Desde o Renascimento até ao século XIX, os modernos tiveram um amor quase monstruoso aos antigos. Ao considerarem a vida medieval, não podiam considerar os cristãos senão como discípulos dos pagãos: de Platão, nas idéias; de Aristóteles, na razão e na ciência. Não era assim. Em certos aspectos, até do ângulo mais monotonamente moderno, o catolicismo estava muitos séculos adiantado tanto ao platonismo como ao aristotelismo.
Podemos observá-lo ainda, por exemplo, na impertinente tenacidade da Astrologia. Neste assunto, os filósofos estavam todos do lado da superstição, enquanto oso santos e todas as pessoas semelhantemente supersticiosas eram contra a superstição. Mas até os grandes santos tiveram dificuldade em se desvencilhar dela. Sempre fizeram duas objeções os que suspeitavam do aristotelismo de Tomás de Aquino; consideradas em conjunto, parecem-nos hoje muitíssimo estranhas e cômicas. Uma era a opinião de que as estrelas são seres pessoais que nos governam a vida; a outra, a grande teoria genérica de que os homens têm uma inteligência coletiva, opinião evidentemente oposta à individualidade do espírito humano imortal. Ora, ambas essas teorias têm curso entre os modernos, tão forte é ainda a tirania dos antigos. A astrologia espalha-se pelos jornais de domingo, e a outra doutrina revestiu a sua centésima forma naquilo a que se chama comunismo, ou espírito da colmeia.
G. K. Chesterton, Santo Tomás de Aquino
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