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Amor próprio - virtude ou vício?


Um bobo alegre que, daqui a uns dias, poderá será chamado pra fazer palestras...

Ai daqueles que às trevas chamam luz e à luz chamam trevas....

Hoje em dia, é fácil notar como uma nova mística e uma teologia inventadas pregam solenemente a favor do amor próprio, como se este fosse virtude. E insistem em, a partir de simplórios exercícios imaginativos, fazer com que as pessoas se sintam belas, valorosas! O adágio "se eu não me amar, quem o fará?" parece ser o novo dogma deste século. E tudo isto pode soar muito naturalmente a um "católico" adepto desta nova forma de "espiritualidade".

No entanto, há todo um conjunto de vozes que, em uníssino, insistem em pregar justamente o contrário: "Destruam o amor próprio, e desprezem a si mesmos!" Ora, mas quem seriam estes inconvenientes, estas figuras estranhas a pregar tal coisa? Respondo: os santos, a começar por Nosso Senhor.

Eu sempre estranhei que nas pregações de hoje em dia, algumas passagens do Evangelho são escohidas repetidas vezes, enquanto outras não são sequer mencionadas.

Esta nova e falsa teologia, tentando inculcar a falsa ideia da salvação universal, sequer olha para o que diz Nosso Senhor aqui: "Muitos tentarão entrar e não conseguirão". Ora, se alguns que tentam não conseguem, quem dirá os que nem tentam...

Sobre esta questão do amor próprio, é muito claro o que diz Nosso Senhor: "Quem não odeia a própria vida neste mundo, perdê-la-á". Para a nova "mística", ao contrário, este seria um pecado sem perdão. É preciso amar a si mesmo porque, segundo dizem, é a partir deste amor que poderei amar os demais. Pura falácia!

Não preciso aqui pôr a citação de inúmeros santos que pregam totalmente contra o amor próprio e ensinam o desprezo de si mesmo; e nem poderia pôr todas as vezes em que trataram disto, a não ser que este blog fosse reservado a somente este trabalho... Basta, porém, citar alguns nomes: S. Francisco de Assis, Sta Teresa D'Avila, S. João da Cruz, Sta Catarina de Sena e, para não objetarem que esta atitude é característica de tempos medievais e supostamente obscuros, o nosso célebre S. Pio de Pietrelcina, falecido em 1968, expressava o ódio a si mesmo como termos vivíssimos.

E o que diriam os santos, estas vozes estranhas, a respeito do atualmente tão pregado amor-próprio? Os católicos de outrora reputariam este tipo de discurso como um horrível sofisma, uma verdadeira pérola do egoísmo. Mas, hoje, há católicos que até choram com coisas dessa natureza.

Claro que o tema não é simplório. O católico deve orientar-se muito bem neste assunto, absolutamente irrenunciável, a fim de não o compreender de maneira errada. Mas basta dizer que o apelo emocional em favor do amor próprio, os ingênuos exercícios imaginativos a respeito da própria beleza, nada mais fazem que afastar o cristão da retidão da virtude.

O reto desprezo de si mesmo se fundamenta num conhecimento correto de si mesmo. Este conhecimento gera humildade, que é uma verdadeira consideração acerca da própria pessoa. Portanto, para ser humilde é preciso ver-se tal qual se é. Este conhecimento de si mesmo não se faz pelo uso de imaginações mas, ao contrário, pelo abandono destas suposições a respeito de si mesmo e pela busca da Verdade de si em Deus.

Basta dizer que o inferno está cheio de pessoas cheias de amor próprio... Já dizia Thomas Merton que o inferno é isso: o amor próprio. Interessante que, mesmo Lutero, nas suas 95 teses, reconhece que a verdadeira penitência consiste no desprezo de si mesmo. E isto só mostra como os católicos modernistas alcançaram um nível de protestantismo que vai além da pretensão de Lutero na sua "revolução" protestante.

Basta notar o que se costuma ler hoje em dia. Abandonaram os tratados de teologia, não lêem S. João da Cruz, nem Sta Teresa, nem S. Agostinho, muito menos Sto Tomás. Desprezam o Adolph Tanquerey, ignoram o Pe. Garrigou Lagrange ou mesmo qualquer outro autor bom, ainda que seja contemporâneo. Ao contrário, estão ocupados lendo Augusto Cury, Pe. Fábio de Melo, A Cabana, quando não desbancam de vez para livros totalmente protestantes... O resultado? Católicos que não sabem sequer o "bê a bá", nem de teologia, nem de filosofia, nem de mística; em suma, nada da doutrina católica.

