Relendo, ontem, um texto do prof. Drago Romano, entitulado "A Gnose e a morte de Deus", disponibilizado pelo site Permanência, encontrei a transcrição da fala de um pastor protestante, de nome Harvey Cox que, adotando uma leitura hegeliana da religião, escreveu certas coisas que representam bem o pano de fundo ideológico de muito do que vemos, hoje, entre os "católicos de esquerda". Reproduzo abaixo as linhas do Ph.D em História e Filosofia da Religião, de Harvard, com breves complementações do prof. Drago entre colchetes.
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"A noção de outro mundo (otherworldiness) conta a existência de um outro mundo mais elevado, mais santo ou mais sagrado do que o mundo secular em que vivemos. Esta suposição tem muito pouco em comum com a fé hebraica, excetuando algumas passagens apocalípticas. As escrituras dos judeus ensinam que este mundo é o único criado por Deus, que o ama e o conduz ao aperfeiçoamento. A idéia de dois mundos, sendo um secular com inferior "status", tem raízes não em fontes bíblicas, mas principalmente na Pérsia e nas filosofias helênicas que formaram a atmosfera cultural da bacia do Mediterrâneo nos primeiros séculos de vida da Igreja. (...) Nosso emergente consenso ecumênico da fé é que este mundo é o mundo que Deus está renovando e redimindo, que nossa história é a história na qual Deus age, e que o triunfo final de Deus previsto pela Bíblia será a realização daplenitude deste mundo e não do outro".
(...) O triunfalismo foi posto de lado. Agora os cristãos vêem-se mais e mais como "Povo de Deus", chamados para servir este mundo e não como uma privilegiada colônia destinada à salvação no outro mundo. (...) Secularizaçaõ (...) pretendo que signifique: perda de interesse por outros mundos, com a resultante intensificação de interesse por este mundo, e a nova emergente função da Igreja, mais como minoria e serva [deste mundo, é claro] do que maioria e senhora. (...) Uma nova teologia para uma sociedade secularizada só se produzirá quando a Igreja aceitar a eliminação de seu "status" temporal e livrar-se de todo o saudosismo de um róseo passado.
Secularização significa que o mundo onde se processa a história humana agora fornece o horizonte no qual o homem compreende sua vida.
Nossa tarefa não é nem de perpetuar essa síntese [quer ele dizer a aliança entre a revelação e a filosofia grega] nem de dispensá-la. Preferível é forjar uma nova expressão de fé bíblica dentro das categorias culturais de hoje.
Se Deus ainda é vivo e ativo, o lógico é procurar discernir sua atividade na nossa história atual (...) Uma Igreja que não se identifica com o mundo, com a mesma intensa solidariedade que Deus tem por ele, trai sua missão (...) nossas várias doutrinas herdadas surgiram do esforço da Igreja para falar em diferentes idades do mundo (...) Podemos ver que o significado de qualquer trecho de doutrina não é fixado nem fechado. (...) Se Deus age no mundo dos eventos seculares e se a responsabilidade do seu povo é discernir sua ação, isto requer uma teologia secular.
Os cristãos podem reunir-se para se consultarem uns aos outros acerca do que agora está fazendo Deus no mundo secular, participando, assim, alegremente na missão secular de Deus.
Nossa tarefa de teólogos não é podar ou preservar a fé, mas interpretá-la e reinterpretá-la para sucessivas épocas do homem.
Uma interpretação secular do Evangelho deve ser ética (...) e em nosso mundo isto significa que deva ser política."
Helio Drago Romano, A Gnose e a Morte de Deus.
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