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CNBB e CEBs


Parece que as Comunidades Eclesiais de Base sairão da 48ª Assembléia Geral dos Bispos do Brasil mais fortes que antes. Sendo o tema principal do evento, foi objeto de vários elogios que ressaltaram a grande necessidade da sua existência em terreno eclesial. Houve quem chegou a dizer que as CEBs “garantem a unidade na Igreja entre fé e vida, oração e compromisso político”. Não sei o que pensar disto. Não compreendo se estas afirmações são provenientes de uma inacreditável ingenuidade por parte dos senhores bispos, ou se a coisa anda mesmo pelo lado da má intenção. Prefiro ficar com a primeira hipótese, ainda que seja tão difícil de acreditar. 

Há como que uma sugestão de que as CEBs, de forma muito particular, desempenham ou representam o papel social da Igreja, o que é falso. A "libertação integral" do ser humano, como diz alguém, é traço inerente à própria Igreja. O que acontece, porém, é que o discurso ideológico esquerdista reduz esta libertação ao âmbito puramente material. Isto somente se faz a partir de um reducionismo radical do próprio ser humano, como se só de pão vivesse o homem e, ao identificar a atuação política e social com o próprio significado intrínseco da evangelização, deduz-se daí a superioridade deste movimento com relação aos outros, mais orantes e mais inúteis e que, não raro, "mutilam" o evangelho.

O problema está mesmo na forma como se compreende esta "libertação integral". Seria a libertação das opressões sociais, políticas, econômicas? Que isto seja importante, vá lá... mas e o caráter espiritual? Ainda que se objete que tal senhor bispo está a seguir a linha pós-conciliar, já afirmo que o concílio, bem no seu início, afirma claramente que a ação deve submeter-se à contemplação, demonstrando, dessa forma, a ordem clara na hierarquia dos valores.

Quem conheça as CEBs, quem tenha tido experiência ou contato, haverá de concordar que, em se tratando de espiritualidade, sejamos sinceros, a coisa fica infinitamente aquém do que deveria ser típico de qualquer grupo que pretendesse dizer-se católico.

Não raro, a própria catequese é a mínima. Ora, para crer bem é preciso conhecer bem, como bem o disse Sto Agostinho. Se, porém, tal conhecimento não é cuidado, tem-se que os seus vários militantes (termo bem apropriado), ou não conhecem bem a fé católica, ou, conhecendo-a, a rejeitam deliberadamente. Caberia aqui a pergunta a respeito das diretrizes da Doutrina Social da Igreja. Ora, se pretendem ter um enfoque sobretudo social, porque não acatar aquilo que tão bem foi expresso pelo Magistério e que constitui tesouro de grande valor e de luz incomparável? Por que agarrar-se, ao invés, a conceitos ideológicos que de maneira nenhuma se coadunam com o ensinamento católico e que, como ainda recentemente escrevia o Santo Padre, representam antes perda significativa de forças?

Uma compreensão minimamente cristã dada à expressão “libertação integral” não deveria incluir a desobediência aos ditames da Igreja nem o abandono deliberado dos seus ensinamentos, tanto no âmbito espiritual como no social. Inúmeros exemplos poderiam ser citados a respeito deste afastamento generalizado do ensino tradicional. Basta, por exemplo, dar uma olhada com o que fazem com a liturgia e, de outro, observar nos termos com que se referem ao ideal da justiça. Salta aos olhos o reducionismo radical a que submetem o ser humano, praticamente retirando de seu campo de ação toda verdadeira catequese, toda evangelização propriamente dita. E quer-se chamar a isso de “libertação integral”? Tem-se, aí, uma naturalização da religião que somente pode se firmar sobre um pressuposto de ceticismo a respeito das realidades supra-naturais.

Tal conclusão não deve causar espanto, uma vez que a linha de atuação das CEBS é inspirada na Teologia da Libertação (TL), ideologia de cunho marxista. Ora, o marxismo tem o ateísmo como cerne de sua estrutura. Daí que a TL, ainda que queira se transmutar de certo devocionismo, traz, na sua ação e na sua compreensão do mundo e dos homens, esta mesma característica essencial da ideologia marxista que é a descrença em toda realidade sobrenatural. Neste contexto, portanto, ajudar um homem materialmente significaria ajudá-lo integralmente. Ora, se isto procede, então os que rezam perdem tempo. Cai-se numa auto-suficiência disfarçada, onde o homem supõe poder prescindir de Deus. No fim, há um fenomenalismo grosseiro, um naturalismo da religião, uma inversão dos valores, um reducionismo do homem, tudo isto tendo o ceticismo por base.

