Contra a fixidez do dogma, se levantam os ditos "evolucionistas doutrinários". Mas o fazem sempre motivados por um outro dogma que é justamente a defesa deste evolucionismo ou transformismo otimista aplicado aos princípios da religião.
Acontece que a mutabilidade de algo supõe a sua imperfeição, e a evolução geralmente traz a idéia de aperfeiçoamento. Aquilo, pois, que foi aperfeiçoado não era perfeito antes e, mantendo a perfectibilidade ou potência à perfeição, permanece imperfeito.
Sendo que algo é imperfeito, não pode arvorar-se o posto de absoluto, pois, se o fizesse, cairia numa tola pretensão. Daí que, se o dogma católico evolui, supõe-se que seja imperfeito e, sendo-o, não pode absolutizar-se, devendo permanecer aberto à discussão e à crítica. Chamar-se-ia, portanto, as verdades de fé pelo nome de dogma apenas a título de convenção, e não segundo o real significado do termo que sugere algo definido e, pela sua perfeição, imutável.
Temos então que afirmar a evolução do dogma é negar o absoluto do mesmo e, portanto, pôr em desconfiança a fala da Igreja, o seu Magistério, a sua doutrina. Cai-se daí num relativismo, onde as vertentes distintas, todas fragmentárias, representariam o esforço humano em busca do sagrado. Não há, portanto, revelação, mas apenas, para usar o termo do Santo Padre, "um grito no escuro".
Isto se se conserva ainda que Deus seja imutável. Se tal verdade se resguarda, o discurso do dogma evolucionista diria respeito somente à adequação dos conceitos à imutabilidade divina. Se, porém, se atribui à divindade igual potência evolutiva, termina-se por negar a própria divindade de Deus e, portanto, a sua perfeição e cai-se numa infinidade de contradições.
Podemos observar as consequências práticas deste evolucionismo doutrinário anticatólico, que supõe sempre a desconfiança no ensino dogmático da Igreja, nas tão constantes desobediências às normas litúrgicas, no solene desprezo dos documentos antigos, ainda que dogmáticos, nas conversas ordinárias que põem em livre e vulgar discussão temas tão sérios como o do celibato sacerdotal, a obediência ao Santo Padre, o uso de anticoncepcionais, etc. Tudo isto é como que um olhar desconfiado sobre a Igreja... Mas, se o erro somente é considerado como tal quando comparado à verdade, esta desconfiança da Igreja somente se assenta quando se lhe compara com alguma outra coisa à qual atribui-se a posse da verdade. "Maldito o homem que confia em outro homem", já dizia sabiamente a escritura. Duvidam de Deus para crer em Darwin, em Marx, em Freud, em Leonardo Boff (que talvez se sentiria honrado por ser posto com estes outros sofistas), nos livrinhos de estória do ensino médio, nas estísticas do Super Pop, nas discussões do Big Brother, nos "argumentos" do Dan Brown ou do Dawkins.
Sabiamente recordava o Everth as palavras de S. Paulo: "Se apartarão da verdade e se atirarão às fábulas"... Dirão que o dogma evolui, ou até, que Deus evolui...
Os que aderem a esta mentira já não podem defender firmemente o que quer que seja, pois se é verdade que tudo evolui e, portanto, muda, não há razão pela qual se deva creditar ao evolucionismo doutrinário nenhuma crença durável. Se o evolucionismo existisse, seria uma lei e, portanto, pretenderia-se imutável, caindo em contradição. Então, para serem minimamente coerentes, os defensores disto deveriam supor que tal lei estaria, também, sujeita à evolução, resultando, ou numa involução (e então a involução seria um estágio evoluído da evolução.. rs..) ou chegando à fixidez. Mas, neste estágio, a verdade se tornaria fixa e imutável.
Eis, então, que a única posição coerente é aderir a um absoluto. Se o absoluto é a Verdade revelada, então temos a objetividade e absolutização do dogma. Se o absoluto é a lei da evolução, aplicada também à doutrina, cai-se numa contradição que consiste em defender-se que a única coisa que não estaria sujeita a esta lei seria a própria lei. Não há, porém, como justificá-lo.
Aderem ao evolucionismo doutrinário não apenas os que o defendem filosoficamente, mas todos os que argumentam que a Igreja precisaria adequar sua doutrina e sua moral aos costumes do mundo moderno. Fala-se, na prática, de uma conversão, não do mundo ao catolicismo, mas do catolicismo ao mundo. Tal empresa, obviamente, é ridícula.
Não nos enganemos, meus caros. Não acreditemos que a natureza da Igreja tenha mudado, que a Sua doutrina seja imperfeita, ou que Deus evolua, como me dizia certa vez um professor adepto da filosofia de Chardin. Não caiamos nestas absurdidades. Qua a luz benfazeja do Logos nos ilumine e nos livre da burrice destes evolucionismos doutrinários.
Pela imutabilidade do dogma católico!
Fábio.
Fábio,
ResponderExcluirHá este texto aqui que não consegui bem compreendê-lo.
http://www.padrehenrique.com/index.php/henri-de-lubac/888-o-sadio-desenvolvimento-do-dogma
É o sobre o desenvolvimento do dogma.