Não tomemos gato por lebre. Santidade não se contrói de qualquer forma, não é qualquer brincadeira, nem se trata de uma oportunidade para a auto-promoção, para se mostrar a própria excelência. Não digamos à luz: "és trevas!", nem digamos às trevas: "és luz". E mais, não desprezemos estas verdades.

Já dizia um santo que uma carruagem carregada de virtudes,  guiada pela soberba leva ao inferno, enquanto que uma carruagem carregada de pecados, conduzida pela humildade, leva ao Céu. E por favor, não distorçamos o significado de uma tal afirmação.

O mundo moderno, imerso no amor próprio, nada mais vê além do próprio umbigo. Por favor, não pensemos que a santidade é por aí... Que Deus nos livre de um erro tão básico.

A cruz! Eis o caminho da santidade! Quem se ama não a abraça; ao contrário, dela foge! Somente os que se desprezam a amam, a admiram e a desejam!

Stat Crux, Dum Volvitur Orbis!

Fábio
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15 comentários:

  1. mISERICÓRDIA! vC NÃO SABE O QUE FALA.TOTALMENTE IMBECIL E SEM FUNDAMENTO SEU COMENTÁRIO.vÁ PROCURAR ALGO PARA FAZER QUE ACRESCENTE,PARA DIVIDIR JÁ TEM TANTA GENTE.ÍCARO TO

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  2. Sr. Ícaro...
    Como se espera de alguém que defenda esta nova "teologia" e que, naturalmente, se aborreceria com o meu artigo, você apenas se reduz a alguém que ofende e nem sequer toca no que foi escrito..

    Então eu digo: deixe, você, de ser imbecil e argumente!

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  3. Olá

    A estima por nós próprios com o dom da humildade, sem esse amor próprio excessivo semelhante ao orgulho, torna-nos mais cristãos e verdadeiros adoradores, como o Pai quer.
    Insistes muito no amor próprio e eu acho que o mais importante é que Ele nos ama... e é com esse Amor tão grande que nós, pecadores, nos convertemos dia após dia... e nos tornamos mansos e humildes.

    Gabriel

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  4. Já agora, gostei muito da imagem da Nossa Senhora com o menino, no canto direito da página.

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  5. Caro Gabriel, primeiramente é um prazer tê-lo por aqui. Deus o abençoe.

    2º- Segues mais uma vez um princípio frágil: "Eu acho". Em termos de santidade, "achar" é perigoso, pois o caminho é estreito e não há atalhos.

    É por isto que faço questão de não ter opinião. O que aqui escrevo, nada mais é do que a posição da Igreja, na sua espiritualidade correta, a posição dos seus santos e doutores.

    Sem dúvida, Deus nos ama... Mas isto exige uma resposta de nossa parte, do contrário todos os homens se converteriam. Na via de santidade, é preciso ter duas coisas:
    O conhecimento de si mesmo e o conhecimento de Deus.

    Estes dois são absolutamente irrenunciáveis.
    Deus Pai pede a Sta Catarina de Sena que jamais abandone a cela do auto-conhecimento, pois o conhecimento de si mesmo gera humildade, pela constatação da pequenez e miséria do homem. Esse duplo conhecimento é expresso também em S. Francisco de Assis quando ele pergunta a Deus: "Quem és Tu e quem sou eu?"

    O primeiro conhecimento, o de si mesmo, gera desprezo de si. Podes ver isto em qualquer santo.

    O segundo conhecimento, o de Deus, gera amor perfeito a Deus.

    O ódio a si mesmo, recomendado até por Nosso Senhor, é um fruto do auto-conhecimento verdadeiro, o que ficou conhecido por "maiêutica cristã" em alusão ao "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates.

    A estima por si mesmo que recomendas que o homem tenha é claramente atacada pelos padres do deserto, que recomendam destruí-la.

    Depois, o próprio Cristo, aos seus santos, tem se revelado sempre com termos referentes ao desprezo de si, à destruição do amor próprio e uma tal característica está presente em todos os santos.

    E isto não é o que eu acho...

