Forçosa é a guerra à tirania das nossas paixões, em nossa peregrinação pela terra. É lei tanto de ordem e de subordinação laboriosa, como também de harmonia e de unidade, de liberdade e de paz.
As aparências austeras da obrigação ocultam, porém, sua encantadora e sublime beleza a uma mocidade que, loucamente pródiga de si, sacrifica ao prazer sua integridade moral, e que não hesita arruinar em outros o que ela não soube respeitar em si mesma.
Uma depravação mais consciente e mais requintada na malícia, acrescenta a calúnia à tentação: a lei da castidade é impossível. É, se quiserem, o patrimônio de seres fracos.
- Fraco -, o homem que nutre ambições celestiais; forte, o incapaz de uma coragem que o levanta acima do sensualismo animal?
- Fraco -, o que disputa às inteligências puras o prêmio da nobreza; forte, o que se avilta?
- Fraco -, o magnânimo que por amor de Deus e dos seus semelhantes de esquece de si; forte, o egoísta que só se preocupa de vis prazeres?
- Fraco -, o cavalheiro do direito; forte, o escravo de desejos desordenados?
- Fraco -, aqueles cujas energias vitais enriquecerão a sociedade dos homens; forte, o esgotado, o gasto pelo vício?
- Fraco -, o homem que sabe guardar os seus sagrados juramentos; forte, o cínico ou hipócrita que viola seus compromissos?
- Fraco -, o vitorioso; forte, o vencido?
E contudo, por toda a parte, encontra aplausos a absurda calúnia. Os preconceitos do mundo a embalam; médicos, em nome de uma suposta ciência, corroboram-na com seus maus conselhos; uma vasta e poderosa imprensa a difunde e patrocina; e um código de uma certa moral, em voga, formula para o homem, para a mulher, para o celibatário, para o esposo, para o nacional e para o estrangeiro, regras que são outros tantos desafios à honestidade.
Diante dessa insolência, a virtude, tímida e retraída, resigna-se por vezes a envergonhar-se e até mesmo a capitular!
É mister, pois, despertar a estima pela pureza.
É necessário excitar e estimular o brio em quem a possui.
Convém igualmente, já que a conservamos em fragilíssimo vaso, ensinar a arte de a defender e de preservá-la de choques fatais.
E como o homem é curável, e como um triunfo pode vingar cabalmente uma derrota, é necessário reanimar a coragem dos abatidos e hesitantes e incitar à desforra os irresolutos e humilhados.
Prefácio do livro A Grande Guerra, do Pe. J. Hoornaert, S.J.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.