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A tragédia do comunismo - Pe. Leonel Franca


Depois de ter presenciado algo do “Grito dos Excluídos”, evento que sempre nos prova a infinita paciência divina, creio ser conveniente transcrever algo a respeito do pano de fundo que motiva estas manifestações sociais supostamente católicas. Abaixo, um texto muito esclarecedor do grande Pe. Leonel Franca, uma verdadeira sumidade na Filosofia do nosso país e grande defensor da Fé Católica.

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Da sistematização marxista não há só uma peça que tenha resistido vitoriosamente à análise científica. As suas principais doutrinas – postulados filosóficos e teorias econômico-sociais – estão hoje cientificamente superadas. Não suportaram o exame da crítica e o confronto dos fatos. Sobrevivem, porém, popularmente, com uma força de expansão formidanda. O partido comunista que se encarna, por uma conjunção acidental de circunstâncias favoráveis, empolgou o poder na grande e misteriosa e enigmática Rússia. Mobilizou os seus inesgotáveis recursos econômicos, galvanizou o messianismo secular do seu povo e pôs este imenso poder a serviço da mais hábil, mais tenaz e mais tecnicamente organizada das propagandas imperialistas. Destarte, o que há 30 anos, como doutrina era um sistema historicamente classificado, como força política era uma inexistência ou uma insignificância, assumiu, em nossos dias, o vulto da maior ameaça à civilização humana.
 
O comunismo, de fato, não é apenas um sistema econômico, é uma filosofia integral da vida. Não aspira apenas a reformas da estrutura social, baseadas numa redistribuição mais eqüitativa dos bens materiais, reclama o monopólio incontrastável das almas. Pretende implantar a ditadura do proletariado e a ditadura das consciências. Uma religião às avessas. Seu dogma: o materialismo histórico. Sua ética: nova hierarquia de valores aferidos pelo imperativo condicional da vitória do partido. Seu ideal messiânico que eletriza as massas numa grande esperança escatológica: conquista emancipadora da humanidade. Nunca um totalitarismo estadeou pretensões tão radicais.

Na propaganda deste programa, os postulados metafísicos, que já não se discutem, ficam em planos mais afastados da perspectiva. Concentrando as atenções imediatas, figuram a exploração hábil de ressentimentos históricos das classes sofredoras, as críticas contundentes das injustiças e desumanidades do capitalismo, a pintura risonha da sociedade futura, colorida com um otimismo ingênuo e sereno em contraste com o pessimismo azedo que projeta as suas negruras sobre todo o passado histórico do homem alienado e decaído. Assim se hipnotizam as massas. Assim se cria a mística do comunismo, e se mobilizam as energias religiosas da alma a serviço de uma ideologia atéia. Fé e esperança, dedicação e sacrifício, amor da justiça e da liberdade, todo este patrimônio de riquezas humanas, que só têm valor numa ordem ontológica de realidades espirituais, são exploradas para acelerar a implantação de uma nova concepção da vida que as declara ficções sem conteúdo e abstrações malfazejas.

Eis a grande tragédia do comunismo: a mobilização das melhores energias humanas para a construção de um porvir que será o maior desastre e a decepção total da humanidade.

Este mundo que a revolução marxista prepara para a felicidade do homem será um mundo sem Deus. Um mundo em que se verificará o que Chesterton chamou “anomalia suprema dos tempos anormais, a derradeira negação que, para além de todos os dogmas, fulmina a crença mais necessária à alma: a de que existe uma razão das coisas”. A inteligência já não poderá encontrar respostas às interrogações supremas sem as quais não lhe é possível viver. À vontade, com a negação do Infinito Bem, faltará a mola insubstituível do seu dinamismo metafísico. A consciência, reduzida a reflexo de condições sociais, perderá a sua dignidade de norma racional de ação. Os supremos valores da ordem ideal – a Verdade, o Amor e a Beleza – sem o único fundamento ontológico que lhes assegura realidade e vida, eclipsam-se numa noite sem esperanças. A morte impossível de Deus precipitaria a existência universal na negação eterna do nada. Não podemos prever o caos em que se desconjuntaria uma estrutura social em que fosse possível a extinção de Deus nas consciências humanas.