    A humildade, fruto do conhecimento de si mesmo, abre o homem para o trato de intimidade com Deus. Isto porque, desde a Queda, os homens têm aquela mesma soberba de Adão de querer ser como Deus sem Deus. A soberba (Superbia) faz que o homem veja brilhos falsos em si próprio, que o tentam convencer de sua própria excelência. Este brilho é enganador e o homem que se deixa ludibriar por ele, que não é mais que o amor próprio, opõe-se a Deus. Portanto, um homem soberbo, ainda que reze, o faz segundo a própria satisfação. E é muito interessante que a Bíblia diz que, de todos os pecadores, Deus só resiste aos soberbos.

    É preciso, então, ser humilde... Mas humildade não é qualquer coisa, não é uma sensação que se sente. Ela é um dado objetivo. Sta Teresa D'Avila disse que a humildade é a verdade. Ora, a verdade é objeto do conhecimento. Portanto, só é humilde quem verdadeiramente conhece a si mesmo.

    Deus o abençoe.. E Nossa Senhora o conduza...
    Pax et Bonum..

    Ps.: Sobre a Imagem de Nossa Senhora, realmente é muito bela... E como deve ser belíssima a Virgem real...

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  6. Fábio, acredito que exista uma forma positiva e outra negativa de se amar, pois se de um lado Cristo diz que quem não odeia a sua vida neste mundo irá perdê-la; de outro lado diz que devemos amar aos outros como a nós mesmo. POis, se devemos nos odiar e nos dezprezar, não o devemos fazer aos outros não é?

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  7. Sr anônimo (que sei quem é. rs...)

    Como eu escrevi no próprio artigo, o assunto é complexo e importa não compreendê-lo erradamente. Sua pergunta é muito importante, pq permite esclarecer um outro ponto.

    Uma objeção interessante que alguém poderia fazer a este contexto do ódio a si mesmo, seria: "mas a própria intenção de salvação da própria alma não é, em si, uma atitude de amor a si mesmo?". Aqui, convém esclarecer que o sentido do termo amor, neste ponto, é diverso. "Amor próprio" é um termo ambíguo, mas, como convencionalmente é usado pela Igreja num determinado sentido, é neste também que o uso.

    Vamos lá.
    S. Paulo escreve algo muito esclarecedor: "as obras da carne são opostas às do espírito". Quais as implicâncias disto?
    Paulo afirma que há uma tensão no homem. Veja: não se trata de afirmar que a matéria é má e o espírito é bom; isto seria gnose, um erro grave. Ambas, matéria e espírito, são bons e têm o mesmo Criador. Porém, um deles, o espírito, é mais excelente que o outro, a matéria. Há, portanto, uma hierarquia onde a matéria se submete ao espírito. Esta hierarquia confere ordem ao homem e a ordem permite a harmonia, a beleza e a bondade, que espelham a perfeição de Deus. Pôr um bem menor acima de um bem maior é uma inversão da correta ordem das coisas e isto se chama Injustiça. O homem justo é o homem ordenado, e o homem ordenado é o homem santo, como bem escreve Sta Edith Stein.

    Compreendendo isto, avancemos.
    A partir da Queda, isto é, o pecado de Adão, a afetividade humana foi desordenada, deixando de submeter-se às instâncias superiores da natureza humana, e reclamando uma certa primazia. Estabeleceu-se, então, esta tensão afirmada por S. Paulo.

    E aqui entra o nosso discurso. Há um amor legítimo à própria pessoa, mas é um amor que se concentra na alma e que é fruto do amor a Deus. Este amor faz com que o homem se submeta totalmente a Deus. Nesta submissão e conhecimento de Deus, ele percebe a miséria em que se encontra e torna-se repugnante a si mesmo. Vê-se pequeno. Objetiva salvar a alma, sobretudo porque esta é a vontade de Deus e porque reconhece em Deus o Sumo Bem ao qual naturalmente deseja. Ao mesmo tempo, percebe o próprio egoísmo, a própria vaidade, e isto faz com que se odeie e se despreze, não correspondendo, mas antes atacando, ao próprio orgulho.

    Este é o sentido do jejum, das penitências, dos sacrifícios... Note que estas coisas aborrecem a afetividade.
    Se, como dizia Sta Teresa D'Avila, a humildade é a verdade, então é preciso considerar duas coisas: de um lado, a miséria do homem decaído; de outro, o grande valor da alma.

