Li recentemente um artigo em PDF, de autoria da CNBB, sobre a música litúrgica que, para variar, vinha recheado de várias inverdades. Munido de afirmações contraditórias, provenientes da tentativa de conciliar o ensino tradicional da Igreja a este respeito - sobretudo tomando como referências o canto gregoriano e a polifonia - com as inovações pregadas por aquela má interpretação do último concílio, o artigo punha sua tônica na suposta necessidade da música litúrgica de, analogamente à Encarnação do Verbo, adaptar-se ao costume da comunidade em que se dá. Dizia que qualquer forma ou expressão musical pode ser usada para fins sagrados. Para não ser equívoco, transcrevo a expressão exata que vi lá: "toda linguagem musical é bem vinda, desde que seja expressão autêntica e genuína da assembléia". (Podem ler o artigo aqui: "canto e música na Liturgia pós vaticano II").
O texto argumentava ainda sobre o direito que a comunidade tem de cantar as músicas e falava ainda de um certo "balançar no mesmo rítmo" como referência à dança enquanto forma legítima de louvor a Deus. Tudo isto, obviamente, no contexto da Santa Missa.
Ao católico um pouco mais informado a este respeito, creio ser já suficiente notar a incongruência do discurso. Falarei brevemente a sobre o assunto...
O texto não é de todo ruim. E o problema é justamente este: por conter pontos positivos, corre-se o risco de um leitor mais crédulo generalizar tais pontos e tomar o todo por bom. Se a coisa fosse totalmente absurda, sequer haveria de ser lida, a não ser para divertimento.
Primeiramente, é totalmente falso admitir qualquer "linguagem musical" na Celebração da Santa Missa. Esta expressão globalizante, muito ao modo do discurso ideológico anti-exclusão, inclui, forçosamente, tanto as músicas dotadas de um senso artístico mais elevado, quanto as que ficam na mediocridade. O problema é que as nivela e, como bem sabemos, termina-se por optar pelo mais fácil, sob pretexto de ser mais acessível. E isto sim é uma mudança radical na compreensão litúrgica! Em todos os tempos, a música que servia o Santo Sacrifício era, de todas, a mais nobre. Hoje, porém, sob o prexto da ideologia referida, coloca-se tudo, desde que seja "expressão" da comunidade. Como sabemos, hoje costuma-se organizar celebrações para adeptos da cultura africana, para vaqueiros e, naturalmente, segundo o argumento proposto, estariam permitidas as expressões musicais que acompanham estas culturas. Neste sentido, há música pop, rock, sertanejo, sambas e batuques. Que não inventem, pelo menos, de querer "converter" os funkeiros com este método. Que os céus não permitam!
Um dos critérios que a Santa Igreja pede esteja munida a música litúrgica é a Universalidade. O que é isso? Universal é aquilo que engloba a totalidade de um dado conjunto. Quando se pede que a música seja universal, isto significa que, independentemente do local ou cultura, os que a ouvirem não devem ter uma má impressão. O pressuposto disso é que, primeiramente, há algo que liga os homens, algo mais fundamental do que as contingências geográficas. E outra razão para tal, é que a música busca, primeiramente, a glória de Deus, e não meramente o entretenimento humano. Como se sabe, não podemos buscar esta glória de Deus de qualquer forma. Daí que, no referido artigo, fica uma contradição patente: como, por exemplo, defender o gregoriano e a polifonia como um referencial e, ao mesmo tempo, afirmar que qualquer forma musical é bem vinda e que a música deve adaptar-se aos lugares onde acontece?
Um obediente ingênuo cairia aí no regionalismo. Aqui no nordeste, por exemplo, lá estaria a cantar seus forrós em pleno Sacrifício de Cristo. E isto, infelizmente, é muito frequente. Mas está errado. A música litúrgica deve estar permeada do "sentir comum da Igreja" e isto não se faz a não ser que se mergulhe na riquíssima tradição litúrgica da Santa Igreja. A universalidade, portanto, faz referência à potência universal dos homens com relação ao catolicismo.
Outra coisa de falso que se diz, e que já foi excessivamente reforçado pelas autoridades em música litúrgica, embora solenemente ignorado pelos bagunceiros cebianos, é que a Santa Missa não é lugar, nem de bater palmas, nem muito menos de "se balançar no mesmo ritmo". E por que isto? Por que ela não é festa, é Sacrifício!
Espanta-me que um documento a respeito da música litúrgica não traga, sequer uma vez, uma definição da Santa Missa como sendo Sacrifício. Fala-se de "alegria escatológica", mas não de Sacrifício. Isto é estranho, sobretudo se consideramos que esta é a essência da Missa! Esta bagunça toda, meus caros, nos mostra que, por trás das inovações non sense, parece estar a descrença no realismo do Mistério.
A coisa toda é muito séria e certos pontos são mais complexos. O artigo referido, porém, parece brincar com certos conceitos. Banaliza tudo com a típica ambiguidade de sempre...
Que Deus nos ajude.
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Ah, tenho postado pouco porque estou preocupado com o jovem Vui Kong. Até sexta feira, estarei empenhado em recrutar assinaturas para tentar salvar o rapaz. Aproveito e refaço o meu apelo. Por favor, assinem e divulguem.
Fábio.
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