ele não reconheceu a voz de Quem o chamava. Porém, como dizia uma santa que agora não me recordo o nome, "o coração puro de longe, Senhor, Vos perceberá". Se aquele rapaz amasse a Deus sobre todas as coisas, saberia que aquela voz era a dEle. "As minhas ovelhas conhecem Minha voz".

Por fim, o jovem foi embora triste porque tinha muitos bens. E isto me lembra S. João da Cruz: "para vires a ter tudo, não queiras ter nada". Cristo era aquela pérola pela qual o rapaz devia entregar tudo; era Ele o tesouro escondido, que o jovem, distraído com suas riquezas, desprezou. Sim.. Somente um pobre (no autêntico sentido evangélico) poderia ver com clareza quem era Aquele Homem.

E isto me lembra a frase do Papa João Paulo II: "Francisco, o mundo tem saudades de ti".

Que Cristo, nosso Amado Deus, nos ensine a ser pobres, verdadeiramente pobres assim como Ele foi, vivendo de uma pobreza que é motivada pelo amor (os "pobres" marxistas e TListas são, na verdade, a sumidade da soberba humana). Se aprendermos isto, poderemos seguí-Lo sem entraves, sem empecilhos, num constante suspiro de amor. "Bem-aventurados os pobres, pois deles é o Reino dos Céus".

Fábio Luciano
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