    Pela primeira consideração, o santo se despreza e, pela segunda, ele deseja salvar a alma, pelo que se pode dizer que ama a própria alma, mas segundo Deus, e não segundo uma forma egoísta. Ele percebe que foi feito para estar com Deus, percebe que esta é a vontade de Deus e e anseia por isto pois sabe também que nisto consiste a sua realização.
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  8. Indo especificamente à sua pergunta. Primeiramente notas que, se considerarmos estas duas passagens que trazes segundo o mesmo aspecto, poríamos o Cristo em contradição, pois de um lado Ele ordenaria que o homem se odiasse e, de outro, que ele se amasse. Obviamente que NOsso Senhor trata aqui de sentidos diferentes...

    No discurso sobre o ódio a si mesmo, o centro da questão é justamente o que se capta imediatamente (o ódio a si mesmo). No que se refere ao amar ao próximo como a si mesmo, o foco é o próximo. Se Cristo diz: "ama a teu próximo como a ti mesmo" não é para incentivar que o homem ame a si mesmo, mas para fazer notar que o homem deve transcender o próprio egoísmo, deve desprezar este egoísmo de tal forma que não deseje um trato particular e diferenciado para si mesmo.

    Tomemos o exemplo de S. Francisco de Assis. Era um santo muito penitente e que viveu rigorosamente o desprezo de si mesmo, a ponto de abençoar quem lhe jogava pedras (quem jogava mais era mais abençoado...) e agradecer aos demônios que maltratavam o seu corpo. S. Francisco comia muito pouco e, deste pouco, era frequente que misturasse sua comida com cinza...

    S. Francisco amava ternamente os seus amigos e discípulos, a ponto de ter escrito: "que cada um ame o outro como uma mãe ama o seu filho..." Porém, o próprio Francisco não permitia que estas penitências que fazia fossem acompanhadas pelos irmãos. E aqui está a correta aplicação do preceito evangélico. Amar ao próximo como a si mesmo, apenas visa pôr a atenção no ato de amar o outro, transcendendo o egoísmo natural do homem de querer ser tratado com particularidade. É mais uma vitória sobre o amor próprio do que um incentivo a ele.

    Não sei se ficou claro... Mas o tema é complexo mesmo. Meu simples artigo não pretendeu encerrar a questão.. E, mesmo depois de tantos comentários, ainda há muito por dizer e creio que mais ficará por dizer do que já foi dito, pois é esta uma das questões centrais da espiritualidade correta.

    Pax et Bonum...

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  9. Alguém de muito maior preparo que eu e que trata do tema de forma muito melhor:

    Leia este texto do Pe. Garrigou Lagrange, entitulado: "O amor próprio ou o maior impedimento da vida de Cristo em nós"

    http://www.permanencia.org.br/revista/teologia/garrigou25.htm

    Boa leitura.

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  10. Fábio,

    Vou transcrever excertos de uma obra sobre crescimento espiritual:

    "A auto-negação evoca em nossa mente todo o tipo de imagens de rebaixamento e de auto-aversão".



    "Ao contrário, Jesus convida-nos à auto-negação sem a auto-aversão. A auto-negação é simplesmente um meio de chegarmos à compreensão de que não precisamos trilhar um caminho próprio. Nossa felicidade não depende de conseguirmos o que queremos."



    "Auto-negação não singifica perder a identidade. Sem indentidade, nem mesmo poderíamos nos sujeitar uns aos outros."
    "(Os Apóstolos e Jesus) Eles encontraram a PRÓPRIA IDENTIDADE no ACTO DE NEGAR A SI MESMOS."

    "Auto-negação não é o mesmo que desprezo por si mesmo. Este indica que não temos nenhum valor e que, ainda que tivéssemos, deveríamos rejeitá-lo. A auto-negação declara que temos valor infinito e mostra-nos como perceber isso."
    "Jesus fez da capacidade de amar a nós mesmos o pré-requisito para demonstrar cuidado com o semelhante (Mateus 22.39)"

    "O amor próprio e a auto-negação não entram em conflito."
    "Jesus deixou claro que a auto-negação é a única forma segura de amarmos a nós mesmos. «Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará.»"

    "Significa manter o interesse do semelhante acima dos nossos. Assim, a auto-negação liberta-nos da auto-piedade."

    "O caminho para a auto-realização passa pela auto-negação."

    "Auto-negação é libertação".