Outras falas de participantes da Assembléia podem enfatizar ainda mais essa grande superficialidade com que se convencionou tratar o sagrado. Depois de um comentário emocionado de um bispo a respeito do 12º Intereclesial das CEBs, onde afirma ter sido esta a maior bênção da sua vida, o texto traz ainda outros comentários curiosos. Dentre eles:

“Na minha diocese essa opção pelas CEBs foi feita e é irrenunciável, pois tem dado frutos extraordinários, não apenas em manter viva a fé e a esperança do povo, mas onde existem as CEBs os evangélicos não entram e os católicos não saem da nossa Igreja”.

Fé e Esperança são virtudes Teologais. Será neste sentido que terá se referido o senhor bispo? Ora, a Fé é ferida quando se adere a algum ponto que vai contra a Doutrina da Igreja (Heresia) ou quando se lhe renuncia por completo (Apostasia). Se alguém, portanto, opta pela Teologia da Libertação, já várias vezes condenada, está naturalmente indo contra o que a Igreja ensina. Se parte a defender ideais socialistas e comunistas, mantendo uma visão anti-cristã do mundo e dos homens, obviamente que tal indivíduo, além de estar incluído na bula papal que excomunga socialistas e comunistas, também não possui a virtude teologal da Fé. É por estas e outras que muitos criticam, com razão, a linguagem por demais ambígua de vários representantes da Igreja nos tempos hodiernos, realidade que contrasta imensamente com o firme e claro discurso dos líderes católicos de outros dias.

Somente uma olhadela na assembléia de fiéis não é suficiente para supor-lhes genericamente a fé, sobretudo quando, em tal comunidade, os elementos verdadeiramente católicos estão misturados com outros provenientes da criatividade e dos achismos humanos. Não sei como algumas pessoas não se espantam dante desta grandíssima pretensão de inovar o sagrado. Realmente, isto não se faz senão por alguma negação anterior do realismo do mesmo, ou, no mínimo, pela negação do valor do ensino tradicional.

Há, portanto, uma séria contradição: afirma-se que os católicos não abandonam a fé, precisamente enquanto optam por atitudes que não tomariam, senão a partir deste pressuposto da negação do caráter absoluto da Verdade e, portanto, da própria substância da Fé. Pra ficar mais claro: o bispo diz que se mantém a fé (seja lá o que for) na mesma altura em que se abandona a fé (Verdade imutável).

Alguém poderia encantar-se, talvez, pela afirmação de que, na descrição do senhor bispo, os protestantes se mantêm longe. A coisa, porém, deve-se mais à facilidade de ver a enorme distância entre o ideal realmente evangélico (do Evangelho) e o discurso socialista. Tenham certeza de que eles também não se aproximariam de um grupo de ateus radicais.

Já a afirmação de que os católicos não saem da Igreja, é também de fácil compreensão. O erro só aparece como tal na sua relação com a verdade. Uma vez, portanto, que esta não seja bem conhecida, o erro é engolido com maior facilidade. Além disto, as CEBs ou a TL como um todo têm, no seu discurso, um forte elemento atrativo que é, essencialmente, cristão. Sob aparências de cuidado caritativo, estas ideologias movem as forças e motivam os espíritos desavisados que, inocentemente, se unem às fileiras dos militantes supostamente devotos. Creio que isto explica, ao menos em parte, algo do fenômeno, à primeira vista misterioso, de certa assiduidade dos católicos em tais movimentos.

O texto a que me remeto tem ainda uma série de outros comentários interessantes tecidos pelos senhores bispos que participaram desta 48ª Assembléia. Há um só, dos lá citados, que destaca a “dimensão orante”, e de forma bem breve. Poupou-nos os olhos não descendo em pormenores, como as violências e mutilações litúrgicas, o pouco ou nenhum zelo que parece esconder a descrença; os subjetivismos e invenções.

Enfim, muito me preocupa esta aprovação geral das CEBs. A tensão que isto naturalmente provoca com relação ao ensino tradicional parece voluntariamente ignorada. Dir-se-ia, talvez, que a coisa aparenta quase um desafio e uma afirmação clara de que o rigor doutrinário e teológico é fato ultrapassado e, portanto, desnecessário. Flexibilizadas as bases, já não há absoluto.

