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8 de setembro, natividade da Santíssima Virgem Maria



Das grandezas de Maria, S. Luíz Maria Grignion de Montfort

Como o novo Adão ao seu paraíso terrestre, assim desceu Deus Filho ao seio virginal de Maria para aí achar as suas delícias e operar, às escondidas, maravilhas de graça. O Deus feito homem encontrou a sua liberdade em se ver aprisionado no seio dela; fez brilhar a sua força, deixando-se levar por essa jovem virgem. Achou a sua glória e a de seu Pai, escondendo os seus esplendores a todas as criaturas da terra, para só os revelar a Maria; glorificou a sua independência e majestade, dependendo desta amável virgem na sua concepção, nascimento, apresentação no templo, na sua vida oculta de trinta anos e, até, na sua morte. Maria devia assistir a essa morte, porque Jesus quis oferecer com ela um mesmo sacrifício e ser imolado à vontade de Deus pelo consentimento de Abraão. Foi Ela que o amamentou, nutriu, sustentou, criou e sacrificou por nós... Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus! Nem o Espírito Santo a pôde ocultar no Evangelho para nos mostra o seu valor e glória infinita, embora tenha escondido quase todas as maravilhas operadas pela Sabedoria encarnada durante a sua vida oculta. Jesus Cristo deu mais glória a Deus Pai pela sua submissão a Maria durante trinta anos do que lhe teria dado se convertesse toda a terra operando os maiores prodígios. Oh! Quão altamente glorificamos a Deus, quando nos submetemos, para lhe agradar, à Virgem Santíssima, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo!

Se examinarmos de perto o resto da vida de Jesus, veremos que Ele quis iniciar os seus milagres por Maria. Santificou São João no seio de sua mãe, Santa Isabel, pela palavra de Maria. Logo que Ela falou, João ficou santificado; e este foi o primeiro milagre de Jesus na ordem da graça. Nas bodas de Caná, Jesus mudou a água em vinho, atendendo ao humilde pedido de sua Mãe; e este foi o seu primeiro milagre na ordem natural. Começou e continuou os seus milagres por Maria; por Ela os continuará até ao fim dos séculos.

Sendo o Espírito Santo estéril em Deus, isto é, não produzindo nenhuma outra Pessoa divina, tornou-se fecundo por Maria, a quem desposou. Foi com Ela e nela e dela que formou a sua obra prima: um Deus feito homem, e que forma todos os dias até ao fim dos séculos, os predestinados e os membros do corpo que tem por cabeça o adorável Jesus. É por isso que, quando mais numa alma Ele encontra Maria, sua amada e inseparável esposa, tanto mais operante e poderoso se torna para produzir Jesus Cristo nessa alma e essa alma em Jesus Cristo.

Não se quer dizer com isto que a Santíssima Virgem dê ao Espírito Santo a fecundidade, como se Ele a não tivesse. Ele é Deus e, por isso, possui a fecundidade (ou a capacidade de produzir) tal como o Pai e o Filho, embora a não transforme em ato, produzindo outra pessoa divina. O que se quer dizer é que o Espírito Santo reduz a ato a sua fecundidade por intermédio da Santíssima Virgem. Mas o Espírito Santo quer servir-se dela, embora disso não tenha uma necessidade absoluta, para produzir nela e por Ela Jesus Cristo e os seus membros. Mistério de graça, escondido mesmo aos cristãos mais sábios e mais espirituais!

O procedimento que as três Pessoas da Santíssima Trindade tiveram na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo, têm-no ainda todos os dias, duma maneira invisível, na Santa Igreja, e tê-lo-ão até à consumação dos séculos, na última vinda de Jesus Cristo.

Deus Pai juntou todas as águas, e chamou-lhes mar; juntou todas as suas graças, e chamou-lhes Maria. Este grande Deus tem um tesouro ou celeiro riquíssimo, onde encerrou tudo o que tem de belo, de resplandecente, de raro e precioso, incluindo o seu próprio Filho. E este tesouro imenso não é outro a não ser Maria, a quem os santos chamam o tesouro do senhor, de cuja plenitude os homens são enriquecidos.

São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem
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