Ateísmo e materialismo são solidários no sistema de Marx. Este mundo que se pretende elevar sobre tantas ruínas será ainda o mais inumano dos mundos. O problema central em qualquer estruturação da sociedade, o problema da pessoa foi, pelo marxismo, não só preterido, nos aspectos que lhe são próprios, mas de todo em todo falseado na natureza dos seus dados fundamentais.

No homem não se viu senão a atividade econômica, característica de sua essência e plasma de sua sociabilidade. Os domínios mais nobres de sua vida individual e social – a cultura, o direito, a moral, a religião – foram anexados ao primado da economia. Onde convinha libertar o homem da hegemonia crescente e humilhante das forças de produção, consumou-se, como definitiva e ideal, a sua ditadura incontrastável. O homem já não deve dominar e disciplinar as relações econômicas para dirigi-las aos fins superiores da realização plena de sua personalidade, curva resignado o colo à tirania do seu jugo. A escravização ao econômico em vez de emancipação do econômico consuma a alienação irreparável e desumanizante.

Com esta inversão de valores desnatura-se e avilta-se a dignidade do trabalho. O esforço humano já não tem outra razão de ser senão aperfeiçoar a matéria e criar utilidades. O trabalho é isto, mas não é só isto. O que o constitui uma atividade especificamente humana, é, antes de tudo, ser uma obra viva interior das almas [que] sobrelevam em qualidade as riquezas materiais que multiplica. Trabalhando, o homem desenvolve harmoniosamente as suas mais nobres faculdades, colabora com a realização dos planos divinos da criação e procura transfigurar este mundo, de que foi constituído senhor, numa habitação em que possa desenvolver as suas energias e realizar a nobreza de seus destinos.

No horizonte das esperanças humanas o comunismo acena com felicidades sonhadas de um paraíso perdido. Mas são estreitos estes horizontes e falazes estas promessas. No indefinido em que se perde o olhar perscrutador do futuro, não se distingue senão riqueza e mais riqueza, conforto e mais conforto. Uma cúpula de chumbo, imensa e pesada, cinzenta e fria, não permite que se elevem as vistas acima dos bens materiais. O surto para o infinito, que constitui a essência mesma da personalidade, estará para sempre condenado a cair sobre si mesmo, no tantalismo de um desespero mortal. O homem transformar-se-á num animal de vista baixa: a terra estreitará para sempre o horizonte de suas perspectivas: o vôo de suas aspirações como o termo de suas atividades. Quando o trabalho se degrada à simples força criadora de valores econômicos, o homem, preso à matéria, verá alienado o melhor e mais nobre de sua natureza.

E esta alienação vai ainda mais longe. Quando se desconhece a dignidade do espírito, o homem já não tem um destino próprio, essência da personalidade. Decai à categoria de coisa ou do instrumento a serviço da sociedade. Na fórmula de Marx, o ser humano “na realidade, é o conjunto das relações sociais”. Os vínculos que, num dado momento histórico, o ligam ao meio, definem-lhe a natureza e esgotam-lhe a razão de ser. Já não há em cada homem uma vocação original que importa respeitar, uma fonte de direitos que não podem ser postergados, uma autonomia de atividades realizadoras de uma finalidade moral, indeclinável. Cerceiam-se assim, pela raiz, todas as liberdades humanas. O indivíduo é sacrificado à comunidade, o cidadão ao Estado, que lhe impõe o mais absoluto conformismo de idéias, de vontades e de sentimentos. Compreende-se que Marx ridiculariza: “o inevitável estado-maior das liberdades de 1848: liberdade pessoal, liberdade de imprensa, de palavra, de associação, de reunião, de ensino, de cultos, etc.” Compreende-se que seja imolada a geração presente à felicidade quimérica do futuro. O homem, totalmente alienado de sua excelência natural, não passa de joguete sem dignidade nas mãos dos que encarnam a falsidade de uma ideologia na tirania de uma ditadura.

A grande tarefa da hora presente é dissociar do marxismo a obra imensa da elevação das classes operárias à participação mais eqüitativa em todas as riquezas da cultura. Ele não é nem pode ser o agente das transformações sociais por que suspiramos.

A tentativa comunista, se realizada, comprometeria a civilização e mergulharia o homem, para sempre transviado dos seus destinos, na desgraça de uma catástrofe irreparável.

Não é possível combater a Deus sem ferir o homem de morte.

Ateísmo militante, humanismo inumano.

Pe. Leonel Franca, Ateísmo Militante.
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