É muito impressionante como isso tudo ganha forma à luz das aparições de Nossa Senhora, particularmente a de La Salette. Que a Virgem, Mãe da Igreja, nos defenda da secularização, da heresia disfarçada, da apostasia camuflada, do liberalismo, do modernismo; em suma, do abandono do sagrado.

Que o Verbo divino nos ilumine, ilumine a Sua Igreja e a purifique de todo erro.
Abençoe os senhores bispos, vença os inimigos da Santa Igreja.
Dê-nos padres santos e preserve os cristãos na verdadeira Fé, sem mesclas de erro.

***

Ah.... E quem acha que a relação CEBs e TL é arbitrária, dê uma olhada em quem estava no 12º Intereclesial das Cebs:

Sim, sim.. Leonardo Boff, o Papa infalível dos TLs. Pois é...

Fábio.
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2 comentários:

  1. O TERMO "FÉ E VIDA" ESTÁ RELACIONADO A PRÓPRIO MINISTÉRIO PASTORAL DE CRISTO, POIS O PROPRIO VIVEU COM INTENSIDADE ESSA FORMA DE SER IGREJA HOJE, COMO; LUPAR POR MELHORIAS NA SOCIEDADE, DENUNCIAR AS INJUSTIÇAS, LUTAR PELO BEM COMUM........TUDO ISSO PAULO NOS DIZ: MOSTRA TUA FÉ PELAS TUAS OBRAS. ISSO É SER IGREJA MISSIONÁRIA, SAMARITANA, ACOLHEDORA, ENFIM SER IGREJA DE CRISTO NO SÉC. XXI SER TESTEMUNHO DE CRISTO NA SOCIEDADE, SER CEB's É ISSO! SOU JOVEM, SOU CRISTÃO MAS SOU CEBISTA

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  2. Cara Anônima,

    Vc provavelmente deve ser de Alagoas, já que esta expressão "Igreja Semaritana" é bastante usada pelo nosso bispo Dom Antônio Muniz. Vamos lá:

    "Fé e Vida" obviamente fazem parte de todo o catolicismo real, desde o seu surgimento até hoje, e isto não significa nada além da veracidade da Fé Cristã que deve abranger toda a vida humana e se expressar em toda ela. Pois bem. Porém, esse "chavão" foi incorporado pelos movimentos ligados à Teologia da Libertação para indicar uma Fé ideologicamente comprometida, isto é, uma Fé que é instrumentalizada pelos ideais de esquerda. Esses ideais são de cunho materialista e, portanto, somente podem conceber a expressão da Fé nas lutas sindicais, nas revoluções, nas passeatas, etc. Todas essas mobilizações vêm ancoradas no pressuposto equivocado da luta de classes.

    Porém, ainda que se costume usar uma terminologia cristã pra falar dessas realidades, elas não são católicas. Basta dizer que a Teologia da Libertação já foi condenada várias vezes pela Igreja. Lembremos também que, ainda que o ser humano seja composto de Corpo, mais excelente é a sua alma, motivo pelo qual Nosso Senhor mandou juntar tesouros no Céu, além de dizer que o Seu Reino não é deste mundo.

    Não pense que Jesus incorporou a luta de classes e combateu os poderosos políticos do seu tempo. Ele não tinha isso em mente. Sua intenção era converter os corações e testemunhar o Seu Reino a fim de que pudéssemos fazer parte dele, desde já, por meio da Santa Igreja. A tua compreensão do Evangelho, cara anônima, parece estar bastante torcida e reduzida. Mas é natural: vc também foi ludibriada por essa turma.

    Então, reforçando: a dimensão material é importante. Ninguém está a dizer que não. A Igreja sempre se preocupou com ela e dispõe de uma "Doutrina Social" que difere muito da cartilha marxista e seus pressupostos equivocados. Sugiro que você leia a Rerum Novarum, a Quadragesimo Anno, a Divini Redemptoris.

    Porém, a dimensão espiritual é mais excelente. O homem deve ser promovido na sua integridade, mas isto também exige que seja entendida a reta hierarquia entre corpo e alma, sendo esta última mais importante. Quando apresentavam um doente a Nosso Senhor, a primeira coisa que ele dizia era: "teus pecados estão perdoados", a sua primeira atenção era à alma. Aprendamos, pois. E a vida da alma está em conhecer, amar e servir a Deus.

    Pax.

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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