Pois,reflito: A Verdade se desenvolve ou se aplica em situações que se desenvolvem?
Magna
ResponderExcluirConsidere o seguinte: No processo de conhecimento, há o sujeito que conhece e há o objeto do conhecimento, ou conhecido. O conhecimento correto seria a adequação do primeiro ao segundo.
A verdade, portanto, enquanto objeto a ser conhecido é imutável. O progresso ou desenvolvimento (que é diferente de evolução) se dá com relação à gradativa proximidade que fazemos rumo à verdade. Neste sentido, aprendemos de forma absoluta a verdade de que a alma é imortal. Porém, pelo estudo, oração e vivência da fé, podemos compreender melhor esta verdade. Neste caso, não é a verdade que muda ou se aperfeiçoa, mas o nosso conhecimento a respeito dela.
É o que o Pe. subscreve no texto de Lubac (escritor muito questionado por vários tradicionais...) No texto se diz:
"Não muda em nada a substância da fé. Nunca se lhe acrescenta nada. Não se introduz nenhuma novidade." Isto é o princípio de identidade aplicado à doutrina: a doutrina é o que é e não pode vir a ser outra coisa. Por aí, já se tem a negação do evolucionismo, que defende, pela relação dialética, a mudança substancial do ser.
E aí ele especifica:
"O que faz é impedir, por meio de uma série de esclarecimentos e exatidões sucessivas, que a doutrina diminua ou pereça."
Note as expressões "série de esclarecimentos" e "exatidões sucessivas". Em ambos os casos, não é a verdade que se move, mas o sujeito que a conhece que, pelos esclarecimentos e exatidões, dela se aproxima.
NEste sentido, os hereges, no percurso da história, fizeram um bem indireto à Igreja que, refutando os seus erros, isto é, afirmando o que a doutrina não é, contribuía para o seu esclarecimento.
"Este progresso faz que, em virtude da própria vida que mantém, impeça que a doutrina se esgote."
ResponderExcluirO progresso, repito, é do conhecimento do sujeito e isto é sempre possível, pois a Verdade é inesgotável e sempre há que tirar dela coisas antigas, mas ao mesmo tempo, novas. S. João da Cruz escreve algo semelhante. Diz ele que o cristão não deve buscar novidades (substanciais), pois no Cristo, tal qual nos foi dado, há sempre mais do que ansiamos, isto é, há sempre algum tipo de "novidade"(acidental). MAs esta novidade sempre esteve lá. O homem é que vem a conhecê-la gradativamente, sem nunca esgotá-la.
Uma das severas críticas que já ouvi contra o Thomas Merton, escritor trapista que se interessou demasiado pelos budistas e hindus a ponto de escrever muito a respeito e aparentemente cair numa espécie de sincretismo, é que ele teria deixado de escrever sobre Cristo, sendo que Cristo é inesgotável.
O progresso, então, representa a aproximação do homem em relação à verdade.
"Não se deve confundir, portanto, este progresso com uma revelação progressiva."
Não se confunda o progresso com a evolução, nem com uma revelação gradativa, pois, conforme nos diz S. Paulo, nestes tempos Deus nos revelou tudo por Seu Filho. Não há mais o que revelar. Basta agora que compreendamos bem o que foi revelado, e isto é um processo.
Por fim, o Pe. Henry de Lubac escreve:
"Porém tenha-se em conta que ninguém pode opor-se ou ignorar sistematicamente este progresso sem corromper precisamente aquilo mesmo que pretendia conservar."
Creio que o padre quis se referir a alguma espécie de comodismo ou de falsa intocabilidade pelo que já foi dado. Enquanto que mudar substancialmente a doutrina seria um "pecado por excesso", ignorar este processo de aproximação seria um "pecado por falta", quase um desdém. Uma vez que somos naturalmente inclinados à verdade, há que dedicar-se a isto. Isto supõe a perfectibilidade do nosso conhecimento em relação à Verdade e, no caso do dogma, em relação à Verdade divina que é inesgotável. O fato de termos, de antemão, uma clara definição do tipo "Deus é imutável" já nos livra de uma série de equívocos. Já temos, então, um norte pelo qual não caímos em heresia. Mas a nossa compreensão disto pode progredir. Porém, não devemos cair na pretensão de querer racionalizar a Fé que sempre nos transcende.
Bem... creio que foi isso que o padre quis dizer. Espero ter ficado claro. Se não, pergunte de novo. =D
Abraço. Pax.
Fábio.
Sobre a sua pergunta:
ResponderExcluir"A Verdade se desenvolve ou se aplica em situações que se desenvolvem?"
A verdade é sempre a mesma. A justiça, por exemplo, é um dever e a sua natureza não muda. Porém, a sua aplicabilidade, conforme se adeque aos múltiplos eventos da vida, pode ter uma série de variações, sem, porém, que a natureza da justiça mude em nada.
Pax.
Grata Fábio, agora compreendir melhor.
ResponderExcluirUm abraço!