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  11. Fábio,

    Só queria esclarecer-te melhor... porque auto-negação é um conceito muito sui generis! Mais do que nós supomos!
    Pensamos que a auto-negação, o ódio a si mesmo, o desprezo associados ao amor-próprio são para serem levados tão a sério e de uma forma tão violenta.
    Lembro-me de uma frase do irmão Roger que cativou-me desde o principio: "Deus não atormenta a consciência humana"...
    Partindo deste principio, como pode então o Filho de Deus querer dos seus discipulos um amor tão desordenado a si mesmo como o desprezo deles próprios?
    Desprezando a ti mesmo não amas o teu próximo, nem Jesus Cristo te chamaria porque Ele quer que tu sejas quem tu és e sem ódios. Amando-te a ti mesmo, sem seres desordenado, e amando a Deus e ao próximo consegues ser humilde.
    Contempla os santos que amavam-se a si mesmos para amarem melhor a Deus e ao próximo, pois sabem que uma auto-negação feita com desprezo não condiz com o Mandamento do amor e com a Cruz da libertação.
    Na minha experiência e de pessoas ligadas à Igreja nunca nos desprezamos porque sabemos do amor que Jesus Cristo tem por nós. Sabendo isto nunca na minha vida carregaria esse fardo: o ódio por si mesmo nunca poder dar humildade.
    É uma questão de bom-senso.

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  12. Caro Anônimo,

    Primeiramente, quero agradecer a transcrição dos excertos e desejar que Deus o abençoe e Nossa Senhora o conduza.

    Vamos lá...
    - Gostaria que me colocasses o nome do autor que usaste e da obra.

    - Como eu tinha já escrito, o tema é complexo e pode suscitar mal entendidos.
    A princípio, quero dizer que alguns equívocos aqui se dão por mera questão de semântica. Quando eu uso o termo "amor próprio" e "desprezo a si mesmo" num sentido (e busquei ser fiel à terminologia mais comum nos santos), o autor que citaste os toma em outro. Mas para ficar melhor, pegarei alguns pontos da sua transcrição e tecerei alguns comentários. Por fim, comentarei o último post, que é algo de sua autoria....

    "A auto-negação evoca em nossa mente todo o tipo de imagens de rebaixamento e de auto-aversão."

    Vejo que o autor que usaste gosta muito desta expressão "auto-negação". Um leitor mal intencionado ou mal informado poderia distorcer-lhe o sentido. Por isso, temos de ter cuidado com os termos equívocos.
    Mas tratando da frase, note que, já no texto, eu identifico, à luz de Sta Teresa, a humildade com a verdade, e dispenso às latrinas todo exercício imaginativo ou de auto-sugestão. A humildade não é brincadeira e é preciso buscá-la como conhecimento objetivo sobre si mesmo.

    Mas se queres, tomo, por exemplo, a preparação para a consagração de S. Luís Maria Grignion de Montfort à escravidão de amor à Virgem SAntíssima. Recomenda ele, na fase de aprofundamento do conhecimento de si mesmo, que o orante, ao lado de suas petições a Deus para que lhe esclareça a respeito de si mesmo, considere-se como uma lesma que a tudo estraga com a sua baba, ou como um sapo repugnante ou coisas do tipo. Na ótica do autor que citas, S. Luís Maria estava muito mal informado..rs...


    "Ao contrário, Jesus convida-nos à auto-negação sem a auto-aversão. A auto-negação é simplesmente um meio de chegarmos à compreensão de que não precisamos trilhar um caminho próprio. Nossa felicidade não depende de conseguirmos o que queremos."

    Mais uma vez o termo "auto-aversão" é equívoco. Mas, pelo que ele diz, parece algo assim: "eu reconheço o meu valor e, portanto, tem valor também o que eu quero; porém, eu abandono isto." Este ato de "imolação da própria vontade" é, sem dúvida, o cerne do cristianismo. A auto-aversão, neste contexto do autor, parece algo como a "não aceitação de si mesmo". Ora, o que eu quis dizer por "desprezo de si mesmo" é totalmente diferente da "não aceitação de si mesmo". Esta última é tão somente um dos cumes do amor próprio disfarçado.

    O que se despreza a si mesmo, no sentido cristão, não vive a lamentar com a atenção posta em si mesmo; ao contrário, como escreveu Sta Teresa, "vive até de si tão descuidado" (outra expressão que pode ter o sentido distorcido, mas eu espero que não o seja).

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  13. "Auto-negação não é o mesmo que desprezo por si mesmo. Este indica que não temos nenhum valor e que, ainda que tivéssemos, deveríamos rejeitá-lo. A auto-negação declara que temos valor infinito e mostra-nos como perceber isso."

    Mais uma vez, questão de semântica. Mas o correto desprezo por si mesmo é algo que, como eu já falei, se verifica em todos os santos, sendo que muitos falam dele expressamente. O desprezo por algo não significa que este algo não tem valor.. Isto é uma afirmação forçada. O desprezo de um religioso pela vida matrimonial não significa que, aos olhos do religioso, a vida matrimonial não tem valor. Depois, como eu já esclareci na resposta a um comentário acima, é preciso reconhecer duas coisas:
    A alma é valiosíssima e, por isto, porque é a vontade de Deus e a realização da própria alma, buscamos salvá-la. Porém, os nossos pecados são repugnantes. A alma quando se vê tal qual é torna-se repugnante aos seus próprios olhos e detesta-se, ainda sabendo que a sua alma á valiosíssima. COmo eu já recomendei no texto, experimente ler S. Pe. Pio... S. João da Cruz diz que a alma em pecado mortal, por exemplo, é mais feia, para Deus, do que um cadáver em estado de putrefação, e não estou pondo palavras na boca do santo; ele diz isto mesmo. Como não sentir repugnância se a alma vê-se a si mesmo desta forma? Mais: Se a alma ama profundamente a Deus e, ao mesmo tempo, vê-se como alguém que, pela própria miséria, ofende ao seu Amado, da mesma forma, despreza-se... Sta Catarina de Sena, meu caro, é doutora da Igreja, conversava com Deus Pai, e detestava-se...

    "Jesus fez da capacidade de amar a nós mesmos o pré-requisito para demonstrar cuidado com o semelhante (Mateus 22.39)"
    Sobre isto, já escrevi num dos comentários.


    "O amor próprio e a auto-negação não entram em conflito."
    Mais uma vez, questão de semântica. Se amor próprio for o cuidado com a alma, realmente não entra. Mas se for a "ternura que sentes por ti mesmo" como escrevem os padres do deserto, então claro que entram, a não ser que a "auto-negação" seja mera estratégia da vaidade...

    Ok.. Deixe-me ir, então, ao segundo comentário.

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  14. "Pensamos que a auto-negação, o ódio a si mesmo, o desprezo associados ao amor-próprio são para serem levados tão a sério e de uma forma tão violenta."

    Meu caro, entendo o que dizes e deixa eu comentar isto.
    1- Sobre "levar a sério" (termo também ambíguo..rs.), a santidade deve sim ser levada a sério. O que não se leva a sério é porque não tem importância. A grande crise de fé que o mundo vive hoje é porque Deus não é levado a sério. Quando não O levamos a sério, zombamos dEle e, como dizia S. Paulo: "De Deus não se zomba". Não levar a sério, por exemplo, que um Deus morreu numa cruz, é algo terrível... Portanto, a santidade está na mais alta prioridade, sendo que a razão pela qual Deus nos sustenta na vida, como diz Sto Afonso, é para que sejamos santos. Se pomos qualquer coisa acima disto, nos alienamos.
    2- Sobre a violência. A violência é uma característica do amor. O "exagerado" do CAzuza nao chega aos pés da violência de amor dos místicos. S. João da Cruz, pedindo que Deus lhe tire a vida, pede que Ele não a corte suavemente, mas que a rasgue, porque o ímpeto brusco e concentrado é mais próprio do amor do que o movimento esparso. Depois, a cruz é um instrumento de grande violência, sendo que o próprio Cristo, que da Cruz fez Seu trono, chegou a dizer: "o Reino dos Céus é tomado à força, e só os violentos o conquistam". Bem... Escrevi estes dois pontos somente para esclarecer mais as coisas. Mas creio que o sentido que usas é diverso. E agora, trato dele.

    Pareces querer dizer que não devemos pôr a atenção de tal forma nisto que não vejamos nada mais. E isto eu concordo; a santidade não é qualquer forma de neurose, como o diria o sofista Freud. Por isto que é preciso ser bem orientado. As negações de si mesmo, como recomendas, não devem ser feitas como se só houvesse aquilo a fazer. Ao contrário, tudo deve ser feito com sobriedade, constância. E, de preferência, são as pequenas oportunidades, as pequenas negações, as renúncias mais ordinárias, o nosso instrumento de combate e lapidação.

    "Lembro-me de uma frase do irmão Roger que cativou-me desde o principio: "Deus não atormenta a consciência humana"...
    Quem é irmão ROger? (não o conheço mesmo...) Aqui haveria ainda muito por dizer, pois, em certos níveis de perfeição, Deus concede certas permissões ao inimigo para tentar a alma com alguns pensamentos indesejosos, a fim de que, repudiando tais, ela cresça na virtude. Sta Teresa D'Avila o diz.... Mas isto só num estado muito alto...

    E deixa eu voltar às minhas baixezas.. kk..
    De fato, Deus não atormenta a nossa consciência. Como eu falei, a santidade não é neurose...
    Sta Teresinha recomenda que a alma busque não se agitar por nada. S. João da Cruz diz: "Dá-te à tranquilidade".
    O que obceca é a soberba. O pobre olha apenas para Deus e O quer... E é tranquilo (de ordinário..rs.. há uma fase da vida espiritual em que a saldade da alma com relação ao Amado é tão intensa que, se Ele não acode, ela morreria de fato). Os padres do deserto escrevem que, se a alma se importuna porque algum projeto seu ou foi adiado ou se deu de forma diversa do que pretendia, é porque ela ainda ama a si mesmo.. Se for perfeitamente pobre, ficará em paz e contente.

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  15. "Desprezando a ti mesmo não amas o teu próximo, nem Jesus Cristo te chamaria porque Ele quer que tu sejas quem tu és e sem ódios."

    Aqui está a frase mais problemática de todo o teu post.
    O desprezo por si mesmo não impede de amar, ao contrário, liberta o amor. De todas as coisas, o que impede o amor é somente o orgulho ou "amor-próprio". Quando eu não amo alguém, isto se faz por algum motivo. Comumente, o motivo se dá por alguma forma de desprazer que o outro me causa. Ora, isto é amor próprio, é soberba da mais típica: Amar as coisas segundo elas nos dão ou não prazer. Quando, porém, eu me desprezo, não fico me perguntando o meu parecer a respeito disto ou daquilo, porque não me interessa. Eu pergunto o parecer de um outro, o de Deus. E aí eu passo a amar o que Ele ama e a detestar o que Ele detesta. É o que Nosso Senhor diz a São Francisco de Assis: "se me segues, o que amaste até agora te parecerá triste e amargo e o que desprezaste até hoje se tornará para ti suave e delicioso". O amor próprio colore tudo o que há segundo a afeição da própria afetividade. A isto, ele pinta de negro, porque não agrada; àquilo, pinta de branco, porque dá prazer... E então, nós temos um mundo que considera todo tipo de mortificação como práticas de tempos obscuros e, paralelamente, todas as apelações torpes da sensualidade são unanememente aclamadas... O mundo jaz sob o amor próprio.

    De fato, Jesus quer que o homem seja quem é. E como o homem descobre quem é? Amando a si mesmo? Não. Amando a Deus e procurando-se nEle. Não se trata de projeção, de suposição, mas de constatação. E dizes que Deus quer que o homem ame sem ódio, o que é um contra-senso. O amor por algo implica o ódio ao seu oposto na mesma proporção do amor. A Bíblia diz que Deus, Sumo Bem, ODEIA o pecado. A Bíblia ainda fala frequentemente de Jesus "cheio de ira"... Quem ama o bem, detesta o mal, assim como quem ama o mal, detesta o bem. Sta Catarina de Sena (de novo...rs) recomenda que tenhamos duas cruzes: uma do amor a Deus e uma do ódio ao mal.

    Para terminar, junto duas outras afirmações tuas:
    "Contempla os santos que amavam-se a si mesmos para amarem melhor a Deus e ao próximo"
    "o ódio por si mesmo nunca poder dar humildade. É uma questão de bom-senso."

    E eu só conto um episódio real que aconteceu com um santo. Todos admiravam-se da extrema santidade daquele homem, chamado Bento José Labré... Com frequência viam-no a adorar o Santíssimo em igrejas diversas ao mesmo tempo. Sim! Ele bilocava...
    Um dia, alguém perguntou a S. Bento José Labré: "Qual o teu segredo?"
    E ele respondeu: "É preciso ter três corações num só: um só para amar a Deus; um só para amar o irmão; e um só para desprezar a si mesmo".

    Pelo que dizes, S. Bento José Labré não tinha bom senso.. É... Deve ser a "Loucura da Cruz".

    Pax et Bonum.

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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